Capítulo Dezessete.

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Maju narrando:

Já era de manhã.

Estava coberta de aflição e desespero após saber que Priscila havia tido um aborto espontâneo por conta de um problema na placenta e agora estava internada, ela havia tido uma hemorragia.

Luan não quis me levar mas era Priscila, e Priscila era minha melhor amiga desde meus dez anos, eu iria sim, acabei reconhecendo que quando eu precisava Priscila me apoiou e agora era a minha hora de retribuir seu apoio.

Quando chegamos no hospital Luan foi logo me guiando pelos corredores brancos e azulejados até uma sala de espera enorme coberta de gente, olha que era somente sete da manhã. RL estava em pé com olheiras profundas e olhando pro nada, senti um aperto no coração ao vê-lo sem aquele sorriso aberto nos lábios, não sabia o que estava acontecendo comigo ao sentir pena dele.

Luan foi ao encontro dele e o envolveu em um abraço forte e pude ver o desabafo de RL no ombro de Luan, ele estava chorando. Me aproximei dos dois e me sentei em uma cadeira os fitando, Luan dizia algumas coisas que minha audição não captou para RL, e o mesmo tentava esconder seu rosto avermelhado e abatido.

─ Como aconteceu? Foi de repente? ─ Luan indagou após soltar RL do abraço apertado e confortador.

RL sentou-se ao meu lado fungando e fitou o chão, colocou o boné sobre sua cabeça tentando disfarçar seus olhos avermelhados.

─ Ela não foi pra escola, estava sentindo muita dor e eu até quis levar ela no hospital mas ela não quis porque disse que tava tudo pá, mas ela tava estranha, tá ligado? Só que teve uma hora que ela desmaiou quando tava tomando banho e ela tava sangrando muito, falei com a mãe dela e trouxe ela pra cá, aí de cara já sabia, ela tinha perdido nosso filho, meu primeiro filho... O foda mano, é que a gente já tava comprando tudo, vai ser difícil entrar lá no quarto e ver aquelas roupinhas e sapatinhos no guarda-roupa ─ RL confessou com lágrimas nos olhos.

─ Sinto muito parceiro, eu já senti essa mesma dor de perda, mas me diz aí como a Priscila tá?

─ Ela sofreu uma hemorragia, quase que ia pra UTI porque foi muito forte...

RL meteu a cabeça nas mãos e Luan deu umas palmadas de leve nas costas do amigo em consolo. Senti meu coração em pedaços, era como uma pancada, eu não entendia muito bem mas RL transmitia todo seu sofrimento de perder seu filho, agora eu sabia o quanto RL amava Priscila.

Meu coração acelerou-se mais ao saber o estado de saúde de Priscila, ela era tudo na qual eu tinha no momento, a única que me ajudou quando todos viraram suas costas para mim.

─ Tenho que ir, a boca tá sozinha hoje, se precisar de alguma coisa me liga e depois volto aqui...

─ Tudo bem, mano.

RL abraçou Luan com força e deu um leve sorriso fraco.

─ Mantenha sua fé, nós somos guerreiros e nessa batalha não caímos, Priscila é uma ótima pessoa e todos amam ela.

─ Obrigado, de verdade.

  ─ Vamos, Maria Júlia...

─ Não vou, é minha amiga que está aqui e vou ficar aqui.

Luan bufou rolando os olhos.

─ Tu não pode ficar aqui caramba, temos que ir, não tenho o tempo todo.

─ Quero ver quem é que vai me tirar daqui ─ o desafiei arqueando minha sobrancelha.

─ Fica susu, Luan. Eu cuido dela, mais tarde vou voltar pra Rocinha, aí levo ela ─ RL tranquilizou-o sorridente. 

Apenas um TraficanteOnde histórias criam vida. Descubra agora