Chuva

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 -Lê, essa é a Vitoria. –Puxei Letícia pela mão trazendo ela para perto de Vitoria.

O apartamento estava cheio. Maria tinha organizado uma social para comemorar o aniversario do namorado. A pequena pista improvisada na casa abarrotada de corpos bêbados dançando a musica que tocava no pequeno som. Arrastei Letícia para a cozinha enquanto Vitoria se entretinha em um conversa com Maria.

-Preciso de uma cerveja gelada. –Letícia me olhou de canto de olho, rindo de uma piada interna.

-O que foi?

-Nada. Me dá uma dose dessa tequila.

Gritei enquanto os versos de uma musica qualquer enchiam meu peito. Letícia dançava na minha frente, os cabelos loiros sendo jogados para os lados. O corpo grudou no meu. A boca procurando a minha. Deixei minha mão agarrar sua nuca, enquanto sua língua investia contra a minha. Senti uma sensação estranha e abri os olhos. Vitoria me encarava do outro lado da sala. O rosto meio sombreado impedindo que eu visse os detalhes. Seu olhar grudou no meu, apertei os cabelos de Letícia em minhas mãos, enquanto beijava ela com mais vontade. Em nenhum momento seus olhos desgrudaram dos meus. Letícia jogou a cabeça para trás, sem fôlego.

-Nossa Ana. –Seus dentes encontraram meu pescoço. O fogo me consumindo. Olhei novamente para o canto onde Vitoria estava e não a localizei mais. Segurei a mão de Letícia levando-a em direção ao meu quarto. Tranquei a porta, sentindo a presença de Vitoria ali.

Acordei olhando em volta e senti o corpo nu de Leticia encostado em minha costas, levantei suavemente o braço que pesava sobre a minha cintura, e andei em direção a cozinha vestindo a roupa que eu usava na noite anterior. Caminhei descalça pela casa, adentrando a cozinha na intenção de fazer café para amenizar a ressaca coletiva.

Vitoria me olhava do outro lado da cozinha. Os cabelos revoltos e os olhos pesados de sono. A blusa rosa se fundindo a pele clara.

-Ana. A gente pode conversar?

Observei que ela tinha nas mãos um morango meio mordido. Suspirei. Ia ser difícil passar por esse momento.

-Ontem eu.. eu não sei..fiquei mexida com a imagem de você beijando a Letícia. Não sei explicar, senti meu peito pequeno, pesado, me sufocando. Ao mesmo tempo que senti vontade de ser ela. De sentir as mesmas sensações, de sentir seu gosto, de poder te segurar nos braços,poder tocar você com liberdade.

-Eu te vi, Vitoria. –Ela me olhou confusa, e após alguns segundos ela entendeu. Dentro dos seus olhos a confusão se tornando constrangimento. –Eu vi como tu sentiu isso. Como você quis estar ali. Eu tenho desejado você a muito tempo. E tenho tentado me controlar. Então vamos parar por aqui. Eu to segura agora. Tenho alguém na minha vida.

-Ninha. –Vi seus olhos encontrarem o pés. O morango mordido caindo no chão. –Eu quero. Eu te pedi um tempo para pensar. E foi tempo suficiente para eu também sentir.

-Não brinca comigo Vitoria. Se eu deixar essa caixa de pandora abrir, não tenho mais como colocar meus sentimento de novo lá dentro. Vai levar tudo de mim. Não faz isso, deixa como está. A gente tem convivido em paz. Encontrei alguém que tem me feito feliz, que tem sido um balsamo na minha alma ferida.

-Ana o que eu sentindo aqui é real. Eu.. to tão perdida. Me deixa viver isso com você. Deixa eu te mostrar que eu quero. Por favor. Esquece tudo um pouco. –Olhei dentro dos seus olhos, vendo a ressaca pós tempestade. Os olhos límpidos transbordando de um sentimento que eu até então nunca tinha visto.

Ela estendeu uma das mãos em minha direção. As palmas rosadas me convidando. Segurei, apertando seus dedos, e por um momento parei de pensar e me preocupei somente em sentir. Caminhei até ela, respirando fundo.

Seus dedos passearam pelas minhas bochechas suavemente, os olhos acompanhando o caminho de seus dedos. Sua mão desceu pelo meu pescoço, contornando minha nuca. Ela beijou meu rosto, esfregando o nariz nos meus cabelos. Seus dedos desceram pela minha clavícula, tremi sentindo uma enxurrada de emoções. Seus dedos apoiaram meu queixo, levantando meu rosto em sua direção.

-Se deixa sentir. – Sussurrou baixinho.

Olhei dentro de seus olhos me afogando no grande lago verde que eram eles. Senti sua respiração bater no meu nariz, a delicadeza dos dedos acarinhando minhas bochechas. Então finalmente seus lábios friccionaram os meus. Prendi a respiração em quando a boca macia sugava devagar meu lábio inferior, testando.

-Ninha.

Apoiei as mãos em sua cintura e esperei.

Sua boca voltou a minha, dessa vez o lábio superior. Ela afastou o rosto do meu, me encarando. Os olhos negros. Deixei o ar sai dos meus pulmões. Procurei suas mãos, apoiadas na pia atrás dela e trouxe para o meu pescoço. Observei os lábios bem desenhados abrirem um sorriso. Sua boca tomou a minha, dessa vez com mais fome. A língua macia acariciando a minha suavemente, o gosto doce de fruta madura. Subi as mãos enredando em seus cabelos, Me permitindo agir. Minha língua investiu contra a sua, seu gemido sendo engolido pela minha boca. Sua mão desceu pelas minhas costas, me apertando contra o seu corpo. Suguei sua língua, sentindo o sabor de morango me intoxicando.

Ela jogou a cabeça para trás respirando fundo e me olhando.

-Vi.

-Shiiu. Não estraga esse momento. Palavras não são necessárias agora.

Suas mãos tocaram meu pescoço a boca macia procurando a minha dessa vez com mais confiança. Eu esperei tanto por isso que mal podia acreditar que depois de tanto tempo, estava finalmente acontecendo. Vitoria puxou os cabelos curtos da minha nuca, o quadril batendo no meu, meu baixo ventre tremendo de vontade. Abracei seu corpo como eu pude e me deixei afogar no mar.

-É diferente beijar você.

-É?

-Sua boca é macia, doce, pequena.

-Você tem gosto de fruta madura. Da minha bala preferida.

- A bala que você me deu quando a gente se conheceu.

-Sim- Sorri estreitando os olhos e lembrando vagamente daquele dia. Ela beijou meus lábios e eu ouvi o barulho vindo do meu quarto. De repente me lembrei aonde eu estava, e que Letícia estava a poucos metros de nós. Me desesperei , sentindo a realidade se abater sobre mim.

-Vi, a gente não pode fazer isso.

-Ana...

-Não. Eu te dei todas as oportunidades. Você não pode achar que as coisas vão acontecer do jeito que você quer. Eu tenho alguém hoje que me faz feliz. Acho injusto ela estar abrindo mão de muita coisa por mim e eu aqui fazendo isso com ela tão perto. A gente teve tempo, oportunidade, eu esperei , me conformei e não posso agora fazer isso.

-Ana, a gente se gosta.

-Eu amo você Vitoria. Eu amo. Isso nunca vai passar, eu sei. Sei que ainda vou pensar em você por muito tempo. Mais agora não é hora. Não é a nossa hora. E eu espero que você respeite isso.

Os olhos terrosos me fitaram demoradamente, enquanto ela respirava fundo.

-Tudo bem. Você sempre vai ser parte minha. E eu vou estar aqui ainda por você.

-Obrigada. – Sai da cozinha sem olhar para trás, com o peito oco de vazio.

Pela primeira vez, eu estava fazendo a coisa certa, por nós.

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