As coisas da vida se fazem de repente, sem aviso previo. E por isso estamos sozinhos nela. Por mais pessoas que tenhamos ao nosso lado, tudo se faz de forma única para cada um, e só tu que tá vivendo cada situação, saberá o que ela significa e quais consequências terá.
[...]
Ana saiu do quarto correndo e de cabeça baixa. Mari me olhava sem expressão, encolhida no chão ao lado da geladeira. Eu não conseguia falar nada, mas sabia que algo precisava ser dito, muita coisa precisava ser dita. Sobre Ana eu não podia resolver nada agora, primeiro eu precisava sair do transe e da paralisia e falar com Mari, depois eu precisava me vestir e só então ir procurar Ninha. A essa altura eu não tinha mais certeza sobre nada. Até o duo era incógnita pra mim, e isso me fez arrepiar de medo do que podia acontecer.
– Mari, me desculpa. Eu não queria ter feit...falado isso. Eu sei que tu não tá entendendo nada, e que tudo foi levando uma coisa a outra... – Mari nem olhava pra mim, eu já tava com medo dela surtar ou cavar um buraco no chão só pra fugir dali.
– Tu tá ficando com a Ana, Vitória? Quer dizer, tu tem alguma coisa com ela? Mas ela tava com o Mike... eu. Eu não sabia. Burra que fui em ter me metido contigo. Felipe vai matar, Ana vai me matar. Se brincar até Mike queira me matar também! – Ela não parava de falar, já tava sem ar quando disse a última frase.
– Ei, não pensa assim, tá? Eu sei que tá tudo confuso, mas quem tem que resolver tudo sou eu. Toma um banho, come alguma coisa e vai pra casa. É...é... eu vou tomar um banho, colocar uma roupa e tentar achar a Ana. Depois eu me resolvo com Felipe se precisar, mas por enquanto não precisa dizer nada pra ele. – Ela levantou e ia saindo quando decidiu me dizer mais uma coisa que me tirou o resto do chão que tinha sobrado debaixo desses meus pés.
– Vi, e a gente? – Respirei. Coloquei a mão na testa como se quisesse segurar a cabeça em cima do pescoço depois que meu mundo rodou.
– Mari, eu não tenho condições de responder isso pra ti, vai tomar banho, por favor! – Mari fez que sim com a cabeça e eu fui procurar meu celular só agora vendo as mensagens que tinham nele.
Whatsapp: 547 mensagens - 9 conversas
Ligações perdidas: 13 de Ana 🐥
Instagram: 15 Notificações no Direct de Ana.
A maioria das mensagens eram de Ana. Depois de abrir uma por uma, em cada um dos aplicativos, vi o que deixei de lado por efeito da bebida. Nessas mensagens Ana dizia que precisa muito falar comigo e que as coisas saíram do controle noite passada. Em algumas ela pedia desculpas, nas mais recentes ela pedia explicações e falava sobre precisarmos conversar sobre nós. Eu não sabia o que fazer.
Meu mundo rodou mais uma vez. Possivelmente Ana queria falar comigo por algo sobre ela e Mike, mas agora eu acho que ela não teria mais nada pra esclarecer. Ela tinha me visto dizer que a amava enquanto uma de nossas amigas me tocava com intimidade nítida no chão da cozinha do quarto de hotel que eu dividia com ela. Enquanto eu encarava o celular, já tendo esquecido de que estava nua ainda, Mari saiu do quarto rápido demais pra ter tomado banho. A encarei como se perguntasse o que ela faria e então ela me respondeu também com o olhar, depois passando os olhos por meu corpo todinho várias vezes. Engoliu seco, baixou os olhos e foi a caminho da porta, A mesma que Ana saiu há menos de meia hora.
– Vi, tem certeza que você não que falar sobre isso? – Eu sabia que devia explicações a ela, e que ela não precisava passar por isso sendo que caiu no meio do Caos chamado AnaVitória versão: casal problemático edição 2017. Mas eu só queria resolver isso com Ana primeiro. Depois, todos os outros que pudessem ser afetados também teriam minhas desculpas.
– Tenho, Mari. Vai, por favor!
Depois que ela saiu eu fui pro banheiro, tomei um banho lento e choroso. A cada vez que eu fechava os olhos podia ver Ana encarando aquela situação, a cada vez que eu piscava, suas mensagens apareciam na minha mente. Já não bastava tudo isso, eu também perderia Ana pra Mike e nem parte dela poderia ter mais.
Acabei o banho e fui procurar uma roupa na mala que me deixasse com cara de menos perdida do que eu já tava, caso fosse preciso procurar Ninha pelo Rio todinho. Quando acabei, peguei meu celular de novo e tentei ligar pra ela: um, dois, três, quatro, cinco, seis toques até que ela atendesse de forma totalmente seca.
– Pode falar, Vitória! – Respirei pesado.
– Ana, a gente pode conversar? Onde você tá? Nosso voo para São Paulo sai às 4, vem aqui. Vamos resolver isso, por favor! – Suspirei e aguardei uma resposta dela. Não tive. Ana desligou o celular e eu me joguei na cama pensando no que aquilo poderia significar. Chorei com toda a raiva que eu tava de mim mesma, de Ana e daquela situação. Era óbvio que essa de ficarmos uma com a outra sem estarmos juntas de verdade não daria certo. Como eu pude fazer a besteira de me envolver pela metade?
[...]
Depois de mais um tempo, olhei que o relógio já marcava 10:00 da manhã, e fui guardando minhas coisas na mala e a arrastei pra sala. Quando virei pro sofá, tremi de susto quando vi que Ana tava sentada na poltrona perto da TV, de pernas cruzadas e celular nas mãos que apoiavam seu queixo. – Isso tinha que ser um filme, ou novela mexicana. Até pesadelo eu aceitava que fosse, tudo pra sair daquele lugar.
– Quer sentar, Vi? Vai começar falando, ou quer que eu comece?
(And I told you to be patient
And I told you to be fine
And I told you to be balanced
And I told you to be kind 🎵)
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Incerteza.
Fiksi PenggemarCapa: Catarina13ac Oiê, meu nome é Vitória Falcão, e não, esse não é um anúncio do Duo ANAVITÓRIA... Nesse lugar bem aqui, eu vou procurar dizer pra tu bem aí, o que tem sido minha vida e como algumas coisas nesse mundo cheio de bagunça são pra mim...