• onze •

130 16 11
                                    

me levantei da cama e fiquei em pé diante do espelho no canto do quarto que me dava a visão de corpo inteiro. eu tinha o que pode se chamar de corpo levemente normal. não gostava muito dele. as vezes, achava que meus seios eram grandes demais, as vezes achava que eram minúsculos e sem graça.

levantei a barra do moletom até o pescoço e os encarei sob o sutiã azul marinho. passei meus dedos finos por cima da renda e senti meu corpo arrepiar-se quando a pontinha dele encostou em minha pele.

- por que você tinha que ser assim? - perguntei para meu reflexo. - não poderia ser igual ao das outras garotas?

indignada com meu próprio corpo, baixei a barra do moletom e voltei para a cama. já sentada em sobre o colchão, abri o youtube.

eu estava concentrada em um vídeo sobre os deuses primordiais quando, uma pequena movimentação do lado de fora da janela chamou a minha atenção.

- boo, sou eu. - ouvi a voz de gabi sussurrando.

caminhei apressadamente até janela e, abrindo as cortinas lilases e a janela em si, dei de cara com uma gabi completamente empolgada sobre uma escada que obviamente havia sido colocada para que ela pudesse alcançar a janela no segundo andar.

com uma bolsa pendurada em seu ombro, gabi tomou impulso para subir na janela e se atirar para o lado de dentro do meu quarto.

- pronta para a melhor noite das nossas vidas? - perguntou se erguendo do chão.

- não. - respondi cruzando os braços.

- cinderela, sua carruagem chegou. - mike brincou surgindo no topo da escada.

ri do entusiasmo dos dois enquanto me sentava na cama.

- o que vieram fazer aqui? - perguntei.

- viemos resgatar você. hoje tem outra festa, o ruel vai estar lá.

- eu não quero ver o ruel tão cedo. - me enfiei debaixo das cobertas. - ainda estou me torturando por hoje mais cedo.

- mas você não vai. - ela abriu a bolsa. - a fantasminha sim. - tirou o vestido de dentro da bolsa e me estendeu. - eu ainda sei fazer a maquiagem daquela noite.

- gabriela...

- escuta. - se sentou a minha frente. - é o nosso último ano, depois disso já era. independente de qualquer coisa, essa hora vai chegar. - começou a gesticular com as mãos. - depois da formatura tudo vai mudar, vamos seguir caminhos diferentes. eu vou cursar moda e vou querer viajar o mundo, mike vai ser um advogado chato e você vai virar escritora. então vamos fazer isso direito. - Continuou. - eu não faço a mínima ideia do que você ele conversaram hoje. mas eu entendo você estar nervosa, eu também estaria. essas coisas sobre sentimentos são estranhos, mas, se você quiser, podemos esquecer isso essa noite e irmos para qualquer lugar onde ele não esteja. - propôs. - eu só quero viver uma das nossas últimas aventuras antes da faculdade. quero aproveitar ao máximo.

respirei fundo. aquela desgraçada sabia como me convencer.

- tudo bem. - peguei o vestido das suas mãos. - mas eu quero usar algo diferente. algo que a alaska usaria, mas sem ser esse vestido.

- tudo bem. - concordou indo até o meu guarda-roupa.

- e o que eu faço? - mike perguntou perdido.

- você desce pela janela e vai convencer o meu pai a me deixar sair.

- tudo bem, eu já volto. - avisou indo em direção a janela e sumindo segundos depois.

❪ • • • ❫

quando gabi estacionou o carro na frente da casa em que estava acontecendo a tal festa, fui obrigada a puxar o ar com força. tudo próximo da casa parecia pulsar de acordo com a vibração do sonora da música alta.

- eu acho que eu tenho claustrofobia. - disse vendo cada vez mais pessoas entrarem.

- o carro do ruel. - mike disse apontando para um carro não muito distante. - ele já está aí.

- sabem o que fazer, não é? - perguntei.

- deixa com a gente. - gabi sorriu se ajeitando no banco para conseguir olhar para nós dois.

- você vai fazer um discurso, não vai? - perguntei.

- claro que vou. - jogou o cabelo para trás. - caros colegas, estamos reunidos aqui hoje porque vamos fazer uma coisa muito importante. como esse é o nosso último ano no ensino médio, resolvemos fazer algo para nos lembrarmos. como já sabemos, nossa adorável boo conheceu, numa noite de sexta-feira, seu príncipe encantado. ou astronauta, dá no mesmo. ela e seu amante de algumas horas infelizmente não puderam se encontrar até agora. mas hoje, essa noite, vamos fazer o destino conspirar ao nosso favor nem que seja na força. - declarou se empolgando. - vamos entrar nessa festa, abalar a estruturas, beber um pouco demais da conta, fazer nossa melhor amiga dar uns beijos naquele loiro e depois voltar para casa como se nada tivesse acontecido porque somos semideuses. somos filhos de, sei lá, dionísio. será o nosso segredo, nossa aventura especial. eu pergunto: vocês estão prontos para embarcar nessa loucura? porque se não estão, eu aconselho vocês a voltarem para casa imediatamente. vocês estão prontos?

eu e mike dissemos um "sim!" animados.

- pois então. - se virou para a casa. - mãos a obra, temos um casal para formar.

[🚀] ecstatic shock | ruel van dijkOnde histórias criam vida. Descubra agora