Incerteza.

Atuando.

O lugar onde tudo começou, o lugar onde eu deveria começar a cumprir a promessa que fiz a mim mesma e a outra versão de mim, garantindo a nós duas que as coisas seriam diferentes. Que não haveriam mais chateações, nem muito menos jogos de ego. Que recomeçaríamos sem mais lamentar, apenas deixando frouxo o laço do presente que é a nossa vida. Não, não proferimos essas palavras com nossas bocas, firmando esse acordo aí. Ás vezes as palavras só são usadas em última instância e aquele não foi o momento para elas. Olhos muitas vezes falam mais que a boca, ações falam mais que a boca, emoções falam mais que a boca.

Lembro do nosso primeiro dia em terras portuguesas. Era uma coisa de outro mundo estar bem ali, naquele lugar tão lindo, realizando um sonho que a pouco eu não sabia que tinha, mas que foi pensado e virou realidade. A gente tava recebendo o retorno do amor de vocês, vindo do clipe de Trevo, como também do lançamento do disco em Portugal e de estarmos tocando em rádios da Europa! Eu nunca que imagina viver pra ver isso. E tudo no mesmo dia da nossa chegada. A cada um que o disco e o clipe alcançou, a gente via que, do seu jeito, era demonstrado como as nossas poesias musicadas foram recebidas. No caso do clipe, aquela fora a aliança da nossa unidade com a beleza do bonito do Piçarra, o moço que nos levou até ali. 

Era tanta coisa bonita acontecendo que eu tinha medo de acordar e ser apenas mais um dos meus sonhos. E com toda a correria e tudo o que  fizemos até aquele momento, eu menti quando disse que tudo ficaria bem, que daria certo e que as coisas mudariam. Seria egoísta dizer que haviam conflitos não resolvidos dentro de mim e não seria nada profissional também. Então, por mais que coisas ainda me incomodassem, eu busquei espantar meus medos e trabalhar. Deixei minhas dores e lamentações pra vocês, me desculpem por isso. Quis trabalhar dando o melhor de mim pra quem precisasse partilhar do meu amor, foi aí que eu disse a vocês, que por mais que existissem problemas, eu passaria o melhor de mim para 'Tu, tu e mais um tanto de gente que queira - quisesse - receber ele...'

No momento em que me vi sem poder expressar tudo o que sentia, vi que era o momento de começar toda essa loucura aqui. Tá parecendo uma despedida de vocês? Talvez. Mas, relaxe, nem é! Me aguente mais um bocadinho de tempo...

[...]

Depois daquele pesadelo-sonho-paraíso que tive com Ana, pesadelo-sonho-paraíso esse que eu não tinha tido mais -(in)felizmente -, minha cabecinha não parava de projetar aquele sorriso aberto de dentin pequeno. Embora que não fossem projeções egoístas com desejo de posse. Eram projeções acompanhadas de orações pra que a felicidade dela fosse constante, que nada viesse a tirar o brilho dos olhos daquela menina perdida. Então eu tive que encenar ainda mais, mostrar que tava bem, pra que tudo continuasse bem. E de fato, tava tudo indo bem, o que me fez reviver tudo foi o bendito do show do Mayer e aquele sonho, mas de resto, com relação a Ana tava tudo bem. O que preocupava eram os outros e toda a carga das outras partes da minha vida e da dela também. Fingi e encenei tanto que cheguei a duvidar de mim mesma até onde toda a peça teatral "real life" era só teatro de fato. Foi vivendo assim que cresci, me reinventei, foi assim que um dia parei e vi que, apesar da história com Ana ter ficado em mim como uma queloide gigante, já não doía mais. Marcou, foi profundo e de longe dá pra ver que foi um trauma grande, mas que agora ficaria tudo bem. Foi demorado, mas cicatrizou.

Olhando pra trás e especificamente pr'aqueles dias em Portugal, te digo que sim, mudei muito! O tempo que passou de lá pra cá foi curtinho, mas mesmo assim muita coisa mudou. Não sei como nem o que fiz, eu só vivi, sem muito pensar e muito fingir até chegar aqui. Te agradeço por dividir cada sentimento vivido, dia, foto e persona que ganhou vida nesses desabafos, foi e é foda de fazer acontecer!

Não sei se tu entende, mas eu e Ana, vivendo como artistas, somos amantes de almas. Não conseguimos manter tudo bem por muito tempo, seria fácil demais. A minha vidinha sempre teve muita emoção em pouco tempo, e por isso eu não nunca pude, ou nunca quis perder tempo pensando. Eu só perdi tempo vivendo e amando, mesmo que esse tempo tenha sido gasto em vão algumas vezes, mesmo que minhas escolhas tenham me trazido escuridão, foi nesse tempo onde eu me descobri e me realizei em vários sentidos. Foi por não pensar que mandei nosso vídeo pro Felipe, foi por não pensar que deixei Ana Clara me beijar da primeira vez e o resto eu já contei.