Mais não foi como eu imaginava...
Flavia era uma pessoa muito alto astral, topava todas as loucuras de Barbada, mais quase não falava de Vitoria. Quando eu tentava falar sobre isso, ela respondia sem alongar a conversa e por medo dela desconfiar, resolvi não insistir.
Ficamos amigas e eu desencanei de Vitoria. Em partes. Meu olhar ainda a seguia durante os intervalos e eu sempre sorria quando a via gargalhar. Mais tentei seguir a vida e aproveitei a companhia de Flavia.
Nesse tempo eu terminei com Thiago e logo após conheci Paulo. Ele era encantador, charmoso, carinhoso. Tudo que eu tinha pedido para ter em um homem. Começamos a ficar e eu estava curtindo essa fase despreocupada da vida. Evitava demonstrar no colégio, mais em qualquer oportunidade eu corria para ver ele.
Quando fizemos quatro meses juntos eu tive uma decepção. Descobri que o cara carinhoso não passava de um babaca traiçoeiro. Quando descobri que ele namorava outra pessoa, e que o discurso vamos deixar só entre nós, era simplesmente para ninguém descobrir sobre a traição, eu agi por impulso. Brigamos feio no meio da escola. Todo mundo ficou sabendo o quanto ele não valia nada. A até então namorada conheceu quem ele realmente era. Foi o maior bafafá na época. Eu fiquei envergonhada, evitava andar muito pelo colégio, passava os intervalos com Barbara em um canto. Depois de um tempo a namorada o perdoou e as pessoas resolveram para de me encher sobre o assunto.
Muitas vezes eu sonhava com Vitoria, acho que o desejo mascarado de descaso fazia com que meu subconsciente a trouxesse sempre à tona nos meus momentos de sono.
E foi um sonho que me fez voltar a pensar compulsivamente nela.
" Ela caminhava na praia.
A área molhada marcando suas pegadas, a pele branca reluzindo ao sol do fim de tarde. Os cabelos presos com flores brancas contrastavam com os olhos amendoados. O vestido branco até os pés flutuava suavemente em torno dela. Ela parecia um anjo. Ela olhou em minha direção e o som da sua risada viajou até mim.
-Vem Ana. Mergulha comigo.
Foi caminhando para dentro do mar. O vestido colando ao corpo me deixando entrever a pele por baixo."
Depois dessa madrugada eu não conseguia mais parar de pensar nela.
**
-Flavia, tava pensando em ir naquele pagode que tem lá pertinho do centro. Você não topa ir? Barbara resolveu chamar uma galera, e se você quiser chamar mais alguém tá liberado.
Era o primeiro passo rumo ao meu tormento.
***
Eu já sabia o quanto ela era linda e cativante.
Mais ao ver seu corpo se mexendo com a musica que tocava de fundo, o vestido preto se enroscando em suas pernas, os cabelos balançando quando eram jogados para trás e sua risada que parecia brotar do fundo do peito, abalou o meu mundo.
Lembro bem do quanto minha barriga afundou ao vê-la entrando pela porta do local. Por reflexo me escondi atrás da Barbara e minha amiga me olhou atravessado.
-Ana, Bab! Aqui! – Flavia acenava em nossa direção.
-Vamos lá Ana.
-Bab não to preparada.
-Para com isso mulher, anda logo!
Barbara me arrastou até onde as meninas estavam junto com um casal de amigos. Flavia nos apresentou, e Vitoria abaixou encostando o rosto no meu. Senti o perfume doce que emanava da pele macia.
-Te conheço mulher. –Eu ri nervosa por ela saber quem eu era. - Tu não é filha de dona Monica?
-Sim. –Respondi sorrindo. Vitoria retribuiu meu sorriso, os lábios pintados de vermelho sangue.
Ouvi o vocalista introduzir a musica, e meu coração embalou junto, a letra decifrando exatamente os meus sentimentos naquele momento.
Quando o canto da sereia
Reluziu no seu olhar
Acertou na minha veia
Conseguiu me enfeitiçar
Tem veneno o seu perfume
Que me faz o seu refém
Seu sorriso tem um lume
Que nenhuma estrela tem
Tô com medo desse doce
Tô comendo em sua mão
Nunca imaginei que fosse
Mergulhar na tentação
Não conseguia parar de olha-la. Meus olhos seguiam o balançar dos seus quadris embalados pela melodia. Acordei do sonho com Flavia cochichando em minha orelha.
-Aquele ali é o Julio?
Olhei o menino alto conversando com outros amigos. Ele era bonito, os cabelos rebeldes, olhos grandes e expressivos, sorriso aberto.
-É sim. Ele era do segundo ano certo?
-Sim. Vitoria é caidinha por ele. Mais ele não é de dar bola não.
Minha boca secou e eu não conseguia ouvir mais nada. Parecia que existia um eco em minha cabeça.
-Ana, tu não conhece? Não tem as manhas de falar com ele para ver se rola com a Vi?
-Claro, eu falo sim. Primeiro eu vou ao banheiro ok?
-Valeu amiga, se rolar ela vai ficar muito da feliz.
Andei até o banheiro feminino sem enxergar nada no meu caminho, a cabeça quente. Pedi desculpas a um par de pessoas por esbarrar nelas durante o trajeto. Entrei no banheiro, e me olhei no espelho. Olhei nos meus olhos caídos, miúdos e vermelhos pelo choro contido. E agora o que eu faço? Lavei o rosto, respirei fundo e naquele momento tomei a minha decisão. Eu tinha definitivamente desistido de Vitoria. Voltei até o salão localizei Julio, puxei papo, falando sobre conhecidos em comum, e como quem não quer nada introduzi Vitoria no assunto.
-Claro que eu quero ficar com ela. Ela é linda.
-Vitoria! –Flavia e ela vieram caminhando em minha direção. Pisquei para Flavia que entendeu o recado. Dei a desculpa que precisava ir embora e me despedi deles. Peguei Barbara pelo braço e sai daquele lugar. Eu não conseguia respirar. O ciúme me corroendo. No caminho contei para a Barbara que me olhou com olhos de dó.
-Amiga tu vai superar. Vitoria não é a primeira garota que tu se apaixona.
-Eu sei, mais achei que podia ser mais que uma ficada entende? Ela me fascina de uma forma estranha Barb. Mais esquece. Você não pode falar que eu não tentei.
-É eu sei. A gente tá bem próxima da Flavia e por consequência acho que vocês vão acabar se esbarrando mais.
-O fim do ano está chegando Barb. Estou só esperando os resultados dos vestibulares saírem. É provável que eu nem esteja mais aqui para conviver tanto com ela.
-É Ana, então borá tomar um litrão lá em casa e afogar as magoas.
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Depois de Você
FanfictionFreud dizia que Nós nunca somos tão desamparadamente infelizes como quando perdemos um amor. Eu podia dizer mais. Perder Vitoria foi como ser queimada viva. Era como ser engolfada pelo mar. Mal conseguia respirar , nunca senti tamanha dor na vida...