• dezessete •

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estava chovendo lá fora. a chuva caía com força, como se estivesse lavando as pobres almas que estavam vagando lá fora, limpando seus corpos de todos os seus pecados.

já era o fim da última semana de aula, o nosso tão esperado último dia. no dia seguinte já estaríamos nos separando a caminho das nossas respectivas universidades. o último dia não tinha nada de especial. pegariamos nossos resultados, nos despediriamos de todos os nossos colegas e professores e todos voltariam para as suas casas para se prepararem para a noite, quando aconteceria o baile.

- por que eu nunca dou certo com ninguém? - questionei esvaziando o meu armário.

- porque você é o tipo de pessoa que não precisa ser de alguém para ser feliz. - gabi respondeu sem tirar os olhos do seu. - se eu pego esse cara na rua...

- porque ninguém é digno de ser namorado de um algum tão maravilhoso como você. - mike respondeu desistindo do seu armário bagunçado e jogando tudo que estava ali na lata de lixo mais próxima.

- amo vocês. - disse fechando o armário. - muito.

- eu amo mais. - gabi respondeu. - abraço coletivo! - anunciou me abraçando e sendo acompanhada por mike.

- não consigo respirar. - aviso com minha voz abafada. eles me soltaram fazendo com que eu puxasse o ar com força. - eu amo vocês, mas se fizerem isso de novo nossa amizades acaba aqui.

- eu preciso falar com você. - ruel anunciou se aproximando. - eu não vim fazer mal, só quero conversar.

- o que você quer? - gabi se colocou entre nós dois.

- quero falar com a boo.

- mas não vai. - respondeu ficando cara a cara com ele.

- gabriela, por favor...

- vai embora, seu imbecil. já não acha que magoou minha amiga o suficiente?

- tudo bem, gabi. - disse colocando minha mão sobre seu ombro.

ela olhou para mim e para ruel com dúvida. ela se afastou e puxou mike junto, nos deixando sozinhos.

- eu só quero que você vá embora e nunca mais apareça na minha frente. - pedi.

- bea, vamos para outro lugar, conversar. eu não quero discutir com você, nem te expor na frente de todo mundo. - disse enquanto algumas pessoas paravam no corredor para prestar atenção em nós dois.

- não. - respondi me encostando no armário. - o que foi, ruel? não quer acabar com a sua reputação? não quer que ninguém veja isso?

ele desviou o olhar do meu ficando em silêncio por alguns instantes, para só depois me dar uma resposta.

- eu quero ficar de você, bea. - disse com a voz trêmula. - não sabe como eu quero. por favor, me deixe tentar. eu sinto muito por tudo isso. não devia ter sido assim.

- você não quer gostar de mim. - afirmei. - afinal, eu sou apenas uma mentirosa que enganou você.

- eu não quis dizer aquilo.

- mas você disse, ruel, você disse!

- me desculpa.

- eu estive ali, disposta a passar por cima de qualquer coisa para ser sincera e ficar do seu lado, ruel, não tente cobrar nada de mim como se eu tivesse culpa de alguma coisa porque eu sei que eu não tenho. - comecei a bater o dedo em seu peito conforme eu falava. - não me cobre alegando que eu enganei você com a maquiagem, não me cobre alegando que eu enganei você porque eu não o procurei imediatamente porque eu estava nervosa e com medo disso, exatamente isso, acontecer. minha consciência está limpa quanto a isso tudo.

olhei para todo mundo no corredor que havia parado para ouvir a conversa e soltei um riso fraco.

- e mesmo sabendo todas as atrocidades que vão me dizer, já que deus e o mundo sabiam dessa história, e o quanto vai machucar, eu tive coragem e vergonha na cara de ir até você, eu contei a verdade e não precisei enganar ninguém pra isso. sinceramente, ruel, você pode até não ter tido a intenção de me magoar ontem, ser inocente, pode fingir que gosta de mim e tentar me enganar citando meu autor favorito e cantando the academic para mim, mas a sua falta de consideração por mim e pela sua ex namorada naquela noite e a sua falta de caráter ontem te condenam. sabe o que é pior? é que ainda tem chances de acreditarem que eu sou a errada da história e tirarem você de santo.

o sinal, o que seria o último das nossas vidas, tocou.

- algo a mais? - perguntei.

- você vai estar lá hoje? - perguntou em voz baixa.

- ainda é o meu trabalho, eu não tenho escolha. - ri com ironia.

deixei ruel e o resto das pessoas para trás e comecei a andar em direção a sala de aula pela última vez enquanto me concentrava para fazer a vontade de chorar desaparecer. assim que me sentei, senti olhares curiosos e julgadores sobre mim e agradeci por ser o último dia de aula.

enquanto a professora entrava na sala de aula e começou seu discurso de depsedida, senti mais uma sensação.

"énouement; a sensação de ter chegado no futuro, visto como tudo aconteceu, mas não ser capaz de contar para o seu 'eu' do passado"

❪ • • • ❫

- bom apetite. - disse me afastando. - você quer sair hoje? - perguntei para gabi que estava no balcão com uma expressão de tédio.

- não sei. - colocou o cabelo atrás da orelha. - vou ver filmes com a vitória.

- não. - disse reconhecendo sua mentira. - você vai ficar em casa, lamentando a angie não ter aceitado seu convite. eu conheço você. e conheço a sua irmã. ela odeia assistir qualquer coisa com você.

- como você...?

- ela contou para a gente no dia em que você faltou, quando você foi para o hospital com infecção. - respondi simples. - vamos, por favor.

ela fechou os olhos e suspirou mantendo a calma. se tinha uma coisa que eu sabia fazer melhor que gabi, era ser insistente. ainda me pergunto como ela nunca pulou no meu pescoço e me bateu até que eu ficasse azul.

- o que você quer fazer?

- não sei. - dei de ombros. - vamos visitar um asilo.

- visitar um asilo?

- é. - me animei. - adoro velhinhos. Eles costumam me contar as histórias de quando eram jovens, é fofo.

gabi riu. a porta de entrada foi aberta, ruel, angie e uma dezena de adolescentes entraram.

- o amor... - gabi disse suspirando.

- ...é uma... - acompanhei seu raciocínio.

- droga! - dissemos ao mesmo tempo.

[🚀] ecstatic shock | ruel van dijkOnde histórias criam vida. Descubra agora