O corpo vestido apenas pela peça intima reluziu na luz daquele fim de tarde. O céu se tornando alaranjado banhando a sua musa. Vitoria namorava tanto o céu que vez ou outra eu achava que ela era correspondida.
Não tinha alguém no mundo que não amasse Vitoria. Seu jeito sereno e alegre conquistava todo mundo. Aos mesmo tempo quase ninguém conhecia o outro lado, arredio, provocante, seu jeito de despir com os olhos. Tudo dentro do universo que era ela, era colorido, sincero, cru. Galaxia de se perder, mergulhar. Rua sem saída, viagem sem destino, sem linha. Ao mesmo tempo que ela era incógnita, ela era céu aberto sem uma unica nuvem para atrapalhar.
O sol! o sol amava ela. Amava se perder em sua pele, seguir seus passos, refletir nos cabelos, fazer da sua luz, farol para ela. Eu me sentia pequena, escura, como a lua que só se destaca quando é banhada pela luz do sol. Eramos opostos, complemento, sinergia. Eramos tudo de uma forma louca, completa. Olhando ela ali, parada. As pernas grossas, a cintura fina e a pequena marca na barriga, só sabia sentir desespero em não ter mais ela para mim. Parte de mim. Da minha rotina. Ela era para mim como o sol é para a lua. Sem ela eu era apenas um astro apagado.
-Diz Ninha, o que tu quer conversar?
-Vi, me diz o que a noite que passamos juntas significou para você.
-Oxe Ninha. Foi lindo. De ser, de sentir, de amar e viver. Me mostrar para você de um jeito diferente. Tu viu muito mais que as formas do meu corpo. Tu me sentiu, provou, penetrou. Me abri para tu de alma.
-Não Vitoria, preciso que tu seja objetiva. Quero que tu defina o que isso significou para você. Mais que sexo, mais que tesão.
-Num sei Ninha. Eu me descobri aquela noite, ao mesmo tempo que descobria você.
-Então foi isso? Uma experiência? Você queria saber como era transar com uma mulher?
Seus olhos se tornaram curiosos, ela virou a cabeça em direção a janela. Ficou em silencio alguns segundos e os olhos cor de jade voltaram para mim.
-Não. Foi bem mais que isso Ana. Tu não é só uma mulher qualquer. Já disse para tu, que o sentimento que tu disse guardar por mim também floresceu no meu coração. Eu queria ter você. Não era qualquer pessoa. Era tu.
-E tu me quer para você?
-Eu nunca quis ter posse de nada Ana. Não quero ser tua dona e nem que tu seja a minha. Quero ser acolhimento, redenção, rede, cafuné, aguá que mata tua sede, teu conforto. Quero ser só coisa boa para tu. Não quero ter você, eu quero me dividir com você.
-E o que isso quer dizer?
-Eu também não sei Ana.
-Então Vitoria! Tu ainda não sabe o quer.
-Claro que eu sei Ana. Acabei de dizer. E tu o que quer?
Olhei dentro dos seus olhos, ali despidos de armaduras e roupas. A pele branca feito neve contrastando com a cor roxa da calcinha. Os pequenos seios, empinados, macios. O cheiro de pele, de banho, de água do mar me sufocando, e por um segundo eu conseguir enxergar o futuro. Não era para ser. Vitoria era pássaro. E como eu disse a algum tempo atrás para Barbara, eu sempre seria Gaiola. E dessa vez não seria vazia. Não podia prender passarinho que queria voar. Se fosse para permanecer que fosse por livre e espontânea vontade.Respirei fundo e pensei que ainda não era hora. Por mais que eu tenho esperado e achasse, ainda não era a hora.
-Não sei. Você é como aguá. Não posso conter dentro das mãos. Você flui, livre por ai. Eu sou barreira, contendo. Você me contorna.
Seus lábios abriram, o peito subindo em uma respiração ofegante.
-Tu acha que ainda não é o nosso momento?
-Não. Eu quero você para mim.Quero ter você por completo. Eu sou egoísta demais para te deixar escorrer, quero você em minhas mãos e esse sentimento de posse vai acabar com a gente. Vou deixar você seguir sua vida. E eu a minha.
-Com a Letícia?
-Sim, com a Letícia.-Sua cabeça concordou me dando o aval.- Eu vou conversar com ela.
-E tu quer ela? quer ser a berreira dela?
-Letícia não é água Vi. Letícia é brisa. Suave, refrescante. Está sempre a minha volta. Se molda a mim.
-E é isso que tu quer?
-Nesse momento é.
**
-Eu não quero conversar Ana.
-Le, por favor.
-Ana, me dá um tempo para pensar.
-Não. Se eu te dar um tempo, você vai pensar em mil coisas, em todas as teorias. Eu quero ter uma conversa franca.
-OK! Rafael saiu com um boyzinho que conheceu por ai, e deve dormir por lá. Me dá uns 15 minutos, eu preciso de um banho.
-OK.
Bati na porta do quarto sem resposta.
-Vitoria! Ei Vi abre a porta. –Ela apareceu pela fresta, os olhos meio vermelhos e um dos lados do rosto amassado. –Ei eu vou na Letícia, devo dormir por lá. Queria te avisar q a Edina vem amanhã e eu deixei o dinheiro da diária dela dentro da caixinha no meu guarda roupa, já que essa semana é minha. Coloquei o resto do bolo que você estava comendo na geladeira para não estragar. Vou deixar o celular ligado se tu precisar falar comigo. –Ela balançou a cabeça concordando e fez menção de fechar a porta. Coloquei a mão para impedir e fiz um carinho em seu rosto. –Fica bem ok? Não te quero mal.Eu também to sofrendo Vitoria. Amo você, mais to fazendo isso pela gente. Pelo nosso sonho.- Ela fechou a porta. Peguei as chaves na mesa e desliguei a luz.
Era hora de enfrentar mais uma batalha.
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Depois de Você
أدب الهواةFreud dizia que Nós nunca somos tão desamparadamente infelizes como quando perdemos um amor. Eu podia dizer mais. Perder Vitoria foi como ser queimada viva. Era como ser engolfada pelo mar. Mal conseguia respirar , nunca senti tamanha dor na vida...