• vinte e dois •

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- o que foi isso? - gabi perguntou surpresa enquanto ria histericamente. - boo, o que foi isso?

- dezoito anos e universitária. - foi a única coisa que consegui responder graças a minha respiração ofegante.

- tudo bem, universitária. - bateu as mãos no volante empolgada. - o ruel chegou a dizer em qual aeroporto estaria?

- droga, não.

- tudo bem, sua amiga comentarista de fatos já descobriu. - sorriu convencida. - o voo dele é o das dez para a inglaterra.

- voo das dez para a inglaterra. - repeti. - tudo bem, entendi.

- pronta para a melhor corrida das nossas vidas? - gabi perguntou acelerando muito mais do que devia.

- contanto que ela não cause a minha morte, eu estou. - respondi rindo.

mike riu do nosso entusiasmo enquanto gabi passava direto por um sinal vermelho. o caminho até o aeroporto foi cheio de piadas, risos histéricos e musicas dos mais diversos tipos.

- ok. - gabi disse parando o carro algumas ruas antes. - vamos?

eu tremia, o que não era algo muito comum de se ver. não sei se era a empolgação de estar fazendo aquela loucura com meus dois melhores amigos ou por saber que ruel estava ali em algum lugar. mike e gabi significavam muito para mim. era mais que uma simples amizade de infância, muito mais que isso.

nos entreolhamos compartilhando do mesmo pensamento. "uma aventura adolescente para nos lembrarmos para o resto das nossas vidas."

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senti meus pulmões arderem, minhas pernas formigando de cansaço e minha pressão começava a baixar. não havia comido nada antes de sair, se eu tivesse que morrer seria ali mesmo.

- ultima chamada para o voo para a inglaterra. - ouvi alguém comentando próximo a mim. o voo do ruel. ah, merda, merda, merda. pense, boo, pense. num ato de desespero subi num dos bancos de espera e disse em alto e bom som.

- alguém viu um garoto alto, bem bonito, loiro, um pouco desengonçado e com as bochechas meio vermelhas? - uma senhora me olhou confusa. - e quando eu digo bonito, é bem bonito mesmo. como um modelo.

- ah, sim. - a senhora disse me fazendo descer do banco depressa. - eu o vi. ele é um rapaz muito simpático, ele me falou muito de você, parecia apaixonado.

- viu para aonde ele foi? - perguntei num tom desesperado.

- acho que ele está embarcando, ainda dá tempo de alcanca-lo.

- muito obrigada, senhora. - agradeci voltando a correr.

corri até a fila de embarque e vi um garoto que, de costas, era idêntico ao meu garoto astronauta. tentei ir até ele, mas fui barrada pela segurança que me olhou confusa.

- onde pensa que vai? - perguntou.

- o meu namorado ele não pode embarcar antes que eu diga uma coisa importante para ele. - contei tentando ir outra vez, mas ela segurou meu braço.

- desculpa, mocinha, não posso deixar você passar.

- não você não está entendendo, é urgente. - tentei explicar enquanto sentia uma sensação fria na cabeça. - aquele garoto não pode embarcar.

minha visão começou a ficar embaçada e parecia que tudo havia mudado para um tom meio avermelhado. senti minha garganta seca, meu estômago roncar e tudo começou a ficar nebuloso. a fila voltou a andar.

- moça, por favor. - respirei fundo tentando manter tudo sob controle. - eu não vou demorar dez minutos.

- se ele estava na fila de embarque para a inglaterra, ele já foi. - ela contou apontando para a fila, agora inexistente, atrás de mim. - sinto muito.

- o que? - olhei para trás. - não, não, não. ruel! - chamei um pouco alto demais. - ruel! garoto astronauta! - senti a tontura mais forte. o mundo começou a girar e eu senti que poderia desmaiar a qualquer segundo.

- ei, você está bem? - perguntou segurando meu braço. - garota? ei, fale comigo!

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- jogue água nela. - ouvi uma voz feminina dizer um pouco distante. - se ela não acordar, levamos para o hospital e largamos lá.

- pare de ser idiota. - reconheci a voz de mike. - ela já está acordando, olha.

abri os olhos com calma, vendo um clarão por um instante até minha visão se adaptar. mike e gabi estavam sentados no banco da frente enquanto eu estava atirada no banco de trás. ambos me encaravam ansiosos.

- o ruel. onde ele está? - me levantei.

- a segurança disse que você desmaiou do nada. - gabi disse me estendendo uma garrafa de água. - só buscamos você e te trouxemos para o carro. está se sentindo melhor?

- um pouco. - respondi me ajeitando no banco. abri a porta do carro e coloquei apenas as pernas para fora enquanto sentia o vento fraco no meu rosto.

mike me estendeu a embalagem de algum lanche que eu nem tentei identificar, apenas comi.

- você nos deu um baita susto.

- é, achamos que iríamos ser presos por homicídio culposo. - gabi disse levando um tapa fraco na cabeça de mike em seguida. - é, e estavamos preocupados por você ser nossa amiga também. - ri fraco. - agora que está alimentada, nos conte. o que aconteceu?

suspirei.

- eu estava tão perto. - bebi a água. - ele estava lá, eu sei que ele estava lá, eu o vi. ele estava de costas pra mim e eu tentei falar com ele, mas a segurança me barrou.

- e então?

- não deu tempo. - respondi com a voz falha. - já era, ele vai embora e não há nada que eu possa fazer. - ergui meus braços para o céu. - me desculpa. me desculpa, me desculpa, me desculpa. - comecei a repetir várias vezes.

- boo... - gabi disse.

- eu precisava vir atrás de você porque eu sei. - tentei regular minha respiração em meio ao choro. - de tudo. eu so queria mostrar o quão errado você estava sobre si mesmo. eu gosto do garoto que me chamou de fantasminha, recitou john green e que correu atrás de mim quando eu mesma não tive coragem porque vocês dois são a mesma pessoa. gosto do garoto que cantou the academic para mim e que me fez sentir todas as sensações estranhas que eu achava que eram bobeira. - ri fraco. - você nem imagina o quanto eu gosto de você, eu sinto muito por tudo de ruim que eu disse.

- boo... - os dois disseram.

- e eu amo você. - continuei. - é isso, seu loiro desgraçado. eu amo você. amo muito mesmo, mas você não faz idéia de como eu queria que gabi batesse em você outra vez por não ter me dito a verdade e por ter ido embora.

- boo... - mike disse.

- eu sou uma imbecil, devia ter percebido que havia algo de errado. - continuei me ajoelhando. - você nunca diria aquilo tudo pra mim, eu sinto muito. e agora você foi embora e você nunca vai saber que eu perdôo você e que eu quero que charlotte se dane!

- olha, eu acho melhor... - mike começou a dizer, mas foi interrompido por gabi.

- deixa a garota colocar para fora. - gabi disse. - o cara que ela gosta foi embora.

- se ela queria tanto fazer da minha vida um inferno, ela conseguiu quando fez você se afastar de mim.

- o que você está dizendo é sério? - ouvi uma voz masculina atrás de mim. meu corpo se arrepiou. uma energia estranha passou por ele todo e me fez perder o ar por alguns segundos. me levantei hesitante e olhei para o outro lado do carro, onde um garoto alto apoiava seus braços em cima do teto. - oi, fantasminha.

[🚀] ecstatic shock | ruel van dijkOnde histórias criam vida. Descubra agora