Capítulo Trinta e Sete.

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Luan narrando:

Um mês depois...

O tempo passou voando, mas esse tempo tava sendo bom demais.

Maju tava me fazendo gostar dela cada vez mais, e a mudança dela me surpreendeu demais.

Ela não tava mais aquela mina chata que dá vontade de matar. Maju era diferente de todas, e isso que me prendia demais no lance dela, cada dia ela ficava mais linda e principalmente com aquela barriga que crescia cada dia que passava, eu tava mó ansioso pra saber logo o sexo do nosso filho e pro tempo passar bem rápido pra poder ver o bebê, era a primeira gravidez que acompanhava e tava amando, ainda mais crescendo dentro da Maju.

Ela tinha completado três meses e uma semana de gravidez ontem, e era mágico sentir o bebê mexer, mas ele só mexia pra mim e ela ficava doida de raiva, o médico disse que daqui à três semanas a gente pode descobrir o sexo do bebê.

Hoje era o dia do ataque na base, mesmo eu não concordando com o plano e dizendo que ia dar merda eu fui, vesti uma bermuda jeans desgastada, uma camisa vermelha da lacoste, peguei o capuz e a luva e as chaves da minha hornet. Passei perfume e coloquei os cordões de ouro em volta do pescoço e me virei olhando pra minha mulher que dormia como um anjo na minha cama, o cheiro dela ainda tava em mim, eu sorri e fui até ela beijando-a no rosto e saindo, passei no quarto do Gabriel que também dormia e despejei um beijo na testa do meu irmão.

Peguei minha fuzil e saí casa falando com o pessoal e com os trutas, tava amanhecendo e os moradores da comunidade já saiam pros seus afazeres, hoje era dia da missão e não estava nem um pouco seguro, Douglas quer é ferrar o CV.

Comprei um lanche na pensão e subi em cima da moto em direção à boca, cheguei lá e os moleques já estavam arrumando o carro e as armas com uma cara de desânimo, estacionei minha moto e fui até os moleques fazendo toque de bandido e entrando na casinha, Douglas

limpava a fuzil dele sentado, ele já tava todo preparado.

─ Qual arsenal?

─ Tamo com dois lança granada, quatro bombas de gás, duas espingardas, três revolveres e acho que isso dá pra derrubar aquela base, pras fuzil tem três caixas de munição e por isso te coloquei com RL na frente, tu e ele são os melhores atiradores ─ ele respondeu atento no serviço e assenti saindo da sala dele e indo até o lado de fora encontrando RL fumando um beck, ele tava nervoso.

─ Isso vai dá merda, parceiro ─ ele avisou preocupado.

─ Concordo, mas nosso chefe tá dizendo que vai dar certo.

RL respirou fundo e esfregou as mãos, Neguinho chegou com os coletes e distribuiu pra gente. Tinha Neguinho e RL como meus irmãos desde moleque, a gente cresceu e neles dois eu sabia que podia confiar sempre.

─ Deus tá com vocês, irmãos ─ ele disse segurando em meu ombro e no de RL.

Eu coloquei o colete e o boné e a gente seguiu até o carro, me sentei me acomodando e colocando o boné na cabeça, essa base ficava no Leme e ia demorar uns trinta e cinco minutos, Douglas entrou ligando o carro e eu peguei minha carteira vendo a foto dos meus pais e do meu irmão, beijei aquelas duas fotografias e pedi para Deus pra tudo dar certo e eu poder voltar logo pra favela.

Chegamos lá e Douglas estacionou um pouco longe da base, tinha umas plantas acho que uns dez metros e era lá que a gente ia ficar, tinha dois caveirões estacionados e os cuzões da UPP estavam fazendo vigia em frente da van.

Saímos do carro e tava pouco movimentado, corremos até de trás das plantas e nos posicionamos esperando o plano do DG.

─ O capitão tá aí, seguinte, a gente ataca quando eu der o sinal, vai Dani e Canela pro ataque e Luan fica como atirador dando cobertura, eu e RL entramos e pegamos o Zé cuzão, morô? ─ ele disse e

assentimos sem concordância, plano de merda! ─ Aqui é comando vermelho e ninguém derruba a gente.

Douglas disse baixo e foi pra trás com os moleques que foram se posicionar, olhei pra RL que tava do meu lado com confiança e ele retribuiu o olhar, armei minha fuzil procurando apoio e abri a caixa de munições, ajustei a mira dela e mirei bem nos vermes que faziam vigilância, coloquei o silenciador e acenei com a cabeça pro Douglas dizendo que já estava pronto, ele me lançou um olhar de raiva e deboche e retribui o mesmo ato fazendo cara de nojo. Coloquei meu dedo bem no gatilho e destravei, só tava esperando DG me dá o sinal pra apagar eles.

Um, dois, três, quatro minutos e nenhum sinal de ataque do Douglas.

Foi quando senti uma pressão no meu ombro e logo uma ardência e uma dor infernal, me virei visando meu ombro e sentindo o sangue escorrer por meu braço, foi quando os tiros começaram e Dani e Canela foram atacar a van, eu me joguei no chão ouvindo os disparos e sentindo o sangue escorrer, RL veio me socorrer e estava assustado fazendo pressão contra meu ombro.

─ Aguenta firme, respira Luan, não fode! ─ ele gritou com os olhos arregalados e sem saber o quê fazer e vi meus sentidos me deixarem, tava doendo pra caralho, a bala havia se alojado. ─ A bala saiu? ─ eu neguei fechando os olhos e sentia a inconsciência me pegar.

Meu último pensamento antes de desmaiar foi na Maju e no meu irmão, senti o gosto de sangue na minha saliva e olhei pro RL segurando em sua mão, até as minhas forças me deixarem por completo...

DG narrando:

Comemorei por dentro!

Agora Luan ia sair de vez da minha vida e ia deixar de atrapalhar tudo, dei o sinal e nem hesitei em puxar o gatilho, quando vi ele agonizando se afogando no próprio sangue dele me veio a cena do pai dele em minha cabeça, foi exatamente como eu matei o pai dele, e Luan estava vulnerável igual o pai.

Começou o tiroteio e eu saí correndo.

─ Vamo RL! ─ gritei vendo RL socorrendo Luan e gritando no rádio.

─ Tu é louco? Vai lá, mas eu nunca vou abandonar meu irmão!

Eu dei ombros e saí correndo pra van, eu queria mesmo era que Luan morresse e espera ter acertado alguma veia dele, com ele morto tudo ficaria mais fácil e não teria mais ninguém como empecilho em minha vida e em meus atos. Toda a Rocinha seria minha!

Maju narrando:

Despertei com um pressentimento ruim dentro do peito, estava ofegante, era como um pesadelo e esse pesadelo era com Luan! Eu me levantei rápido sentindo o pressentimento ruim preso em minha garganta, era como se estivesse me sufocando, fui até o banheiro e lavei meu rosto enxugando-o em uma toalha, eu desci as escadas pegando meu celular e ligando pro mesmo, ele não atendia.

Me preocupei, algo estava acontecendo com Luan e eu podia sentir isso, o bebê começou a mexer e eu tentei me acalmar, não podia ficar tão aflita, isso podia fazer mal ao bebê. Eu me sentei no sofá e as lágrimas desceram por meu rosto, eu nem sabia porquê exatamente estava chorando, foi quando bateram na porta...

Eu levantei e fui atender, era Neguinho com um semblante preocupado.

─ Tu já ficou sabendo? ─ Neguinho perguntou com a voz falha e com o rosto avermelhado.

─ Fiquei sabendo de quê?

Alguma coisa havia acontecido, naquele momento meu peito se encheu de preocupação, senti meu rosto arder e todo meu corpo congelar, meu coração bateu muito forte e o frio tomou conta da minha barriga.

Apenas um TraficanteOnde histórias criam vida. Descubra agora