Sabe o que é legal da Roda Gigante? É que em algum momento você vai voltar lá pra cima. E pode ser que, quando chegar sua vez de apreciar tudo o que dá pra ver de lá, o operador te deixe ficar lá por mais tempo...
Minha vida tava mais pra Montanha Russa. Subia e descia, dependia do dia e de que parte da minha vida tu queira saber. Esse sobe e desce me enjoava. Os shows eram lindos, mas a volta pra casa era solitária. Estranho sentir tanto quando estava no palco pra tantos passarinhos, mas saber que quando eu voltasse pra casa só me restava vazio e a solidão num lugar que já foi tão casa, tão cheio de vida.
Por isso eu precisei me reinventar e sair daquele brinquedo. Tive que mudar minha rotina, meus costumes e até mesmo quem tava comigo quando tudo isso acontecia. Eu não podia contar com Ana pra quase nada! Ela era uma pessoa quando viajamos, outra nos shows, outra nos instastories e outra quando se tratava de Mike.
O sol de Ana não era Leticia, não seria eu, e não era mais apenas "Sol". Virou "Solzinho". Ana era a Lua e também se fazia de eclipse as vezes. Eu não sabia lidar com tudo isso. Não era fácil não pensar nela. Era estranho não contar meus planos, não encontrá-la em casa todo dia de manhã, enquanto eu fazia nosso chá acompanhado com qualquer coisa vegana que eu tentasse fazer Ana comer e gostar. Mas eu não tinha perdido a fé de tê-la comigo de novo, nem que fosse como a amiga de antes.
Eu poderia contar melhor pra vocês, como cada coisa foi se acontecendo e firmando, deixando de ser. Apesar da mágica que se fazia nos shows, até nisso estávamos mudando. Só que no show do Circo Voador em 12 de Agosto de 2017, apesar de todas as diferenças, dali algo ficou em mim e acredito que nela também. Aquela aproximação que leva paz e perfume no momento em que ela cantava Coração Carnaval.
E apesar de tudo eu ainda via muita beleza em Ana e na arte que ela era e fazia. A admirava com cara de boba, talvez até ainda de apaixonada, mas logo afastava essa vista e leitura minha por ela. Meu humor mudou depois daquilo e tudo foi mais lindo ainda com a ajuda de toda luz que se mostrava e crescia a cada nota. Em Dengo, Ninha me olhou enquanto professava a frase que fez meu coração chegar a beira do infarto: "Não consigo amarrar um outro nó a alguém além de ti".
Chamego Meu trouxe minha súplica feita para Ninha que insistia em pedi-la que "É tão bom te acompanhar, e ver você sendo você. Te observar me adivinhar e me ler sem legenda nenhuma. É tão fácil te gostar, vira parte do viver. Se tu não se envaidecer, prometo sempre lhe dizer: Chamego meu, olha pra cá...". Eu queria ser olhada, notada e ali estava sendo.
Meu peito transbordou ao som do coral que fizeram virar o nosso Trevo. Tinha leveza, braços abertos e coração pulsante. Gratidão e emoção eram os sentimentos por ver todos ali, lotando aquele lugar. E poder saber que era pelo que eu Ana sempre saberíamos ser: Uma unidade. Eu queria continuar voando com ela, e não ser pássaro de asa quebrada, preso em gaiola. E então ela veio até mim e deitou rapidamente a cabeça no meu ombro. Um choque tomou todo meu ser e virou aquecer do coração. Ali tudo já tava de volta, nada mais importava...
Cor de Marte iniciou e eu gelei. O transe era tão grande que eu nem me lembrei da ordem que era definida no roteiro. Cantei com toda minha alma, minhas mãos, olhos fechados e o pensamento e coração estavam nela. Eu sentia a energia que agora era boa e dançava entre nós. Eu sentia que Ana estava como eu e por isso também não me olhava. A confirmação disso veio numa das ultimas estrofes, quando com um sorriso aberto e olhos de brecha, nos conectamos à uma parte nossa que eu não via há muito tempo.
Singular me fez ver como ainda eramos intimas e me fez ver também que eu era péssima em esquecer Ana! (lê-se imaginando minha risada boba e meu balançar de cabeça). Continuando ali, ao ver Ana declamando o poema que é Tocando em Frente, vi que tudo o que ela tinha feito era seguir, ela só fez isso sem mim. Nessa hora eu me afasto um pouco pra que seja algo dela. Então a vi olhando em busca de mim e senti sua reflexão. Senti o que minha amiga estava passando. Vi que talvez não fosse fácil pra ela também.
Amor 2em1 nos trouxe mais pra perto até mesmo literalmente. Cada verso que a gente cantava eu lembrava de uma cena em que estávamos juntas, nos amando e sendo nós. Evitei olha-la até pra disfarçar tudo o que era óbvio diante das minhas caras e gestos. Ali haviam pedidos, saudade. Faltava ar, voz e ação. Naquele momento o tempo era lento e gostoso de estar, Ana era minha ainda.
Mas como tudo é Montanha Russa, como eu disse a vocês, logo veio Barquinho de Papel como especie de adaga no peito. Tudo ali dito era uma verdade sobre mim e aquele poema recitado foi o que mais declamei com minha alma. A diferença era que sim, eu sentia falta de tudo nela. Da respiração, do erre puxado, do perfume, do signo e pele escuros, da presença no encaixe que fazia quando me abraçava, no mar das ondas que eu remava sem norte, até sair dele ou me afogar e viver dentro dela pra sempre.
FICA se fez em meio a sorrisos, mas como mais um dos mil pedidos que minha alma fez para Ana naquela noite. Eu a queria de volta comigo, talvez devêssemos ser uma só. TUA só confirmou esse sentimento de pertencimento que tenho em relação a Ana. Nós duas somos rima, par, dualidade, singularidade, paz, caos, afogamento, mas ainda distância. E eu não sabia como me reaproximar novamente.
As outras músicas vocês sabem o que pode ter causado na gente. A sequencia de sempre deu vida à Talvez a Deus, em Cores nem minha voz era mais a mesma. Eu queria chorar, mas era de alegria. Não cabia tanto dentro de mim, então me joguei tentando extravasar. E depois de Dê um Role, encerramos, saímos do palco e eu cheguei de surpresa pra Ana, a puxei pro Camarim e ao entrarmos.
–Aqui, Ninha, entrego a ti, o beijo que pede perdão e reencontro, mas que também quer dizer: Meu amor, doí te ver partir sem mim. Eu não quero que vá, mas sei que você e eu precisamos. Seu lugar sempre vai ser aqui, se precisar é só voltar ... – Ana me olhava sem entender nada e quando ia continuar a interrompi. – Não fala nada, Ana. Essa aqui talvez seja só o fim de um capitulo, os próximos talvez tragam a gente pra se banhar no mesmo rio das primeiras vezes juntas.
A beijei. Ela não entendeu tudo o que fiz e disse em menos de um minuto e por isso tentou resistir por um ou dois segundos. Quando notei sua incerteza, a puxei pra mais perto, posicionei minhas mãos entre seu cabelo e firmemente em sua cintura. Meus lábios pareciam gritar contra os dela e logo os seus me deram consentimento pra continuar. Minha linguá também foi intrusa, mas ela conhecia o caminho a ser feito e se abrigou na boca mais perfeita para seu passeio. Quando ia acabando aquele beijo que pareceu durar anos, Ana suspirou e me puxou pra perto dela de novo, mas eu não poderia ficar sabendo que não era por inteiro. Que não seria a única.
E assim saí. Agora em paz, dona da minha própria felicidade. Completa, única, de portas abertas pra receber Ana se ela quisesse voltar. E também abrindo novas portas pra viver coisas que não necessariamente tivessem ela ali do meu ladin, sendo meu par. Só que parte de mim, na verdade, precisava aprender que nada seria fácil, independente do que acontecesse. Eu não sabia por onde Ninha andaria, onde estaria, só sabia com quem ela dividiria os momentos de transversão na vida.
Então, como eu tinha mudado, me aceitado, avançado, aprendido. Minha mudança foi marcada! Dia 22 de Agosto foi o amanhecer que escolhi pra isso. Afinal, "tudo começa e termina em sua mente. O que você dá poder. Tem poder sobre você. Se você permitir." Ana também deve ter visto meu beijo como impulso pra recomeçar e escolheu um dia pra ela até mais cedo que eu. Acho que notou minha mudança, minha ruptura final. A mudança dela ficou no dia 19 de Agosto, e além de mais cedo, foi mais séria, mais rápida.
Ana tinha alguém pra amar mais do que a mim...
E sobre minha conversa com G de Melo, aguarde aí, um dia eu volto pra contar mais um pedacinho...
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Incerteza.
FanfictionCapa: Catarina13ac Oiê, meu nome é Vitória Falcão, e não, esse não é um anúncio do Duo ANAVITÓRIA... Nesse lugar bem aqui, eu vou procurar dizer pra tu bem aí, o que tem sido minha vida e como algumas coisas nesse mundo cheio de bagunça são pra mim...