• seis •

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eu estava provando algumas roupas, quando gabi entrou no meu quarto.

- o que acha? - perguntei mostrando o meu possível vestido para o baile.

- você está linda. - respondeu se sentando na cama.

- sério? - me olhei no espelho. - sinceramente, eu estou me sentindo bem vulgar com isso.

- sei que não gosta de se expor muito - disse tirando os olhos do celular por alguns segundos. - , mas tem que admitir que está uma verdadeira deusa com esse vestido.

sorri e revirei os olhos. minha melhor amiga adorava exagerar quando se tratava de aumentar minha autoestima. passei mais algum tempo analisando meu corpo quando ela se pronunciou.

- o mike me ligou hoje. - disse cautelosa.

- te ligou? - a olhei curiosa. - e aí?

- ele disse que tinha uma proposta, uma grande proposta pra mim.

- que seria...?

- uma coisa aí... - enrolou.

me sentei ao seu lado.

- me conta.

- ele me chamou pro baile. - contou sorrindo abertamente.

- você vai ao baile com o seu melhor amigo. - disse ironicamente. - ele é tão caridoso.

- mas e o seu astronauta? - mudou de assunto. - e o garoto da lanchonete? ele é um gato.

- eu não achei. - disse só para implicar.

- não é atoa que você tem péssimo gosto para garotos.

já fazem dois dias desde a festa. depois de sair correndo daquele banheiro e encontrar gabi parada com o carro me esperando impaciente, furar três sinais vermelhos para chegar em casa a tempo e fingir que estávamos lá a noite inteira, contei o que havia acontecido banheiro.

que eu saiba, o garoto astronauta não me procurou até então. mas era segunda-feira, eu disse para ele me procurar no colégio.

depois de terminar de provar todos os vestidos, me sentei ao lado de gabi.

- tudo bem. - respirou fundo. - vamos dar uma volta, beber alguma coisa sem seu pai saber - fui obrigada a rir. - e ver uns clichês bem ruins.

- ok... - me aproximei dela. - te amo.

- ah, eu sei. - jogou o cabelo. - impossível não me amar.

❪ • • • ❫

- vocês combinaram o que mesmo? - mike perguntou estacionando o carro.

- não combinamos nada, eu só disse para ele me procurar.

- vamos esperar aqui na frente por um tempo então. - gabi disse. - se a memória dele é tão boa quanto o beijo, ele vai te reconhecer na hora.

- é, talvez. - me sentei nos degraus da entrada. - ele vai ter que passar por aqui.

mas ele não passou. todos os garotos passaram sem nem ao menos olhar pra mim. eu estava quase desistindo e indo assistir a minha aula quando ouvi o som do motor de um carro entrando no estacionamento dos alunos.

- é o ruel. - mike reconheceu. - ele sempre chega atrasado, devia ganhar uma medalha.

o loiro saiu do carro apressado e quando estava a caminho da entrada, viu três adolescentes cansados de esperar um certo astronauta. ele sorriu fraco, como um comprimento, e entrou. não fiz questão de olha-lo em momento algum, nem em sonhos ele era quem eu estava esperando.

- ninguém chega depois dele. - gabi avisou.

suspirei.

- idiotice achar que ele me procuraria. foi só um beijo idiota, não significa nada. - levantei e entrei.

❪ • • • ❫

estávamos atirados em cantos diferentes da lanchonete. eu no balcão, como sempre, totalmente concentrada no livro novo que eu havia comprado, a protagonista era desprovida da inteligência e estava sem saber exatamente o que fazer em relação a ficar longe do namorado durante a faculdade. gabriela se encontravaem uma mesa mais afastada com o celular em mãos, jogando algum joguinho com um som irritante. já mike estava concentrado em escrever descontroladamente em um caderno do colégio e parecia não querer ser interrompido.

- tem uma sensação que a gente sente quando encontra alguém que gosta. - gabi contou quebrando o silêncio. - não me lembro o nome e o significado muito bem, vou olhar no twitter. - eu e mike ficamos em silêncio apenas esperando que ela encontrasse a definição. - achei. "ecstatic shock; a onda de energia que surge ao olhar de relance para alguém que você gosta." talvez você sinta isso na verdade, eu tenho certeza. quando você encontrar ele outra vez, mesmo sem saber que é ele, você vai sentir isso.

- seria legal se eu acreditasse nesse tipo de coisa. - respondi desanimada. - isso é só aquelas besteiras que as pessoas no twitter inventam pra ganhar like. eu nunca mais vou ver meu belo homem na lua. - digo de forma dramática.

- é o que vamos ver.

- olha, podemos começar que é muita babaquice dar a entender que vai procurar alguém e não fazer isso. - mike disse fechando o caderno.

- tudo bem, eu concordo. - gabi se pronunciou sem tirar os olhos da tela. - voce não está, tipo, apaixonadinha né?

- gabi, eu... - hesitei. - foi bom. o beijo dele era maravilhoso, eu me senti nas nuvens, mas... sem essa coisa de sentimento e paixão.

- acha que se você o visse outra vez, conseguiria reconhece-lo? - mike perguntou brincando com um guardanapo.

- não pelo rosto, ou voz, nem me lembro como era a voz dele. - ri fraco. - mas se ele só me tocasse, talvez. o toque dele era bom.

gabi revirou os olhos.

- cheiro de paixão adolescente. - disse com tom de desdém, mas eu sabia que ela estava tão boba quanto eu com toda essa história.

voltei minha atenção ao livro. estava tão concentrada em ler como a protagonista terminava com o namorado dela, que não percebi um movimento na entrada e o grupinho da última vez entrando. quando resolvi levantar o olhar, eu o vi. eu senti.

o frio na barriga, uma leve tontura e o ar, por dois segundos, me faltou. a onda de energia. era isso, era ecstatic shock.

[🚀] ecstatic shock | ruel van dijkOnde histórias criam vida. Descubra agora