• três •

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naquela manhã de, sei lá, sexta-feira, eu acordei com a pessoa que me fazia pagar pelos pecados da vida passada quase derrubando a porta do meu quarto. me levantei com tamanho ódio que acabei tropeçando no meu próprio tênis e quase caí diretamente com a cara no chão.

- as vezes, eu penso em matar você enquanto dorme, anelise. - reclamei abrindo a porta.

- você não conseguiria fazer isso nem em um milhão de anos - debochou. - , seu pai me ama. ele quer que você desça. - avisou saindo em direção as escadas.

bufei e bati a porta.

- hoje é sexta, boo. - me motivei. - então, será, oficialmente, final de semana e sua folga de dois dias. - arrastei meu corpo até o banheiro.

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- oi, bom dia. - disse descendo as escadas apressadamente afim de procurar minha mochila do colégio. - tyler me pediu para trabalhar essa noite, ele adoeceu. então talvez eu acabe chegando um pouco tarde hoje.

- não tem outra pessoa para ir no lugar de tyler? - disse sentado em sua poltrona.

- não. - insisti finalmente encontrando a minha mochila e a pegando debaixo de uma almofada enorme. - e é só uma noite, eu dou conta.

- sabe que não precisa assumir a responsabilidade por tudo, não é? - disse em tom de bronca. - isso é ridículo, não tem necessidade esse trabalho.

- vou tomar café com a gabi, até de noite. - avisei o ignorando e abrindo a porta para sair.

- sabe aquela garota que eu fiz dupla no último trabalho? - gabi perguntou do seu carro estacionado.

- acho que sim. - respondi abrindo a porta do carro.

- ouvi dizer que ela terminou com o namorado. - informou com seu tom típico de uma fofoqueira nata.

- sério? - me interessei pelo assunto.

- é, ela surtou com ele. - contou ligando o carro. - ouvi dizer que teve pancadaria e tudo.

- não acho que ela faria isso.

- você não pode achar nada, boo, nem sabe quem ela é. - argumentou enquanto tentava nos manter com todos os membros do corpo até chegarmos no estacionamento do colégio. - você só a viu uma vez.

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- hoje é sua folga. - gabi sorriu enquanto jogava seus livros no armário. - mesmo sabendo qual vai ser a sua resposta, me sinto obrigada a perguntar : o que vai fazer hoje?

- meu plano era ficar em casa, ler um livro e ouvir bastante the academic. - respondi.

- eu sabia. - disse em tom de bronca.

- mas - gabi me encarou curiosa e surpresa por eu ter um "mas". - , eu vou pedir pra trocar o dia da folga, então vou fazer uma entrega.

- uma entrega?

- é. - disse afim de fazê-la esquecer logo.

- você vai trocar um dia de folga pra fazer uma entrega? - insistiu. - numa sexta-feira?

- o que tem demais nisso? - questionei.

- tudo. - riu ironica. - quem é ele? - perguntou imediatamente.

- como assim?

- quem é o cara que você está afim? - explicou.

- eu não estou afim de ninguém. - ela semicerrou os olhos e os arregalou logo em seguida dizendo :

- é o cara da lanchonete? o da segunda-feira, o loirinho.

- definitivamente não. - ela ergueu uma sombrancelha como quem diz "será mesmo? - ele tem namorada.

- é seu único impedimento? - a ignoro. - vou numa festa hoje. - contou.

- legal. - continuei concentrada no meu armário.

- prentendo ir bem bonita.

- boa sorte. o dia está quente, não é? - mudei de assunto.

- você está mesmo tentando me enrolar para não ter que me ajudar com a roupa da festa? - perguntou com um tom de ironia.

- uau, você me desmascarou. - disse no mesmo tom. - não estou no clima, desculpa.

- vamos juntas, por favor. - pediu deitando a cabeça no meu ombro. - não precisa ir na de ano novo, só a de hoje é o suficiente. me recuso a acreditar que você vai se formar sem nunca ter ido numa festa do colegial.

- meu pai não vai deixar. - repeti pela milésima vez.

- ele não precisa saber. - sussurrou. - a gente volta antes das doze badaladas, cinderela.

- eu preciso trabalhar. - adicionei rindo.

- fala sério, hoje é sexta. - ela já estava perdendo a paciência. - ninguém vai passar uma sexta-feira cheia de festas pela cidade enfiado em uma lanchonete.

- eu passaria.

ela deu um passo para o lado, me dando a visão do seu rosto congelado numa expressão de indignação.

- o que vai fazer além de ficar enfiada naquela lanchonete? - ela perguntou tentando manter a calma.

- nada. - respondi. - por que?

- meus pais vão ficar fora por alguns dias, então, sei lá, você não quer passar o resto do fim de semana na minha casa? - sugeriu. - Só pra, sei lá, eu não me sentir tão sozinha e você ficar atoa.

eu ri.

- meu pai não vai acreditar nisso.

- ele nem vai saber, vai estar ocupado demais com a esposa. - retrucou.

pensei bem. isso é loucura, eu havia pensado. duas adolescentes e melhores amigas, sozinhas, numa sexta-feira a noite, passando a noite em casa. nem eu cariria nisso. isso ia completamente contra tudo que eu penso. odeio quebrar minhas rotinas. sem falar que eu não saberia o que estava me esperando. as pessoas na festa podiam ser loucas. sequestradoras de garotas que matam e vendem os órgãos pra comprar ingressos pra shows de cantores ruins. as chances daquilo dar errado eram altíssimas, mas eu tive a audácia de ir contra todos os meus argumentos e responder :

- se o meu pai deixar, eu vou. - impus.

- se o seu pai deixar. - concordou.

- tudo bem. - aceitei.

- eu vou fazer você usar um roupa tão linda que o colégio inteiro vai se apaixonar por você. - disse mechendo no meu cabelo.

- caso o meu pai deixe, o que eu duvido muito, eu vou escolher a minha roupa. - avisei. - e tenho certeza de que ninguém nem vai olhar pra mim.

- tudo bem. é uma festa a fantasia, pode se vestir daquelas personagens malucas que você gosta.

- alaska e margo não são malucas. - disse com falsa indignação. - apenas incompreendidas.

- se você diz. - fechou o armário.

[🚀] ecstatic shock | ruel van dijkOnde histórias criam vida. Descubra agora