• cinco •

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- e você? - perguntei. - alguém conseguiu roubar seu coraçãozinho?

- ainda não. é meio difícil pra mim achar uma garota que eu seja o tipo dela e que já não namore.

- e quando você acha, dá totalmente errado já de início. - disse.

- sim. - riu. - é tão complicado achar alguém hoje em dia, não é?

- é. - concordei. - a maioria das pessoas não vai te aceitar como você mesmo, então você fica se perguntando se alguém vai te amar mesmo você sendo você.

- elas não querem uma pessoa humana. querem um alguém sem sentimentos, sem emoções e sem defeitos. você não pode ficar triste. você não pode ficar mal humorado, nem estressado. você não pode querer passar o dia inteiro trancado dentro do seu próprio quarto. se, por algum acaso, você não suprir as expectativas da outra pessoa, você não é digno do amor dela.

- é, acho que o amor não é para todos. - disse me aproximando e dando impulso para me sentar na pia.

- acho que consigo conviver com isso. acabei de levar um baita de um fora de alguém que eu nem estava afim.

eu ri.

- sinto muito.

- tudo bem. - deu de ombros. - na próxima encarnação, quem sabe.

- essa garota deve ser uma idiota. - tentei ajudar. - aposto que o beijo dela nem é tão bom assim.

- não, na verdade ele é fenomenal. - ele disse rindo.

- naaah - disse fazendo uma careta. - eu duvido.

- é sério, ela já me beijou. - insistiu. - eu sei.

- eu nunca beijei ela, então não posso concordar com você.

- e você virou algum tipo de especialista no assunto? - me desafiou. - o que a srta. fantasminha sabe sobre beijos?

- bem... - me aproximei vendo meu reflexo no capacete. - sei muita coisa. - ele se sentou ao meu lado na pia. - e, se vocês já se beijaram e ela não demonstrou que não gostou, talvez seja porque o seu beijo é bom e não o dela.

- não pode dizer isso, nunca me beijou. - usou meu argumento.

- você tem cara de quem beija bem. - respondi. - mesmo que eu nunca tenha visto ela.

- e como é a cara de alguém que beija bem? - perguntou baixo.

- eu não sei. - ri fraco dando de ombros. - mas você deve ter essa cara.

ele olhou para trás e desligou a luz do banheiro. o garoto astronauta desceu da pia e, pelo que eu consegui decifrar pelos seus movimentos, tirou o capacete da fantasia e se aproximou. ele parou em frente as minhas pernas e pude sentir sua respiração no meu rosto.

- é. - concordou cara a cara comigo. - meu beijo deve ser ótimo.

- deve ser mesmo. - concordei.

- acho que agora você precisa me beijar pra saber, certo? - perguntou passando sua mão pelo meu pescoço.

- preciso. mas você não quer me beijar.


ele puxou meu rosto delicadamente em direção ao seu, fazendo nossas bocas se juntarem de uma vez só. sua boca encaixou perfeitamente com a minha, seus lábios macios e quentes me deram a sensação de estar no céu e seus dedos delicados já se encontravam enrolados nos meus cabelos.

parei o beijo para descer da pia e me encaixar em sua frente, entre entre seus braços, mas logo voltamos ao toque fatal das nossas línguas. apertei minhas mãos ao redor da sua nuca e escutei um gemido baixo em resposta.

ele entrelaçou seus braços ao redor do meu corpo, me aproximando ainda mais. meu celular começou a tocar no meu bolso, mas eu o ignorei. seja lá o que fosse, poderia esperar.

os lábios dele tinham um gosto estranho. o gosto de alguma bebida alcoólica forte e doce, mas era bom. suas mãos desceram do meu rosto. uma diretamente para o meu quadril, onde ela agarrou violentamente oo tecido do pobre vestido, enquanto a outra se encontrava no meu pescoço.

meu celular toca outra vez.

a mão que estava no meu pescoço, pousou diretamente na minha nuca. ele separou seus lábios dos meus e os direcionou ao meu pescoço nu, fazendo com que eu arfasse. minha pele se arrepiou quando senti seus dentes em contato com minha pele sensível, a sugando, deixando assim uma possível marca. sua mão que estava no meu quadril estava na minha cintura, a apertando e massageando quando o celular tocou pela terceira vez.

- acho melhor você atender. - avisou rindo. - pode ser importante.

- tudo bem. - respondi ainda com os olhos fechados. tirei o celular do bolso e olhei no visor escrito "gabi.♡" - alô?

- seja lá onde você estiver é melhor voltar, meus pais estão voltando pra casa. - a voz de gabi soou com urgência do outro lado da linha.

- espera, o que?

- meus pais, eles tiveram um imprevisto e estão voltando, devem chegar em, sei lá, uma hora.

- você só pode estar de sacanagem, gabriela! - disse descendo da pia e procurando o interruptor.

- não grita comigo, você quem sumiu de repente.

- onde você está? - perguntei desistindo da luz.

- na porta da frente, vem logo. - desligou.

- an, tudo bem? - perguntou preocupado.

- tudo. mas eu preciso ir embora, desculpa. - disse ainda olhando para o celular.

- tudo bem. - se aproximou. - posso te encontrar depois?

- claro, é só me procurar no colégio. - expliquei indo em direção a porta. - qualquer dia, eu nunca falto. até a próxima, garoto astronauta.

[🚀] ecstatic shock | ruel van dijkOnde histórias criam vida. Descubra agora