Sonho

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Eu precisava conversar com Vitoria.

Nossa amizade crescia cada vez mais durante as férias, fazendo com que eu gastasse cada vez mais tempo pensando nela. O sorriso iluminava os olhos esverdeados, a risada estonteante, o jeito palhaço que me fazia rir cada vez mais. As coisas estavam chegando ao meu limite.

-Vitoria queria muito conversar com você.

-Ninha hoje eu marquei de ir com mainha na casa do seu Camilo.

-Não precisa ser hoje. Mais me promete que vai arrumar um tempo para que a gente possa conversar?

-Aninha, depois de amanhã já é véspera de Natal. Tem como esperar um pouquinho mais? Casa vai estar cheia de gente e Mainha vai ficar no meu pé.

- Pode, mais eu quero que isso aconteça antes de eu voltar para Araguari e você para Sampa.

-OK. Você vem passar o Ano novo aqui em casa como a gente tinha combinado?

-Vou. Já falei com a minha mãe. Ela sempre vira orando na Igreja e não pareceu se importar de eu não ir esse ano. Luana ficou possessa que ela vai ter que ir.

-Já avisei que você vai dormir por aqui. Então traz um pijama.

-Tá. Preciso desligar. Dorme com Deus.

-Tu também meu anjo.

**

-Três, dois, um! Feliz Ano Novo!

-Feliz Ano novo Ninha! –Senti suas mãos em meus ombros me puxando para um abraço. Senti seu cheiro de champanhe barato, o rosto frio de suor, a boca molhada beijando meu rosto. Comecei a pular com ela em meus braços. A euforia de estar com ela nessa data tão importante tomando conta do meu corpo.

-Vi, que 2015 seja o nosso Ano.

-Vai ser.

**

-Deita ai Ana.

-Não, eu me arranjo no chão.

-Anda logo mulher que eu ainda to meio beba.

-Vi...

-Anda Ana.

Deitei na cama de casal, enquanto eu a via andar pelo quarto ligando o ar condicionado. As pernas brancas nuas, o corpo coberto somente por uma grande camiseta rosa. Ela ficou na ponta dos pés para pegar o edredom no guarda roupa, a camiseta subindo e mostrando a curva da calcinha branca. Senti uma fisgada no meu baixo ventre. Inferno. Essa noite ia ser um inferno.

Ela finalmente adentrou o edredom, virando as costas para mim. Suspirei. Senti seus lábios em minha testa.

-Dorme com Deus.

Acordei e o quarto ainda estava escuro. Vitoria tinha se mexido durante a noite, uma das pernas estava entre as minhas, a mão enroscada em meus cabelos. A respiração batendo em minha boca. Fixei meus olhos na boca rosada, olhando seu rosto bem de perto. Eu queria fazer algo a respeito mais tinha muito medo de acorda-la, ao mesmo tempo em que queria agir, pois talvez essa fosse à única oportunidade. Apoiei minhas mãos na curva do seu quadril, meu dedo indicador contornando o elástico da sua calcinha. Rocei suavemente minha boca na dela, sentindo a maciez dos lábios bem desenhados. Meu anjo. Cada pedacinho perfeitamente esculpido. Ela se mexeu levemente na cama e eu retirei as minhas mãos, tentando relaxar o corpo. Vitoria virou de bruços e eu senti falta do calor do seu corpo. Levei minhas mãos até meu rosto, esfregando suavemente a boca e sentindo ainda o toque dela em mim. Sorri feliz por ter finalmente seus lábios durante alguns milésimos de segundo, o beijo roubado embalando uma noite de sonhos felizes.

**

-Ana, é melhor tu vir para cá.

-Ta louca Vitoria, eu to no centro com a minha mãe.

-É serio Ana, é coisa urgente!

-Fala mulher o que é!

-Só vem! Vem AGORA.

-To indo, to indo.

Ela abriu a porta sorrindo de forma luminosa.

-O que foi, quem morreu?

Ela puxou minha mão, me arrastando até o quarto.

-Olha isso Ana! –Seu facebook estava aberto em uma pagina qualquer, e no canto a caixa de mensagens sinalizando uma conversa. –lembra do vídeo que nós mandamos para o empresário do Tiago? Ele respondeu! – Eu a empurrei bruscamente, sentando no pequeno espaço que ela abriu na cadeira, e reli toda a conversa.

-Vitoria de Deus! Ele quer que a gente grave um EP! Um EP! O que é um EP?

-Ana eu nem sei o que responder! Ele perguntou das nossas pretensões artísticas e eu não tenho a mínima noção do que é isso.

-Eu também não! Vamos procurar no Google.

-E o que a gente vai responder?

-Que vamos claro!

-Tu nem queria mandar o vídeo. –Olhei atravessado para ela. –Tá mulher já entendi, borá responder sobre a proposta. Ele passou o e-mail da produtora dele!

Eu estava surtando. Não sabia se aquilo era real, mal cabia em mim de tanta ansiedade.

-Lê vê se ficou bom.

-Antes a gente tem que falar com os nossos pais.

-Serio?

-Sim.

-Mais isso pode não dar em nada.

-Eu sei, mais a produtora fica em São Paulo, a gente não pode decidir assim e ir.

-O que a gente faz? Tu conversa com Dona Isabel e eu vou para casa falar com os meus pais. Deixa esse e-mail salvo e se tudo correr bem, a gente envia ele amanhã ou escreve outro agradecendo.

-Ta bom. –Beijei seu pescoço me dirigindo a saída do quarto, já pensando nas barreiras que eu ia enfrentar em casa.

-Ana. –Olhei para trás- Quero que você sabia que eu estou com você. Independente da sua decisão. Se for para ser, a gente vai ser junto.

-Idem Vitoria. Te amo. – Seu sorriso ficou ainda maior. Era a primeira vez que eu dizia que a amava.

-Também te amo. Espero você.

Em casa foi uma confusão. Muita conversa, descrença. Meus pais achavam uma loucura. Eu só conseguia imaginar que meu sonho, estava batendo a minha porta.

-Monica se isso é balela?

-Vai com elas.

-Eu vou. Ok Ana a gente deixa você ir para São Paulo ver esse negocio ai de musica. Mais eu vou acompanhar vocês duas.

-Tudo bem pai. Vou avisar a Vitoria! –Corri em direção ao meu celular, disquei seu numero com o coração palpitando.

-Oi mozão.

-Vi! arruma as malas por que nos vamos para São Paulo.

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