Maju narrando:
Havia conseguido carregar meu celular e agora após tomar um banho frio, estava sentada no sofá com ele na mão, excluí todas minhas redes sociais e resolvi desaparecer, aliás, não era mais bem-vinda no meu mundo.
Do nada veio-me à cabeça em pesquisar sobre o aborto, era algo que aguçava minha curiosidade. Fui até o Google e pesquisei como era feito, todos os procedimentos e mais informações.
Era tantas imagens e tantas informações que mal pude assimila-las, a maioria das imagens era com frases e fotos de bebês pequenos e despedaçados, muitos diziam ''não ao aborto'' e que todos tinham o direito de viver. Acabei clicando em um vídeo no YouTube e lendo as frases:
''Oi mamãe, tudo bem? Faz apenas alguns dias em que você me concebeu em sua barriguinha.''
''Na verdade, eu nem sei como explicar minha felicidade em saber que você será minha mamãe. Eu serei com certeza a criança mais feliz desse mundo!''
''Mamãe, já se passou um mês e posso ver como estou crescendo cada dia que passa, não estou lindo como você mas estou tão feliz que nem consigo descrever. Ultimamente não consigo dormir, vejo que algo ronda sua cabeça lhe tirando o sono, mas tudo bem mamãe, não se preocupe.''
''Mamãe, dois meses se passaram, ganhei novas mãozinhas e com elas posso brincar. Mãezinha me diga, por que chora toda noite? É algo que eu fiz? Por que você e o papai brigam muito, não consigo dormir, só quero lhe dizer que eu peço desculpa se fiz algo à vocês.''
''Já se passaram três meses, noto que você anda muito deprimida e também fico, queria poder te dizer o quanto te amo, minha mamãe.''
''Mamãe não se deite agora, ainda é cedo e eu quero brincar... Ei! O que esse tubinho faz dentro da minha casinha?! E por que eu sinto ele sugando ela?''
''Moço, por que a arrancou?! Não vê que me machuca?! Não vê que ainda sou muito pequenino pra me defender sozinho? Mamãe minha mãozinha... Mamãe está doendo...''
''Por favor mamãe, o faça parar, me ajude mamãe!''
''Mamãe, estão arrancando meu pezinho e minha mãozinha, eu não vou desistir! Mamãe ainda quero ver seu rosto, ainda quero dizer o quanto a amo, mas eu não consigo... Está doendo tanto!''
''O faça parar! Eu juro que me comportarei, e juro não chutar mais você e me mexer tanto...''
''Mamãe, já se passou algum tempo desde que me sugaram, eu daqui de cima vejo você todos os dias, finalmente vi seu rosto mas não pude toca-lo, vejo que você chora muito e um sentimento de culpa está dentro de você eternamente, mas tudo bem mamãe, aqui é legal e não precisa se culpar, eu sempre amarei você!''
DIGA NÃO AO ABORTO!
Senti as lágrimas descerem meu rosto devagar, meus sentimentos ficaram bagunçados, as limpei e bloqueei meu celular jogando-o ao meu lado e colocando minha mão trêmula sobre minha barriga por baixo do moletom, pela primeira vez, era estranho ter aquela sensação, eu não conseguia distinguir nada, só sabia que por conta daquela coisinha minha vida havia virado de ponta à cabeça. Tudo havia se bagunçado.
De alguma forma sentia que não devia manter a ideia de abortar aquela criatura em minha cabeça, eu não era uma assassina e não queria ser, não queria matar aquela coisinha e ficar com culpa pelo resto da minha vida. Eu não aceitava aquele bebê mas não desejava mata-lo.
Deslizei minha mão gélida por minha barriga e senti meus pelos se eriçarem, meu nariz ardeu e quis chorar mais ainda, eu simplesmente não sabia o que fazer, eu tinha apenas quinze anos e uma criança habitava minha barriga e daqui à alguns tempos nasceria. Eu precisa de ajuda. Não queria tomar decisões por mim mesma, até porque não estava pensando bem, eu queria ter aquele bebê e ao mesmo não queria... Que bagunça!
A porta da frente abriu-se e Luan adentrou carrancudo, bateu a mesma com força e jogou a sua arma longe, ele fitou-me, estava imóvel no sofá com as mãos na barriga exposta, ele colocou a mão na cintura.
─ O passeio foi bom? ─ questionou.
─ Luan...
─ Deve ter sido bom, mas isso é só por enquant...
─ Luan?! ─ gritei. ─ Eu quero fazer a ultrassonografia!
Ele agora me olhou desfazendo a carranca, suspirou e fitou o chão.
─ Eu posso ver um hospital e agendar uma consulta pra amanhã mesmo.
─ Tá, mas não quero por aqui...
Se fosse pra fazer qualquer procedimento, que fosse longe dessa favela.
Luan narrando:
Sentia mó raiva de DG e Maju naquele momento, o pior era que nunca havia sentido tanta raiva assim de uma pessoa como sentia de DG. Eu sabia que ele não tinha um pingo de interesse em Maju e só queria chamar ela pra sair pra usar ela e me atingir, a raiva era tão grande que quando vi a cara dele hoje satisfeita por me provocar tal sentimento, quis voar e descer a porrada nele. Mas respeitei né, afinal, ele é o meu chefe, infelizmente.
Cheguei em casa esgotado e encontrei Maria Júlia com o rosto vermelho e as mãos na barriga, ela tava ficando tão bonita, tenho que admiti, acho que a única coisa que estraga ela é esse orgulho sem fim. Ela tem que aceitar que ela tá grávida, que eu vou cuidar dela, e que agora a favela é o lar dela e do nosso filho. E quando ela me disse que tava querendo bater a ultrassonografia eu meio que não acreditei, porque era um sinal que ela tava aceitando o bebê...
Eu havia conversado com Gabriel e meu irmão nem tinha como explicar essa felicidade, e eu havia ficado feliz por meu irmão está feliz.
Ele já sofreu muito na vida dele, assim como eu.
Eu subi e tomei um banho demorado afim de catar uma mina, mas primeiro eu ia resolver essa parada da consulta pra amanhã. Pelo menos agora que deu a louca na Maria Júlia.
Tomei um banho e vesti uma bermuda tactel e desci comendo alguma coisa, Maju havia adormecido de novo no sofá e agora... com as mãos na barriga.
Peguei qualquer coisa e comi olhando ela dormindo.
Se DG ousasse colocar aquelas mãos sujas dele nela ele ia se ver comigo, porque dessa vez eu não ia ser aquele pacífico Luan que atura tudo, eu ia descer o teco nele e descontar toda minha raiva pela desgraça que ele causou na minha vida e no meu morro.
Liguei pra clínica depois que pesquisei na internet e marquei uma consulta pra amanhã mesmo, e com um médico dos bons, o mesmo que tentou salvar a vida da minha mãe no parto do Gabriel.
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Apenas um Traficante
RomansaEla? Mimada, patricinha, egoísta, orgulhosa... se acha a última gota de água do mundo, é invejada e odiada. Ele? Traficante, irônico, vagabundo, guerreiro, amada e respeito e desejado. Os caminhos totalmente diferentes se cruzam por um fruto de uma...