• dezoito •

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- bom dia. - cumprimentei a moça na recepção. - eu vim ver minhas avós. lucia e carmen river. - informei batendo os dedos no balcão.

gabi estava em pé ao meu lado com uma expressão de tédio, sabia que ela preferia estar em casa sofrendo pela garota de cabelos curtos.

- pode entrar, eles estão em horário livre.

- obrigada. - agradeci. - vem, bobona. - segurei a mão de gabi e comecei a arrasta-la por praticamente todos os corredores daquele lugar até encontrar uma senhora baixinha que estava sentada sozinha.

-oi, vó. - disse indo na direção da minha avó que estava sentada no jardim.

- meu deus, você está horrível. - ela levantou do banco para me abraçar. - sabia que essa garota era uma péssima influência para você, você está se drogando? - perguntou passando as mãos no meu rosto.

- ei! - gabi protestou. - saiba que a sua neta é muito pior que eu.

- bea é um exemplo de jovem. - me defendeu. eu apenas observava, toda vez que elas se encontravam discutiam por alguma besteira. - o único erro dela foi ter feito amizade com você e com aquele rapaz cabeludo.

- boo, eu quero ir embora. - gabi anunciou ignorando a idosa ao seu lado.

- bea, mande essa jovem indesejada embora. - vó lucia mandou se sentando outra vez.

- onde está a vó carmen? - ignorei o protesto das duas. - ela é boa com conselhos, preciso de um.

- está no quarto lendo. - revirou os olhos. - outra que não bate bem da cabeça, nunca bateu. prefere ficar enfiada num quarto escuro lendo um livro idiota a respirar ar puro.

- vamos, gabi. - segurei sua mão. - até depois, vó.

- leve essa pestinha embora. - gritou se referindo a gabi enquanto eu andava rápido até o quarto.

- a sua avó é um saco. - reclamou.

- é, mas eu gosto dela. - dei de ombros sem parar de andar.

os quartos eram um pouco afastados do jardim. então quando cheguei ao quarto em que, de acordo com a minha vó lucia, vó carmen estava, minhas pernas estavam doendo um pouco de tanto andar rápido. entrei com calma no quarto onde uma senhora estava em pé na cama com um livro em mãos.

- NÃO ACREDITO NISSO! - vó carmen gritou enquanto entravamos em total silêncio. - CÂNCER IDIOTA, POR QUE VOCÊ O MATOU?!

- ela está lendo...?

- está. - suspirei. - será que tem chances dela infartar antes do final?

- acho que sim. - gabi riu.

- vó? - chamei fazendo-a virar bruscamente em minha direção. - é melhor descer antes que quebre alguma coisa.

- você, sua sem vergonha, por que me recomendou esse livro?! - perguntou aumentando o tom de voz enquanto atendia ao meu pedido.

- a senhora me pediu um romance trágico, eu só obedeci. - - dei de ombros. - preciso de um conselho.

- estou em luto. - apontou para o livro.

- é sobre um garoto. - continuei.

- se tiver uma boa sinopse eu até ouço. - me incentivou.

- o nome dele é ruel e eu acho que eu não deveria gostar dele.

- tudo bem. - se sentou curiosa. se tinha algo que a minha avó não perdia, era uma fofoca. - mas e então? como tudo aconteceu?

- é uma longa história. - respondemos ao mesmo tempo.

- imagino. - riu. - mas pode me contar, tenho todo o tempo do mundo.

foi então que eu comecei a falar sem parar. contei sobre a festa em que nos conhecemos, o término dele com charlotte, o nosso último encontro antes de eu contar a verdade e a nossa discussão de mais cedo.

ela ouviu tudo atentamente, só resolveu dizer alguma coisa quando eu parei de falar.

- sinto muito por tudo isso. consigo ver como você criou expectativas com ele. - disse em um tom calmo enquanto fechava seu livro. - mas isso é estranho. - continuou com uma expressão de dúvida. - tem algo nessa história que não bate.

- como assim?

- o que você disse. - explicou. - se ele estava procurando por você, estava tão apaixonado e parecia que a noite da festa havia sido real, por que ele fez tudo aquilo? por que ele enganaria você a troco de nada?

- garotos são idiotas, é o que eles fazem. - gabi deu de ombros e murmurou logo em seguida : - algumas garotas também...

- não, até o mais idiota dos rapazes quer alguma coisa. conheço homens mesmo não gostando deles, eles sempre querem alguma coisa. - eu e gabi nos entreolhamos com o mesmo pensamento sendo gerado. - o que ele queria? o que ele ganhou com tudo isso?

- fácil. - respondi. - deve ter sido alguma aposta idiota entre os amigos dele, não sei. - tentei raciocinar com calma, mas minha mente já estava trabalhando rápido demais. - ruel fez isso porque ele quis, porque ele é um mentiroso.

- nem você acredita nisso. pense, querida, pense. num dia ele magoa você, a expõe e até leva um soco e no outro ele simplesmente muda da água para o vinho? - disse me fazendo pensar ainda mais. é, não fazia muito sentido. - não, você não é tão ingênua assim, reconhece mentiras com a mesma facilidade que lucia e gabi discutem. - rimos. - tem alguma peça nessa história faltando, algo que você não sabe.

olhei para gabi que devolveu o olhar. sabia o que ela estava pensando. sabia o que ela estava planejando tão rápido que até sabia o que fazer assim que saíssemos daquele asilo.

[🚀] ecstatic shock | ruel van dijkOnde histórias criam vida. Descubra agora