Apenas um Traficante

Capítulo Vinte e Cinco.

Maju narrando:

Terça-feira.

Acordei com dois seres pulando em cima de mim, abri minhas pálpebras e enxerguei os olhos esverdeados de Gabriel me fitando arregalados, em seu lado Priscila que sorria com espuma de carnaval na mão.

─ Ela tá parecendo o papai noel ─ comentou Gabriel sorridente.

─ Também acho ─ disse Priscila com um olhar de quem havia aprontado.

Me levantei coçando os olhos e suspirei pegando um espelho e vendo o que exatamente Priscila havia feito comigo, havia uma barba de espuma em mim e em meu cabelo também, fuzilei Priscila mas logo sorri.

─ Feliz aniversário! ─ Priscila me abraçou com força e Gabriel também.

Meu aniversário?!

Eu havia até esquecido dessa data, estava acontecendo tanta coisa na minha vida que mal me lembrei da data que nasci, aquele era um dia triste pra mim, eu saberia que minha família não ligaria para mim e tudo que eu desejava era que eles me perdoassem e me aceitassem de volta na família. Eu já havia até descartado o sobrenome ''Arezzo'' do meu nome, pois o mesmo não me pertencia.

Passei todo o final de semana em casa com Priscila, fazíamos

sessões de cinema, comíamos muito e conversávamos aleatoriamente, eu me sentia bem com Priscila e ela me fazia esquecer de Luan por algumas horas, em falar em Luan, passei todos esses dias sem ver ele, só ouvi a voz dele no dia que Gabriel saiu no meio da madrugada e fugiu pra cá chorando com saudades de mim e Luan veio buscar ele.

Eu não desejava olhar na cara de Luan, mas não sei dizer por quais motivos não desejava.

Acho que a melhor maneira de impedir o fogo, é não provoca-lo, ou se não, jogar água bem no início. E assim que eu me sentia por dentro, uma vez deixei que ele tocasse em mim e ele me engravidou, e arruinou minha vida, agora eu simplesmente me permitiria apaixonar por ele sabendo que podia impedir?!

Os dois pestinhas desceram correndo e me levantei indo até o banheiro e realizando minhas necessidades matinais, lavei meu rosto tirando aquela espuma e com uma toalha tirei o restante da espuma do meu cabelo, desci devagar até o andar de baixo escutando a voz do RL.

─ Como assim Luan não apareceu ontem e hoje? Aí meu Jesus, esse Luan não tem jeito, vou no barraco agora mermo! ─ RL falava no rádio com a mão na cintura.

─ Bom dia ─ eu disse e RL me abraçou forte.

─ Tá de bom humor, princesinha? ─ ele beijou a lateral da minha cabeça e assenti. ─ Feliz aniversário.

Olhei com um olhar matador pra Priscila que passava café dançando com Gabriel, eu não desejava que ninguém soubesse que hoje era meu aniversário, nem mesmo eu, mas sempre tem alguém pra lembrar que minha vida é uma merda, ou que virou uma merda.

─ Obrigada, e RL, não comenta com ninguém isso, por favor! ─ eu pedi e ele sorriu colocando o boné na cabeça e dando um selinho em Priscila e um beijo na cabeça do Gabriel. Ele saiu pegando as chaves e fui até Priscila me sentando no balcão e procurando algo pra comer.

─ Feliz aniversário, Maju. Apesar de tudo saiba que você é minha segunda filha, e sempre que precisar você pode contar comigo e com a cabeça de vento da Pri ─ a mãe da Priscila beijou minha cabeça pegando suas chaves e se despedindo de Priscila. ─ Volto às seis horas, juízo meninas e juízo você também! ─ apontou pro Gabriel que sorria.

─ Obrigada.

Peguei um pedaço de bolo de chocolate da mão da Priscila que havia acabado de passar nutella e saí correndo pela sala o metendo por completo dentro da minha boca, estava descalça e toda suja de chocolate, se isso acontecesse na minha casa mamãe já havia me colocado de castigo por meses. Mas fazer esse tipo de coisa era como se houvesse liberdade, como se aquelas regras tivessem sido desmanchadas da minha vida. Antes, eu tinha aula de ética todo final de semana, e nos jantares não podia errar os talheres, e agora eu pego o bolo com a mão e ando com o pé no chão...