• sete •

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eu, definitivamente, tinha que organizar o meu armário. meus livros do colégio estavam todos apertados uns contra os outros graças a minha luta diária de sempre querer enfiar algo a mais ali mesmo sabendo que está cheio. mike se encontrava ao meu lado, distraído com seus fones, enquanto eu me esforçava para achar o livro para a próxima aula.

- que porra é essa? - mike questionou olhando para algo que estava as minhas costas e arrancando os fones de seus ouvidos.

- o que foi? - perguntei concentrada no meu armário.

- o seu amado.

- o que tem ele? - questionei fingindo estar distraída.

ele suspirou impaciente.

- se olhar para trás, vai ver.

revirei os olhos sorrindo. olhei para trás e vi a cena que me fez qualquer resquício de sorriso morrer automaticamente: ruel estava encostado em seu armário enquanto conversava com uma garota loira que eu logo reconheci.

- que porra é essa? - perguntei num tom mais desanimado.

charlotte. a loira infernal da lanchonete e futura super modelo. charlotte, assim como ruel, estava no topo da pirâmide social, porém alguns níveis acima dele. e eu me perguntei o que fez alguém como ela descer um pouco para falar com um mero mortal feito ruel.

eles pareciam bem íntimos, o que eu também estranhei. se ele era o garoto da festa, ele não tinha ninguém. ele mesmo quem me disse. charlotte passava sua mão pelo braço de ruel quase a todo segundo, o que me dava uma sensação estranha no estômago. ruel havia falado sobre uma garota, só não pensei que estava mentindo.

- vai ficar para o jogo? - ouvi ele dizer.

- sim. - ela respondeu com a sua típica voz irritante. - preciso ver meu amorzinho jogar.

- pelo que eu sei, ele não perguntou nada sobre nenhuma boo pra ninguém. - gabi se encostou ao meu lado no armário me tirando a atenção da cena.

- certeza? - voltei minha atenção ao armário enquanto tentava disfarçar meu desconforto.

- não seria tão ruim assim. - mike disse se referindo ao ruel passando perto de nós, mas ainda do outro lado do corredor.

abaixei minha cabeça e me escondi sob o boné.

- você sabe que esse seu disfarce é ridículo e inútil, não é? - gabi disse cruzando os braços.

- se você continuar berrando que é um disfarce ele vai ser inútil. - reclamei começando a andar em direção a aula.

- o que é inútil? - luke, meu mais novo colega de trabalho, perguntou se aproximando.

- as coisas que a escola ensina. - gabi respondeu chamando toda atenção para si. agradeci internamente. - não acha ridículo como tudo que eles ensinam não agrega em nada em nossas vidas? eles nos preparam para o vestibular, mas e depois?

- tudo bem. - ele disse estranhando. - você quer carona depois? - perguntou olhando diretamente para mim.

- acho que não precisa se incomodar, eu vou a pé.

- na verdade não é incomodo algum, eu gostaria de ir com a minha colega para o trabalho. - insistiu.

- eu gosto de andar. - aquela era a maior mentira da minha vida. eu era a pessoa mais sedentária que os meus amigos conheciam.

- nos vemos na lanchonete então? - perguntou parando na porta da minha sala.

- é, nos vemos lá.

- então tchau. - disse se afastando.

- tchau. - respondi entrando na sala de aula e me sentando no meu lugar habitual.

- você e luke são tão fofos juntos. - gabi disse se sentando ao meu lado.

- somos só amigos. - avisei.

- amigos que fariam um belo casal. - rebateu. - deveria dar uma chance para ele, já que não vai rolar nada com outro lá.

- luke não é meu tipo.

- e qual o seu tipo? - questionou.

- garotos que não sejam meu colega de trabalho ou que façam parte do mesmo grupo que eu, mas não troque nem mesmo duas palavras, para começar. - respondi.

- tudo bem. - incentivou. - continua.

- gosto de garotos como o astronauta.

- que só servem pra te beijar e dar o bolo na segunda-feira? - a olho feio. - ou os que são populares, burros e fúteis?

- ele não é assim. - o defendi. - o garoto da festa, o popular burro e fútil, eu não sei.

a professora entrou na sala e se sentou em sua cadeira.

- só acho que deveria dar uma chance a luke. - disse dando fim ao assunto.

- hoje é dia de jogo. - mudei de assunto. - vai ficar para assistir?

- assistir o que? - ergueu uma sobrancelha. - um monte de homens fortes e suados correndo por uma quadra enquanto tentam acertar uma esfera alaranjada numa cesta idiota?

- algumas pessoas chamam de basquete. - ironizei.

- eu não perco isso por nada. - respondeu sorrindo. - e você?

- mike joga, então...

- não é só pelo mike que você vai ficar, sua pervertida. - cutucou meu estômago.

- pode ser um pouco por você-sabe-quem também. - ri. - mas é principalmente porque meu melhor amigo de quase dois metros também faz parte do time.

- tudo bem, então. - deu de ombros fingindo ter esquecido o assunto. - conversamos depois.

voltei minha atenção para a aula, que se iniciava com a professora passando um texto enorme para lermos.

- então... - ouvi uma voz atrás de mim. - você e charlotte.

- ah, não. - ruel riu fraco. - ela só estava me perguntando uma coisa sobre a aula.

- e o quê ela perguntou exatamente? - o outro garoto questionou com um tom de voz mais afinado, imitando a voz dela. - porque teve muito contato físico para apenas uma dúvida.

- você sabe que eu estou interessado em outra pessoa. - meu coração disparou.

- sei, a garota misteriosa da festa. - disse em tom de deboche. - você não se lembra mesmo do rosto dela?

- não, eu só me lembro do beijo, do toque... - ele suspirou. - pensando bem, eu lembro de um nome.

- lembra? qual?

- de uma amiga, eu acho. - ele riu fraco. - quando nós estávamos juntos, alguém ligou pra ela chamando pra ir embora.

Ah, merda.

- acho melhor você atender. - avisou rindo. - pode ser importante.

- tudo bem. - respondi ainda com os olhos fechados. tirei o celular do bolso e olhei no visor escrito "gabi.♡" - alô?

- seja lá onde você estiver é melhor voltar, meus pais estão voltando pra casa. - a voz de gabi soou com urgência do outro lado da linha.

- espera, o que?

- meus pais, eles tiveram um imprevisto e estão voltando, devem chegar em, sei lá, uma hora.

- você só pode estar de sacanagem, gabriela!

- mas eu não consigo me lembrar agora.

suspirei em alívio.

[🚀] ecstatic shock | ruel van dijkOnde histórias criam vida. Descubra agora