Capítulo Oito.

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Maju narrando:

Eu andava por aquele lugar com certa repulsa, todos ali paravam o que faziam para me visar e cochichar. Fazia cara de nojo por onde passava.

Empinei meu nariz e andei por ali procurando o que não sabia, tentava recobrar minhas memórias de ontem e poder encontrar o caminho da casa de Priscila. Observei tudo por ali. As casas eram simples, sobrados, quitinetes, bar, salão de beleza, a rua era de paralelepípedo e aquilo fazia meus pés doerem mais ainda, eu precisava encontrar Priscila e ligar pra Rafael para finalmente sair daquele lugar.

As pessoas ali dançavam e sorriam, de alguma forma eu nunca havia visto aquilo na minha vida ou nos lugares onde frequentava ou vivia, todos eram pobres e mesmo assim demonstravam uma felicidade verdadeira e não sorrisos falsos. Devo admitir que havia mulheres bonitas ali, mesmo com shorts dentro do útero e o corpo quase nu, o que de certa forma diminuía o caráter na qual elas não possuíam.

─ A dondoca procura algo? ─ um cara alto de cabelos escuros parou em minha frente. Ele tinha cordões de ouro em volta do pescoço, trajava uma camisa escura e uma bermuda jeans quadriculada nas cores verde escuro e cinza. Os olhos eram castanhos claros e aparentava ser novo.

─ Procuro a casa da minha amiga, Priscila ─ eu disse baixo.

─ Prazer, sou Douglas vulgo DG, sou o dono e rei da favela ─ estendeu sua mão e fiz cara de nojo voltando a andar. Agora mesmo todos me olhavam atônitos.

─ Posso te acompanhar até a casa da Priscila? ─ ele perguntou-me e dei-lhe ombros.

Aquele era um lugar tão nojento, tão contaminado, me sentia perdendo minha dignidade por colocar meus pés finos naquela droga de lugar. O cara lá me indicou a casa de Priscila e sumiu antes que eu pudesse dizer algo. Que se foda, só mais um favelado e logo irei sair daquele lugar.

Priscila lavava as louças quando adentrei sua casa sem convites, ela me olhou e sorriu, sua blusa justa já marcava a saliência abaixo do umbigo.

─ Preciso falar com Rafael ─ falei ríspida.

Ela entregou-me seu celular e pude discar o número indo até a janela e olhando através dela algumas crianças brincando na rua movimentada, revirei os olhos escutando a ligação chamar.

─ Oi, Priscila...

─ Sou eu Rafa.

─ Oi Maju, tudo... tudo bem? ─ ele gaguejou.

─ Nada bem! Como você acha que estou bem estando nessa favela cheia de gente pobre e sem dignidade?! Aqui é horrível, maninho.

Ouvi um pigarreio do outro lado da linha.

─ Quando vem me buscar? ─ perguntei apreensiva.

─ Júlia... Eu... Eu... Eu não vou poder te buscar! ─ ele disse rápido e minha mão tremeu. Sentia a ânsia de vômito se aproximar de mim e um medo se alastrar por todo meu corpo.

─ Como... Como assim?!

─ Eu vim pra casa e nossos pais conversaram comigo, eu disse que iria busca-lá, eles negaram e disse que se eu saísse daqui nunca mais poderia voltar, eles disseram que eu sou o primogênito e que ainda não completei os dezoito anos, sendo assim, não mando ainda em minha vida e por isso vão me mandar amanhã para Argentina.

Senti uma avalanche me atingir, me sentir afogar e afundar.

─ Me desculpa Maju, eu não posso fazer absolutamente nada, não posso te trazer de volta e tô indo embora amanhã, me desculpa por favor, sempre vou te ligar quando puder e tentar depositar dinheiro pra você... Mamãe e papai disseram várias coisas de você, nem eu estou reconhecendo os monstros que são nossos pais.

Apenas um TraficanteOnde histórias criam vida. Descubra agora