Conforto

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-Precisamos de um sofá, e uma rack para colocar a televisão.

-Precisamos também de uma mesa para a gente poder comer. E o fogão. Geladeira chega semana que vem, mainha ligou para avisar.

- O que você acha desse? –Apontei para um sofá vermelho que se encontrava no fundo da loja.

-É muito pequeno Ana. Ai mal cabe tu e o violão. Tem que ser grande Aninha, tem que caber este tanto de amor que habita em nós.

-E esse aqui?

-Não gostei da cor. Não vai ficar legal lá.

-E esse? –Apontei para outro.

-É muito caro.

-E esse?

-Posso ajudar as moças? –Uma simpática vendedora nos abordou sorrindo.

-A gente precisa de um sofá. Vitoria quer grande e eu com um preço bom.

-A típico de casal a indecisão do começo.

-A gente não é casal. Só amigas. –Tratei de me retratar e Vitoria me olhou atravessado.

-Eu tenho um ótimo que está com um pequeno defeito. Por ter isso a gente revende com um valor bom. Esse marrom aqui.

Olhei o sofá e parecia se encaixar em todos os padrões pré-estipulados por nós. Olhei Vitoria de canto que sorriu para mim, contente.

-Vamos levar.

**

-Cor de marte ficou pronta.

-Posso ouvir?

-Pode. Alias quero gravar um pequeno trecho dela para colocar no instagram. E vou mandar ela inteira para o Tiago ver se ele quer aparar.

Caminhei até o meu quarto, voltando com o pequeno caderno em mãos e entreguei a Vitoria. Peguei o violão encostado na parede e sentei junto dela no sofá.

-Vou tocar e quando eu te olhar você entra.

-OK.

Dedilhei o violão introduzindo e cantando a primeira estrofe baixinho. Olhei em sua direção e fiquei maravilhada em como sua voz rouca se encaixou perfeitamente na musica.

Me beija
Que eu gosto da tua textura
Do teu gosto frutado
Sorriso colado
O compasso acertado

Foi inevitável pensar no beijo. No gosto de morango da boca. Da textura macia. Da língua faminta procurando desesperadamente a minha. Suspirei terminando a musica e olhei para Vitoria.

-O que você achou?

-Acho que casou bem. A divisão também ficou confortável para cantar. – Sorri pequeno.

-Vamos sair para comer? To que não me aguento de fome.

-Vamos.

-Olha aqui pra mim. –Vitoria levantou o rosto em minha direção e eu aproveitei para tirar uma foto.

-Eita menina! Deixa eu ver! -Entreguei o celular rindo da cara de assustada dela.

-Ta linda.

-Nem to!

-Posta ela no instagram.

-Mais Ana ficou horrivi.

-Não ficou. Posta que eu to mandando.

-Daqui esse celular. –Observei ela entrar na conta e postar. Ela riu me mostrando o celular com a legenda sugestiva.

-Vitoria.

-Mais foi tu que mandou!

**

-Esse batom ficou bom?

-Onde você vai desse jeito?

-Beber com o pessoal do teatro.

A observei colocar a jaqueta jeans por cima do vestido preto. As botas de cano longo negras realçando a beleza das pernas torneadas. Passou batom escuro, desenhando os lábios, e mexeu nos cabelos tentando dar volume. Meu pecado. A luta que eu travava diariamente dentro de mim, vinha esgotando o meu psicológico. As vezes eu só queria me afastar ou me permitir sentir. Borrifou o perfume de caramelo no pescoço e nos pulsos, enquanto balançava suavemente o quadril enquanto murmurava baixinho uma musica qualquer.

-E tu pra onde vai?

-Vou ajudar Letícia com a mudança. Ela ta meio perdida por aqui.

-Bom vou indo. Se precisar tu me liga. Boa noite pra tu com tua nega.

-Ei Vi. –Ela virou o corpo em minha direção.

-Divirta-se.

-Eu vou. –O Sorriso morreu nos lábios vermelhos.

**

Adentrei o quarto vendo o corpo enrolados nas cobertas.

-Ei Vi. – Chamei baixinho. – A gente tem que ir, vamos acabar atrasadas, e a fotografa já confirmou o ensaio.

-Não Ninha. Mais cinco minutinhos.

-Não. Bora se mexer Falcão. É nosso primeiro ensaio. Anda, anda.

Vitoria levantou a contra gosto. Se vestiu de forma apressada e saímos rumo a estação de metro. Hemi acenou feliz para nós e quando chegamos perto recebemos abraços calorosos.

-Vocês combinaram?

-O que? –Perguntei confusa.

-As duas estão de preto e branco, e ainda de botinhas. –Ri alto.

-É meio que nossa uniforme.

-Olha eu quero muito fazer um ensaio intimista de vocês. Quero mostrar a cumplicidade e a familiaridade existente nessa dupla.

-Duo – Vitoria corrigiu suavemente.

-Gostei.

-Vou dar um toque sobre posicionamento, e luz. Porem vocês são livres para andar por ai.

-O que a gente faz?

-Não sei.

A sessão de fotos foi uma tortura. Uma completa tortura. Eu mal conseguia respirar. Vitoria estava tão perto de mim, que a situação estava insustentável. O ar a nossa volta estalava cada vez que sua mão me tocava. Ela me olhava com o sorriso de mel. Os cabelos brilhando na densa luz.

-Eu Ninha, deixa eu arrumar aqui - As mãos tocaram meu cabelo. Os olhos meigos procurando os meus. O abraço sem jeito. A pele macia. O perfume envolvente. O cabelo roçando meus ombros. A risada alta. Eu me sentia dormente. Quando por fim Hemille se deu por satisfeita, eu estava exausta. A energia drenada na força que eu fazia para me conter.

-Vamos pra casa?

-Não. Eu marquei de encontrar Letícia na nova faculdade. Ela já me ligou.

-OK. Vou passar no mercado antes. Quer que eu traga algo?

-Vinho.

-OK. Até Ninha. – Sua mão encontrou a minha e eu estremeci.

Eu precisava de Letícia.

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