De dedinho.

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- Vitória? Acorda, menina! - A voz de Sabra ecoou ainda um pouco distante de mim.

- Que foi, mulher? Me deixe - Falei sem querer me mexer.

- Tá ficando doida é? Levanta daí e vai se deitar na cama. Para de dar susto na pobre da Ana.

- Susto na Ana? - Falei me levantando do sofá no qual eu tinha provavelmente adormecido enquanto Ana tava tomando banho.

Droga, o sonho. Pera, foi  um sonho? Não, mais uma vez não... Ana Clara parece assombração, um pesadelo constante. A presença constante dela me faz perder as ações. Ela tem em mim mesmo efeito que uma paralisia do sono. Cê sabe o que é paralisia do sono? Se não sabe, nunca queira viver isso. Esses pesadelos são um castigo da vida ou o que? Foi tão real. Como eu dormi tão rápido? E ela tava aqui?

- É, sua doida. Ela disse que tu chamou por ela e depois de um tempo falou meu nome, aí foi me avisar pra ver se tu não tava passando mal e disse que já ia pro quarto.

Levantei meio tonta, certamente culpa daquelas cervejas do show. Ok, Vitória. Aja naturalmente. Caminhei pro meu quarto e me joguei na cama, sendo seguida por Sabra. Tá, eu tinha que resolver tudo sobre esses sonhos, ou não ia mais querer dormir.

Mas o que fazer? Não sabia compor, não sabia  escrever poemas... Um diário! Já tive diários enquanto menina, mas depois não tinha tentado mais. E sinceramente, não acho que eu tenha mais idade pra isso. Pera! Se eu não conseguia guardar pra mim, nem viver o que pensava, precisava escrever mesmo que não soubesse direito, mesmo não sabendo como nem onde fazer.

Uma vez eu vi e li algumas histórias escritas por fãs sobre eu e Ana, tinha até deixado no celular pra ver melhor depois, mas nunca lembrei. Abri o aplicativo e percebi novas histórias sobre nós e curiosamente não quis abrir pra ler, não conseguiria.

Decidi que seria ali mesmo que escreveria, mas não naquele dia, não depois daquele sonho. Não sabia como as coisas seriam, nem como seria escrever contando tudo o que me trouxe até aquele momento mas sabia que na hora certa o faria, e ali seria onde eu iria tirar tudo o que me sufoca do meu ser.

[...]

19 de Outubro de 2017

Marcamos uma reunião pós-show com direito a todos juntos: Eu, Ana, Mari, Gabriel, Danilo, Guto, Clara, Mike, Julia, e Sabra. Nunca dava pra juntar todo mundo, e, mesmo eu querendo ficar em casa sozinha, fazendo vários nadas, Sabra tava aqui, eu tinha que aproveitar minha irmã e fazer ela se divertir um pouco. Durante todo aquele dia Ana se manteve distante, pouco falou comigo, e sinceramente eu não tinha cara pra encarar ela. Era perigoso  demais arriscar e mais ainda sem saber o que ela ouviu e o que sentiu depois de tudo aquilo no show. Sem falar na presença da Mari lá, ela não foi pro show com a gente, mas veio ficar um pouco com a gente.

Depois de muita conversa, de jantarmos, conversarmos mais e bebermos muito vinho, alguns já tavam tombando de sono, mas continuávamos ali rindo e vaiando quem resolvesse pedir arrego pra ir dormir. A primeira foi Mari, que depois de ser vaiada veio em minha direção e se despediu com um beijo demorado em minha bochecha. Suspirei pesado ao notar o incomodo de Ana, e mais ainda com a cara que Mike tentou esconder quando a abraçou e cochichou em seu ouvido o que deve ter sido um chamado pra subir pro quarto. Logo se levantaram também e depois de sua vaiada dupla subiram pra dormir.

Passados alguns bons minutos, pude ver aquela silhueta familiar apontar pela janela, era Ana nos olhando. Pela cara que ela tava quando subiu, achei que já tivesse dormindo, mas vi que tava enganada. Mesmo de longe percebi que ela nos olhava com uma expressão vazia, como se quisesse ficar com a gente lá em baixo e por algum motivo não ficou. Ok!

Incerteza.Onde histórias criam vida. Descubra agora