Capítulo Cinquenta e Três.

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Maju narrando:

Já havia se passado duas semanas e alguns dias, duas semanas longe de Luan, duas semanas sem ter ele, sem vê-lo.

Eu estava na casa de Priscila, havia contado tudo pra ela que estava ocorrendo e ela aceitou me acolher aqui por algum tempo, eu precisava ordenar minha vida, viver sem Luan é horrível, quando se ama tudo doí e eu amava Luan, eu amava ele e mal tinha percebido, não parava de pensar nele minuto nenhum.

Não tinha mais pra onde ir sem ser a casa da Priscila, se pudesse sair do morro eu saía, mas não há lugar pra mim sem ser aqui, aqui já se tornou meu lar.

Evitava colocar minha cara na porta, todo mundo aqui comentava sobre o quê havia acontecido, e que agora Luan, o herdeiro legítimo da facção, havia tomado o comando do tráfico de drogas da Rocinha.

Gabriel vinha me visitar aqui às vezes, após a escola, ficávamos fofocando e assistindo novela juntos, e às vezes ele me contava que Luan havia estado distante de tudo, quase não parava em casa, Gabriel achava que ele estava entrando em depressão por conta de mim.

Sei que essa decisão é difícil, a decisão de me afastar por algum tempo, doí muito em mim e em Luan com certeza mais ainda, mas eu precisava desse tempo, eu precisava pensar, precisava decidir. Aquele dia ainda me assombrava, acordava de noite revivendo aquele dia, ainda conseguia sentir a arma sendo pressionada contra mim, ainda conseguia sentir meu desespero ao quase morrer. Eu precisava decidir se estava pronta pra poder aguentar mais um episódio desses em minha vida, porque sabia que no crime, isso e coisas piores acontece quase todos os dias.

Às vezes sentia vontade de gritar, exasperar, sumir, cometer um suicídio, mas era forte pela pessoinha que estava dentro da minha barriga. O destino da minha filha também estava em minhas mãos, queria que Luan deixasse o tráfico ao menos para nossa filha não crescer vendo o pai traficar drogas, conviver com armas, aquilo não era vida para uma criança.

Hoje era sábado, tocava uma música alta na rua, era pagode, tentava assistir televisão mas aquela música me impossibilitava, não sabia se prestava atenção na televisão ou na letra da música que era linda.

Estava deitada na cama de Priscila, enquanto a mesma revirava o guarda-roupa.

─ Aí que ódio! ─ Priscila gritou puxando os cabelos. ─ Maju você é uma chata, uma chata!

─ O que eu fiz? ─ perguntei sem entender, até que me lembrei que Priscila estava de TPM, hoje de manhã ela havia tacado uma lata de achocolatado na cabeça do RL, os dois haviam discutido sobre um assunto que não havia me interessado. 

─ Você fez tudo! Só fica com essa sua cara de bunda, só fica aí deitada, levanta daí!

─ Não tô com disposição.

─ Você me falou isso durante uma semana, que merda! Cadê sua disposição?! ─ ela gritava jogando as roupas dela em cima de mim. Priscila com TPM era insuportável. 

─ Aí Priscila, deixa eu ficar aqui quietinha na minha, tô grávida e preciso descansar ─ eu reclamei puxando o travesseiro e suspirando. Até que senti algo acertando minha cabeça, era a carteira de Priscila, ela me olhava eufórica. ─ Aí!

─ Não vi você! ─ ela gritou. ─ Olha Maria Júlia, eu te conheço faz tempo, eu sei que você quer correr atrás mas seu orgulho te impede, qual é mona, fica só querendo e não correndo atrás, acha mesmo que teus sonhos vão bater na tua porta e vão te perguntar se você quer pra eles serem realizados?!

─ Do que você tá falando? ─ me sentei na cama me fazendo de desentendida, sabia bem do quê Priscila brigava.

─ Tô falando que você ama Luan, e Luan te ama, quando se ama, a gente aceita, a gente vai junto na briga, a gente batalha, a gente cuida um do outro, isso é amar. Tu acha mesmo que Luan já andou com alguma menina de mão dada pelo morro? Que já beijou na frente de todo mundo alguma menina? Luan nunca fez isso, nunquinha, você foi a primeira que Luan assumiu na frente de todo mundo.

Apenas um TraficanteOnde histórias criam vida. Descubra agora