Rosa

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Dois anos depois:


Estava sentada na porta do colégio esperando que meu pai viesse me buscar. Rafael e Eryka ainda não tinham saído e eu aguardava impaciente por eles para poder ir embora. Meu desenho preferido iria começar e eu sabia que mamãe tinha feito lasanha para o almoço.

-Oi! –Vitoria apareceu no meu campo de visão. O cabelo loiro refletindo a luz do sol.

-Oi.- Respondi mal humorada.

-Tu visse Tatinha por ai?

-Quem é essa?

-Minha irmã.

-Não.

-Olha ela. Tatinha! –Ela gritou ao localizar a irmã indo em outra direção.

-Tava te procurando para ir embora. Mãe vai ficar brava se a gente se atrasar. E você quem é?- Levantei o rosto para irmã de Vitoria notando a semelhança entre elas.

-Essa é Ana, filha da Dona Monica, aquela que parece índia.

-Oi Ana, borá Vitoria.

-Tchau Ana!

Barbara minha melhor amiga me encontrou ainda sentada no mesmo lugar.

-Seu irmão tá lá na quadra de procurando. Por que você estava conversando com aquela piveta? Ela é do terceiro ano!

-Ela que veio falar comigo! Vamô embora que eu to com fome.


**


Seis anos mais tarde:


Notei Vitoria quando ela entrava na quadra para o jogo de futsal que iria acontecer depois do período de aulas.

Os cabelos outrora cacheados, hoje caiam lisos em volta do rosto maquiado. Ela estava tão bonita. Atrás dela vinha Flavia, rindo sobre algo que um menino falava. Vitoria sentou na mesma arquibancada que eu e Barbara, logo nos primeiros bancos, enquanto eu sentava nos últimos junto com os veteranos.

Ela virou o rosto para Flavia rindo alto da piada contada pela amiga, e aproximou o rosto cochichando algo e apontando para um menino sentado perto delas. Os lábios desenhados com batom rosa claro se estendendo. Notei que a camiseta do uniforme antes larga agora se ajustava perfeitamente em seu corpo, delineando a cintura fina.

Fixei meu olhar nela, e senti um calor subindo pelas pernas.

-Ana que cê tanto olha.

-Nada Barbara.

-Tu tá de olho na loirinha né? Irmã da Sabra aquela ali.

-Não to de olho em ninguém menina besta. To prestando atenção no jogo só.

-Tu pensa que me engana né. Te conheço muito bem.- Falou baixo no meu ouvido- Se quiser te apresento a Flavia, ela é melhor amiga da Vitoria. Quem sabe ela não te ajuda.

-Para com as suas doidices Barbara. – Fechei a cara e dessa vez ela deixou o assunto morrer. Fiz esforço para não olhar para Vitoria o resto da partida. Quando acabou o jogo desci em direção à saída e vi Thiago vindo em minha direção sacudindo a camiseta molhada de suor. 

-Ana! Você não quer ir comigo lá na lanchonete do seu Paulo? O time todo vai para lá comemorar que a gente venceu. –Sorri para ele e vi Barbara vindo em minha direção.

– Quero sim Thiago, eu te encontro lá ok? Vou passar em casa para pegar a minha carteira.

-OK.

-Se vai aonde com o Thiago posso saber?

-Na lanchonete do seu Paulo. – Ela me olhou atravessado.

-Ana Clara, Ana Clara.

Passei em casa, troquei rapidamente de roupa e peguei minha carteira indo ao encontro da praça onde ficava a maioria dos comércios. Avistei Thiago que ao me ver acenou.

-Oi. – O cumprimentei com um beijo no rosto.

Ficamos conversando sentados na mesa com o resto do time, falando besteira e rindo de piadas bobas. Já tinha escurecido e eu verifiquei as horas no relógio em cima do balcão.

-Ei, tenho que ir. Já está ficando tarde e minha mãe me deu hora para voltar.

-Eu te levo até sua casa.

-Serio?

-Sim. Vou só avisar o Daniel e a gente vai.

Fomos conversando pelo caminho sobre filmes que tínhamos assistido nos últimos dias e rindo do episodio que tinha acontecido com ele, quando viajou com o colégio para um campeonato. Senti seus dedos resvalarem pelos meus e sorri envergonhada.

-Tá entregue.

-Valeu por ter vindo comigo até aqui.

-Ana, eu sempre te achei muito bonita sabia? Seus olhos, seu jeito meigo e envergonhado. Só não sabia como falar com você. – Senti minhas bochechas queimarem e agradeci por estar escuro e ele não poder ver meu rosto. Suas mãos subiram em direção ao meu cabelo e ele acarinhou minha bochecha. Trouxe meu rosto suavemente em direção ao seu. Senti seus lábios mornos encostarem-se aos meu e meu coração deu um salto dentro do meu peito.

-Dorme bem. Sonha comigo. –Sorri boba e me despedi beijando seus lábios mais uma vez.

Entrei em casa e não conseguia tirar o sorriso do rosto.

-Quem era aquele no portão? –Luana surgiu vinda da cozinha.

-Ninguém garota, se toca. – Subi para o meu quarto e tranquei a porta. Me joguei na cama sentindo uma felicidade inexplicável. Enquanto pensava no beijo, uma outra memória me veio a cabeça. 


O Sorriso dos lábios cor de rosa.

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