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- meus pais estão planejando uma viagem de aniversário de casamento. - gabi contou andando entre eu e mike no corredor quase vazio.

as aulas da manhã já haviam acabado, poucos alunos ainda estavam dentro do colégio aquela altura.

- quantos anos? - mike perguntou bebendo a água da sua garrafa.

- dezenove.

- bastante tempo. - observei. - imagina passar dezenove anos da sua vida com uma pessoa. deve ser um pesadelo, eu aguento vocês a aproximadamente dez e não aguento mais. - tanto mike quanto gabi trocam olhares entre si como se dissessem "ela não vive sem nós dois." - enfim, o que vai fazer enquanto eles estiverem fora? - perguntei parando de andar.

- não sei. - deu de ombros. - acho que eu vou fazer uma maratona de as apimentadas, ou sei lá.

- podemos dormir na sua casa. - propus.

- de novo? - ela perguntou.

- nossos pais não vão deixar. - mike avisou.

- damos um jeito. - dei de ombros.

- vão dar um jeito no que? - luke perguntou se aproximando.

- vamos comprar drogas. - gabi respondeu.

- eu quero. - um garoto aleatório disse enquanto passava ao nosso lado.

- os pais da gabi vão viajar. - mike respondeu.

- viagem de aniversário de casamento - Gabi explicou com um sorriso forçado. ela não gostava nem um pouco de luke.

- e você vai transformar sua casa em um cabaré. - brinquei.

- cabaré? - mike perguntou confuso.

- uma casa de pecados, uma ótima maneira de pegar vários tipos de dsts. - eles me olharam como se eu fosse uma alienígena, ou sei lá.

- você parece meu pai falando. - mike disse.

- atualização na página da escola. - luke anunciou. os três pegaram os celulares ao mesmo tempo. apenas aguardei algum deles dizer o que era, me recusava a baixar um aplicativo idiota só para ler sobre a vida dos estudantes.

- ruel e charlotte estão oficialmente separados. - gabi disse com seu tom de voz normal.

- o que? - perguntei me aproximando e olhando no seu celular.

- eles terminaram. - repetiu.

- porquê?

- aqui não diz o motivo, só que eles terminaram.

olhei para cima e luke já nem estava mais ali.

- essa é a sua chance. - mike disse para mim.

- a minha chance?

- de fazer ele se apaixonar por você. - disse como se fosse óbvio.

- eu acho melhor eu não tentar nada por agora. - respondi cautelosa. - nem nunca.

- tudo bem. - gabi suspirou. parecia ter desistido. - mas eu não esqueci do garoto astronauta, e, olha que coisa, ele está bem ali. - ela disse rápido.

mal tive tempo de raciocinar o que ela estava fazendo, quando vi já havia sido empurrada em direção ao loiro que estava distraído mexendo no celular e que já tinha percebido que eu estava próxima.

- oi. - me cumprimentou. - você é aquela garota da lanchonete, não é? bea, certo?

- isso. - sorri um pouco demais por ele lembrar do meu nome. - uma vez, quando eu era pequena, eu adotei um gato de rua e coloquei o nome dele de lúcifer, por causa do gato da cinderela. - contei.- mas depois que eu descobrir que esse era um dos vários nomes do diabo, tudo começou a fazer sentido. ele era meio estranho, vivia me arranhando.

quando percebi que havia contado uma coisa totalmente aleatória por puro nervosismo, me arrependi no mesmo instante e senti meu rosto esquentar. se eu tinha qualquer chance com ele, havia acabado de estragar com a minha mania de falar demais quando fico nervosa. cogitei me virar e ir embora como se nada houvesse acontecido, quando ele riu.

- eu gosto mais de cachorros, mas eu imagino como deve ter sido a sua decepção. - respondeu guardando o celular. - quando descobri que o nome que eu havia escolhido para o meu cachorro era nome de comida, meus pais demoraram para me convencer que ele não era comestível.

- mas qual era o nome dele? - perguntei interessada.

ele prendeu o riso.

- batata.

- batata? - repeti rindo. - desculpa, mas você tem um péssimo gosto para nomes.

- pelo menos ele nunca me arranhou. - rebateu ainda rindo da minha história. - ele pegava muito pesado?

- sim, tenho uma cicatriz até hoje. - apontei a cicatriz no meu cotovelo. - eu achava que era um jeito dele demonstrar afeto, mas ele me odiava mesmo.

- sinto muito. - ele tentava não rir.

- bom... - pensei em alguma coisa para dizer. - eu estava pensando se você não...

- com licença. - um dos garotos do time interrompeu. - posso roubar o ruel por um momento?

- claro. - comecei a me afastar.

- espera um pouco. - ruel pediu. - o que você ia dizer?

- nada. - disse voltando ao normal. - eu já tinha acabado de relatar minha experiência com meu gato diabólico. - forcei o riso. - até mais.

saí andando a passos largos antes que ele pudesse dizer mais alguma outra coisa.

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já passava das oito da noite e eu estava jantando com meu pai e a esposa dele. analise estava colocando mais comida no prato dele enquanto eu estava mexendo na comida com os talheres sem sentir a menor vontade de comer. e odiava o jantar. a comida de anelise era realmente maravilhosa, mas seu grande problema era ser uma pessoa com péssima personalidade escondida por baixo de uma religião.

- como foi a escola hoje? - meu pai perguntava toda vez para mim apenas para que eu pudesse responder a mesma coisa, mesmo que fosse mentira.

- foi bom. - disse sem ânimo.

- não basta ser bom. - ele dizia toda vez. - tem de ser ótimo.

logo após o jantar, disse estar com uma dor de cabeça forte e fui para meu quarto alegando que iria me deitar mais cedo.

após trancar a porta do quarto e me vestir com uma roupa qualquer, o moletom enorme que roubei do guarda-roupa de mike e uma calça folgada, me atirei na cama e liguei notebook. o colchão macio da cama de solteiro afundou assim que me deitei sobre ele com o aparelho no colo.

e assim se finaliza a noite. assisti alguns filmes sobre mitologia greco-romana, eu sempre fui fascinada. adorava aprender sobre os deuses e suas guerras. sobre dedálo e suas invenções. sobre o minotauro, sobre ariadne e como foi abandonada pelo seu amor. e então passava toda a noite vidrada em vídeos sobre teorias na internet. mas aquela madrugada foi diferente.

[🚀] ecstatic shock | ruel van dijkOnde histórias criam vida. Descubra agora