• quatro •

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- sinceramente eu acho tudo isso muito injusto. - reclamei enquanto via gabi andando de um lado para o outro no quarto.

- é como diz aquele ditado do seu livro "o bem vence a batalha, mas o mal sempre vence a guerra". - citou jogando um vestido em mim.

- não é bem assim o ditado. - digo analisando a peça.

- tanto faz, você me entendeu.

depois de voltar para casa antes do expediente, gabi usar sua ótima dicção e bons argumentos com o meu pai e ele, erroneamente, permitir que eu dormisse na casa da minha melhor amiga, estávamos em seu quarto procurando algo para vestir. enquanto ela revirava cada canto daquele armário, eu estava atirada na cama dela.

- é uma festa a fantasia, que tipo de fantasia faz o seu estilo? - virou olhando para minha expressão de tédio.

- não sei, bandas adolescentes? - me sentei. - personagens problemáticos?

quase consegui ver uma lâmpada se acendendo acima de sua cabeça.

- aquela personagem, a do cigarro.

- alaska?

- ela mesma. - se voltou para o armário. - acho que tenho uma flor artificial igual aquela do livro.

- ninguém pode saber que eu saí, gabi. - lembrei. - meu pai me mataria.

ela se aproximou e se ajoelhou a minha frente, pegando um pouco da parte da frente do meu cabelo e jogando pra frente.

- a própria alaska young. - disse sorrindo.

quando ela se levantou, olhei para frente e pude ver meu reflexo no espelho. uma flor, idêntica a do livro estava presa no meu cabelo.

❪ • • • ❫

a adolescência moderna consiste em sair, beber, vomitar, fazer merda e rir mesmo que essas merdas te prejudiquem num futuro próximo só para parecer legal.

eu, particularmente, preferia estar em casa assistindo um filme qualquer ou ouvindo músicas ruins.

era final de ano e os meus futuros ex-colegas de classe estavam dando uma festa a fantasia idiota em comemoração ao final do ensino médio e ao início da vida adulta.

mas a verdade é que aqueles imbecis não pretendiam celebrar nada, só haviam arranjado uma desculpa esfarrapada para beber e voltar para a casa de seus pais no outro dia sem ter que ouvir reclamações.

meus melhores amigos, mike e gabi me arrastaram para esse lugar mesmo tendo em consciência que eu odeio festas desse tipo. na verdade, eu odeio festas no geral.

a música alta me fazia ficar tonta e minha cabeça começava a doer, os caras rindo alto, as garotas com olhares de predador para cima deles e suas maquiagens completamente exageradas e borradas me deixavam sem dúvidas. eu realmente não pertencia aquele lugar, mas havia prometido para gabi que tentaria ficar por, pelo menos, uma hora. era uma intrusa, uma espiã que acabou ali por engano.

gabi estava pendurada em um dos caras do time feito um chaveiro, já bêbada, e mike procurava seu futuro namorado, noah, enquanto eu estava sentada no sofá de couro na sala de estar.

ajeitei o vestido branco que gabi havia tirado de algum lugar ( eu realmente não faço idéia de onde ele saiu. eu adormeci por cinco minutos e quando acordei ela estava parada na minha frente com um vestido idêntico ao que a alaska usou na série. ) e suspirei pesadamente me dando conta de que até mesmo uma lanchonete vazia teria sido melhor que isso.

será que eles perceberiam se eu desaparecesse por alguns minutos?

me levantei do sofá ao mesmo tempo que swim começou a tocar. sorri fraco por, finalmente, tocar algo que eu conhecia e gostava.

me espremi entre as pessoas para chegar na parte mais calma da festa. empurrei a porta de banheiro e percebi que estava vazio, para a minha sorte. entrei em uma das cabines e abaixei a tampa do vaso para me sentar.

mads♡

"onde você está?"

"mike e gabi me arrastaram para uma festa."

"e você não sabe dizer não ???? você faz tudo que seus amigos mandam, não acha que pode tomar decisões sozinha ????"

revirei os olhos. madison era minha ficante a alguns meses, mas não tínhamos nada realmente sério, mesmo que na cabeça maluca dela tivéssemos. bloqueei a tela a ignorando e sentindo a música me fazer sentir anestesiada de toda a merda que me rodeava.

até que eu ouvi a porta do banheiro ser aberta e o ofegar forte de um garoto. sua respiração estava acelerada ao ponto dele não conseguir nem mesmo respirar direito e ele não se preocupava em respirar, ou não conseguir, baixo.

sem perceber, abri a porta da cabine e olhei na direção do garoto. se tratava de um cara enorme com uma fantasia de astronauta. a fantasia estava completa, contando até mesmo com um capacete que escondia seu rosto.

- ei. - chamei o assustando e chamando sua atenção. - está tudo bem ai?

- sim, eu estou bem. - respondeu baixando a cabeça. - obrigada por perguntar.

- não parece. - insisti. - você parece estar sufocando. precisa de ajuda com a gola?

- sinceramente, sim. - respondeu passando a mão coberta pela luva na parte da frente do enorme capacete. - um garoto ajeitou para mim, estava um pouco folgada, mas eu não sei o que fazer. acho que ele apertou demais.

- ok, não sei muito sobre roupas, mas vou tentar não sufocar você. - brinquei me aproximando e ouvi uma risada fraca.

- ah, obrigada. - disse ameaçando tirar o capacete.

- não precisa tirar, eu já estou acabando. - avisei. - pronto, está melhor?

- acho que sim, obrigada.

- tudo bem. - me encostei no batente da porta da minha cabine.

- qual seu nome? - ele perguntou.

- ãn, boo. - respondi. - e o seu?

- boo? - repetiu. - tipo "buuu"? - tentou imitar um som de fantasma tradicional.

- é, tipo assim. - concordei sorrindo.

- neil armstrong. - respondeu minha pergunta anterior em tom brincalhão. - e o que a pequena boo faz numa festa como essa?

- eu não sei. - dei de ombros. - eu só quis vir, sabe?

- o que você estava fazendo no banheiro? - continuou seu interrogatório com sua voz abafada.

- o que uma pessoa faz quando vai ao banheiro? - devolvi a pergunta.

- ah, desculpa. - riu enquanto ajeitava o capacete na cabeça.

- tudo bem. - acompanhei sua risada. - eu estava me escondendo dos meus amigos.

- mas por quê?

- ah, sei lá. as vezes ele me estressam demais.

- se eu tivesse amigos não me esconderia deles.

- é...

- então... - continuou. - você tem namorado?

- pergunta isso para cada garota fantasiada de alaska young que você encontra?

- eu gosto dela. - deu de ombros.

- como assim? - senti um sorriso crescer no meu rosto. - conhece john green?

- "como escapar desse labirinto de sofrimento?" - citou o maior enigma do livro.

- "direto e rápido". - respondi ainda surpresa.

[🚀] ecstatic shock | ruel van dijkOnde histórias criam vida. Descubra agora