• dezenove •

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gabi estacionou o carro em frente á uma casa simples, pequena e, aparentemente, lotada. a sensação claustrofóbica voltou como na outra noite, mas tentei me acalmar.

- está pronta? - perguntou tirando o cinto de segurança.

- acho que sim. - respondi enquanto desciamos do carro.

gabi segurou minha mão e entrelaçou seus dedos nos meus assim que entramos no terreno da casa.

- onde vocês estavam? - mike questionou para nós duas parando na nossa frente. - procurei vocês o dia inteiro. não acredito que perderam o nosso baile de formatura.

- desculpa, nós perdemos a noção do tempo estávamos investigando uma coisa super importante. - gabi disse em tom misterioso. - e é só um baile, está tudo bem.

- o que foi? - perguntou curioso.

gabi começou a falar sem parar sobre tudo que aconteceu desde a nossa saída do colégio no fim da manhã enquanto eu mal conseguia me concentrar nos meus próprios pensamentos com aquela música tão alta. as luzes roxas fluorescentes que vinham de dentro da piscina iluminavam a noite e me dava enjoo. o som das risadas, conversas e gritos para chamar atenção já estavam me deixando tão incomodada que eu estava me perguntando como eles estavam conseguindo suportar. um garoto com um copo de bebida nas mãos passou por mim e, assim que eu senti o cheiro do álcool, eu me perguntei o porquê das pessoas gostarem daquilo.

- enfim, não temos nada confirmado. - gabi concluiu olhando para mim em seguida. - você está bem? - perguntou passando a mão no meu braço.

assenti tentando forçar um pouco o sorriso.

- eu já volto. - avisei.

- tudo bem.

resolvi entrar e procurar algo para beber. eu já sabia que nesse tipo de festa, só havia bebidas com álcool. mas ainda sim, eu estava disposta a encontrar algo. acabei chegando no que eu achava ser a cozinha. haviam diversas garrafas na bancada. whisky, vodka, cerveja...

- já viram que ruel está sozinho? - um grupo de garotas parou ao meu lado.

- ele está? - uma delas perguntou.

- ele e charlotte terminaram faz algum tempo, vocês sabem. e, pelo que eu sei, a garota que ele queria convidar recusou. ele passou o baile sozinho, foi triste.

- não tem graça, lye.

- eu não estou brincando. - a tal da lye avisou enchendo seu copo. - ruel já teve mais bom gosto, mas desde que ele e charlotte terminaram ele anda assim, estranho. aposto que é culpa daquela garota da festa, como é mesmo o nome dela?

- bea. - me pronunciei assustando o grupo. - meus amigos me chamam de boo, ruel me chama de fantasminha... mas meu nome mesmo é bea.

as garotas olhavam para mim sem reação, pelo jeito não haviam percebido que estavam falando perto demais do assunto.

resolvi ir embora e deixá-las ali.

subi as escadas. eu não conhecia nada daquela casa, mas estava disposta a encontrar qualquer cômodo ou canto que não estivesse por casais bêbados cheios de hormônios a flor da pele.

a medida que eu andava, as pessoas me encaravam como se eu fosse algum tipo de extraterrestre. eu sabia bem o porquê, haviam me olhado assim a manhã inteira. e sinceramente, tudo bem. Eu acho que, depois do que aconteceu, eu havia parado de me importar com os olhares julgadores. principalmente por nada daquilo ser realmente relevante para a minha vida. houve uma época em que eu quis fazer parte dessa bolha adolescente estúpida, uma época em que eu ia a shows lotados e tentava ser como eles. mas isso fazia tanto tempo, que esqueci como era estar rodeada de pessoas diferentes de mim. eu aprendi a estar sozinha e gostei, eu gostei da minha solidão. bebidas, casa cheia, música alta... eu realmente não fazia parte disso.

acabei escolhendo o telhado. afinal, que pessoa seria estúpida o suficiente para subir no telhado bêbado?

lá de cima, eu conseguia ver quase todo o terreno da casa de li. Tenho quase certeza de que gabi estaria num canto com alguma garrafa de bebida se lamentando por angie, se ela já não houvesse desaparecido.

- oi. - disse passando pela janela e se sentando ao meu lado. - o que está fazendo aqui?

- eu só queria ficar um pouco só. - respondi voltando meu olhar para a frente. - é impressão minha ou toda essa coisa, essas pessoas são estranhas?

- eu também não queria vir. - ruel contou.

- então por que veio?

- eu achei que você talvez estivesse aqui. - deu de ombros. - eu esperei por você o baile inteiro, queria ver você uma última vez antes da faculdade.

- você vai amanhã? - perguntei o encarando.

- vou. - suspirou. - me desculpa. mesmo. sei que não vai me perdoar, mas eu realmente não queria ter feito aquilo.

- qual o motivo então? - perguntei sendo tomada pela curiosidade. - um garoto, por mais idiota que seja, não faria isso a troco de nada.

- não faz diferença. - desviou o olhar do meu. - obrigada.

- pelo que?

- por ser minha boa memória do colegial.

- não pode exigir muito de mim, ruel, mal me conhece. - disse num tom brincalhão enquanto sentia meu rosto esquentar. - você não sabe nada de mim.

- é, pelo jeito eu vou saber amanhã. - completou.

- só preciso saber o que aconteceu. - me inclinei em sua direção. - me conte o porquê.

a música animada que estava tocando lá embaixo mudou para outra lenta ao mesmo tempo que ruel abriu sua boca para me falar algo, porém hesitou. ruel se levantou e ficou em pé como se fosse a coisa mais natural do mundo. o garoto loiro estendeu sua mão para mim e sorriu.

- me dá a honra?

- você só pode estar brincando. - ele negou. - ruel, vamos cair.

- não vamos não. - riu. - vamos lá, vai mesmo me negar uma última dança?

- é a minha vontade. - disse com ironia. - mas não.

- então por qual motivo você ainda está sentada?

- você é cruel. - dramatizei enquanto segurava firme sua mão e ficava de pé. - por que eu estou concordando com isso?

ruel se aproximou colocando suas mãos em frente ao meu quadril.

- se importa?

neguei.

ele passou sua mão esquerda pela minha cintura e aproximou nossos corpos. seus olhos verdes se fixaram nos meus e sua boca estava a centímetros da minha. o corpo de ruel junto ao meu, sua respiração quente e descompassada no meu rosto e sua mão na minha cintura... ruel mesmo depois de tudo, com seu simples toque, me fez sentir algo que eu não havia sentido até então. algo que não me lembro de estar nas sensações que gabi havia falado. era algo tão desconhecido, mas bom.

ele colocou meu cabelo atrás da orelha e olhou profundamente nos meus olhos antes de começar a guiar nossos corpos ao ritmo calmo da música. ruel girou meu corpo em silêncio e segurou firme em minha cintura quando o inclinou para trás.

- a música acabou. - observou sem se desaproximar. - você quer sair daqui?

- sinceramente? - perguntei em tom baixo.

- sim. - disse colando sua testa na minha e fechando os olhos. repeti o ato.

- não.

[🚀] ecstatic shock | ruel van dijkOnde histórias criam vida. Descubra agora