Capítulo Quarenta e Nove.

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Lívia narrando:

Eu ainda amava Luan, ele era o pai do meu filho e foi o homem que marcou minha vida.

Eu conheci Luan em um momento vulnerável da vida dele, meu primo havia me mandado matar ele pra poder finalmente tomar a Rocinha e o Comando Vermelho, infelizmente eu havia crescido no mundo do tráfico junto com DR, e ninguém ia desconfiar de uma mulher indo curtir um baile funk na Rocinha.

Quando encontrei Luan ele estava se drogando, fazia dois anos que ele havia perdido os pais dele e o mesmo ainda não havia conseguido superar, Luan era tão diferente naquela época. Minha missão acabou fracassando e em vez de dar um fim na vida do sub-comandante do tráfico da Rocinha, eu desenvolvi um amor grandioso pelo mesmo.

Foram anos bons, tempos que daria de tudo pra voltar atrás, estava tudo tão bom até DR descobrir que eu não havia cumprido minha missão e me jurar de morte.

Mas vocês se perguntam... Por que matar Luan e não Douglas? Bom, o pai de Luan era o dono de toda a Rocinha, Luan era seu sucessor, mas infelizmente o pai de Luan havia morrido e por isso o comando da facção e do tráfico havia passado pra Douglas, mas por pouco tempo. Não havia entendido meu primo bem naquela época, quando soube que o pai de Luan havia morrido o mesmo chorou, mas não o questionei, DR tem tem muito poder nas mãos por comandar o Complexo do Alemão.

Ainda me lembro das palavras de DR... ''Se tu não voltar eu te mato, mato Luan, mato todo mundo dessa favela, e mato todo mundo que tu ama...''

Fui obrigada à voltar pro Alemão, mas não disse nada pra Luan, ele não sabia que havia ido na Rocinha só pra matar ele. Quando voltei pro Complexo fui humilhada demais, meu primo havia me espancado, me xingado, e havia até apontado sua fuzil na minha cabeça, mas PR (o braço direito do meu primo) havia me salvado de levar um tiro e morrer.

Descobri dois meses depois que esperava um filho de Luan, quis por tudo contar pra ele e voltar pra Rocinha, mas não podia correr risco e não podia colocar Luan em risco de novo.

Se por acaso DR descobrisse que aquele bebê que esperava era de Luan, ele me mataria na mesma hora, então PR assumiu a paternidade dizendo que o filho era dele e tal, mas Kayke é a cara do pai completamente. Viver com PR é um inferno, ele se drogava, me batia, tentava bater no meu filho pequeno, e dizia que ia me matar. Sempre quis desistir, sempre quis fugir e vim pra paz que é na Rocinha, mas não podia.

Quando soube que Luan havia sido baleado eu não me contive, agora estava jurada de morte, meu filho também e principalmente Luan, eu não podia voltar pro Complexo do Alemão.

─ Está tudo bem com ele Lívia, nosso pequeno Kayke está com as vacinas em dia ─ o doutor me entregou a carteirinha do meu filho e a guardei dentro da bolsa.

─ Obrigada, doutor Marcos.

Eu sorri e arrumei tudo segurando firme meu filho nos braços, fui até o bebedor e tomei água e dei um pouco pro Kayke que pedia. Saí do posto de saúde e o sol estava escaldante, mal conseguia enxergar direito, devia ser umas duas horas da tarde. 

Tinha que ir andando, não tava vendo nenhum táxi por ali, merda!

Coloquei um boné na cabeça do Kayke pra evitar um pouco do sol e firmei ele em meus braços saindo andando morro abaixo, foi quando ouvi o motor de moto perto de mim.

─ Quer ajuda aí, Lívia? ─ a voz grossa de Luan indagou-me e por um momento me arrepiei. ─ O sol tá quentão, sobe aí que te levo em casa, esse rapaz aí pesa muito. 

─ Tudo bem, não quero criar confusão.

─ Cuida logo, tô pedindo não, tô mandando.

Kayke estava pesado mesmo, e não queria colocar ele naquele pinche quentíssimo ainda mais que ele havia feito algumas vacinas hoje, eu suspirei cansada e me virei olhando pra Luan, o mesmo estava parado com os braços cruzados em cima da RR. O boné da adidas estava pra trás, os cabelos loiros dele brilhavam no sol que o alcançava, os olhos esverdeados dele estavam cerrados. Luan usava uma camisa da Nike cor verde, uma bermuda jeans xadrez, descalça e com a fuzil atravessada nas costas.

Luan arrancava suspiros de qualquer uma.

Fui até ele e entreguei Kayke nos braços dele, o mesmo gargalhou pro pai que abraçou o filho com carinho.

─ Cadê o garotão do papai? ─ ele beijou a testa de Kayke.

─ Papai! ─ Kayke bateu palminhas e Luan gargalhou.

Luan sempre fora carinhoso com todos os filhos dele, ele podia ser um pai ausente por causa do crime, mas sempre dava o melhor pra ver os filhos bem.

Subi na RR e ajustei a bolsa no colo, Luan me entregou Kayke e ligou a moto dando partida, gostava de andar de moto pela Rocinha, lá era uma favela pacífica e completamente bonita. Luan desceu o morro devagar e meus cabelos voavam completamente desgrenhados, eu deixei escapar um sorriso me lembrando do tempo que apostava corrida com Luan naquela mesma descida.

O perfume de Luan emanava do mesmo, era aquele mesmo perfume de sempre, aquele perfume que me deixava ainda louca.

Algumas pessoas ficaram olhando pra nós, Luan falava com algumas pessoas por onde passava e eu também, gostava das pessoas da Rocinha e elas também gostavam de mim.

Quando chegamos na casa em que estava hospedada eu desci da RR segurando firme Kayke, Luan me ajudou em descer e peguei a bolsa de colo do Kayke tentando arrumar meus cabelos. Luan abriu um sorriso aberto revelando seus dentes brancos, era difícil ver Luan sorrindo mas quando via era como sonhar acordada.

─ Que foi? ─ indaguei tentando arrumar meus cabelos.

─ Me lembrei daquela vez que te deixei em casa, a gente tava tentando despistar um coxinha, quando tu desceu teus cabelos estavam pro alto e teu vestido todo rasgado...

─ Me lembro, a gente caiu naquele dia e por isso meu vestido rasgou.

─ Eu tava mó xilado naquele dia, tinha bebido todas e nem sei como consegui pegar a Hornet.

─ Mas você parou com essas loucuras, não é?

─ Eu prometi pro Gabriel que nunca mais ia encostar em droga nenhuma, eu nunca gostei mermo.

Eu suspirei procurando as chaves dentro da bolsa do Kayke, sentia o olhar de Luan me observando mesmo eu distraída.

─ Obrigada, Luan ─ agradeci sorrindo.

─ De nada, toma cuidado viu ─ ele alertou ligando a Hornet.

─ Luan? ─ o chamei e o mesmo virou. ─ Ainda existe nós dois?

─ Nunca existiu, Lívia ─ eu suspirei abaixando a cabeça. ─ Só se mantenha por perto, se tu se mandar de novo eu vou atrás, quero o Kayke perto de mim.

─ Não tenho pra onde ir mesmo.

─ Beleza, fé aí ─ ele disse dando partida e descendo o morro com velocidade.

Entrei em casa cansada e cabisbaixa, a patricinha havia mesmo conquistado Luan, mas não sabia como. Luan nunca foi de gostar de patricinha mimada, mas eu sabia que era por causa do bebê que ela esperava, Luan podia fazer uma de durão mas uma hora ele ia sair pra procurar uma nova presa. Eu conhecia muito bem Luan, ele não gostava de parar com nenhuma mulher, por isso não tinha nenhuma fiel.

Não tinha nada contra Maria Júlia, só não queria que ela fosse mais uma como eu, Luan não é homem pra ela e nunca vai ser.

Mas deixa que ela vai aprender com o tempo...

Apenas um TraficanteOnde histórias criam vida. Descubra agora