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—Bora Lorena, ó a hora—chamou meu pai me balançando na cama, abrir meus olhos ainda sonolenta.

— Tão delicado o senho—resmunguei abrindo meus olhos contra gosto. Cara só tinha três coisas que eu odiava mais que acordar cedo. A fome, a miséria e a violência contra mulher. Fora essas coisas, acordar cedo era meu cavalo do apocalipse do caralho e eu ODIAVA.

— Melhor eu que sua mãe, no primeiro grito cê não levantasse, a porrada comia solta—falou com ar de riso saindo do meu quarto.

Arrumei-me contra gosto pensando a razão a qual eu não nasci genial, sem necessidade de estudar mandei mensagem para minhas amigas perguntando se estavam prontas e se eu podia descer. Desci com um sono, que senhor Cristo, acorda cedo é coisa do diabo.

— Bom dia-—berrou a Geovana assim que apareci no portão da casa delas, eu não entendia na real para quer essa animação insuportável.

— Pode me dizer o que tem de bom quando se acorda as 6:40 da manhã?—resmunguei mordendo minha maça verdinha, sim, verde, era minha característica mais mimada, minha maça favorita era a verdinha.

— A Gio ficou com o Alex ontem de novo—explicou Gabi no mesmo animo que eu, após fechar o portão, começamos a descer em sentido ao meu inferno pessoal.

— hum, que legal gatinha—disse

— vocês morreram foi? animação vadias, eu transei gostoso ontem—saltitou pela calçada, essa era a sensação de transar? legal.

— Animação? Só depois das dez da manhã, no mínimo, jogo confete, agora, nessa hora da manhã, eu tenho tudo, impaciência, fome, desgosto, decepção, menos felicidade—falei e a Gabriela riu, colocando os fones no ouvido, era visível que ela havia chorado a noite inteira, mesmo com a tonelada de base que ela tivesse no rosto.

Fomos o caminho todo em silêncio, Gabriela em seu celular e fones, Giovana em seu mundo silencioso e eu pensando no carinha que tinha me feito passar base no braço pro meu pai não ver...quem era ele? A única pessoa que eu conhecia por boatos que tinha a aparência dele era...mas não podia ser ele, se não, agora, nesse instante, eu estaria morta.

(...)

Aula passou e logo o sinal tocou, a gente foi quase correndo comer merenda, isso mesmo, três passa fome desesperada por comida. Quando chegamos na fila da merenda estava fazendo voltas e quando finalmente chegou nossa vez de merendar, Gabriela se revoltou porque o suco de maracujá tinha acabado. Eu entendia que ela estava afetada, mas que coisa sem noção de ficar birrando com a tia da merenda por isso.

—Pô tia, tem de maracujá não?—perguntou Gabi com a cara feia.

—Meu anjo, cala a boca, se tá achando ruim, toma água, eu ein—disse pegando o suco de morango que era o que tinha disponível.

—Grossa do caralho, fica na sua.—reclamou e saiu andando

—Que foi? A Gabi com as frescuras dela de novo?—perguntou Gio.

—As vezes dá vontade de dar uns socos na cara dela, e depois colocar pomada.—disse levando o garfo a boca.

—Consegui um pouco de suco de maracujá-falou sentando bebendo o suco.

—Frescura-falei e ela me mandou o dedo

—Carai, eu não gosto, vou te obrigada a toma suco de manga, aí você vai ver—falou e eu fiz cara de "eca"

—iiih—falei vendo o João se aproxima todo manso, esse fora quero ver.

—Gabi, a gente pode trocar uma ideia?—falou

—A única coisa que eu quero trocar com você, é nosso acordo de distância—falou em um tom claro de desprezo.

Gabriela é muito insistente, mas quando ela abre mão meu parceiro, apenas aceita. Quem via essa conversa de fora acreditava que ela estava intocável, eu, por outro lado, sabia que essa conversa a matava por dentro.

—Linda, a gente precisa mesmo conversar, eu sei que tipo... vacilei, mas eu quero só um momento contigo—falou coçando a cabeça.

—Anjinho de luz, deixa eu te falar, a única conversa que teremos é essa ou preciso escrever para você que a gente acabou? Foi você mesmo que pediu, aliás—perguntou finalmente olhando nos olhos dele, seu olhar gélido fez o João querer recuar.

—Linda, por favor...não precisa disso cara, só precisamos conversar.—ele murmurou e eu já comecei a perder a minha paciência.

—Vai lá João, vai atrás de suas puta, me deixa aqui na minha paz—falou voltando a comer.

—Gabriela, precisamos conversar mesmo.—insistiu e eu me irritei logo.

—Querido, você não entendeu? Vamo parando que já tá ficando chato.—avisei olhando pra ele serinha.

—Nem com você eu tô falando ruiva, não se mete—falou

—Primero, corta essa suas intimidades, Lorena para você. Lô para os considerados e ruivas para os íntimos. Segundo, pouco me importa se você não tá falando comigo, na hora que eu quiser falar, eu irei falar, e eu quero ver quem é o cavalo do cão de me fazer calar a boca—cruzei os braços irritada

—Vou indo, depois nós conversa Gabi—falou

—Ele não entendeu...amnésia ou hazime? Eu não vou conversar com você.—determinou.

—Então suave—murmurou ele

—Obrigada—falou mandando beijo no ar.

—Vixi,o cenário ficou louco—falou Gio levando na boca seu suco, ela ficou calada assim só porque sabia que a irmã saberia se defender, caso contrário, ela teria ela mesmo arrebentado o João na porrada.

O Dono Da Maré Onde histórias criam vida. Descubra agora