Capítulo Cinquenta e Seis.

28.4K 1.9K 271
                                    

Maju narrando:

Tocava pagode, várias pessoas ali dançavam, o cheiro de carne assando, o cheiro de cerveja era algo que me era recente na memória, mas dessa vez havia felicidade em toda aquela festa. De um lado RL e Priscila dançavam juntos ao som de Thiaguinho, do outro Neguinho dançava com uma cerveja sorrindo pro vento, como sempre, e virando a carne. Eu sorri enquanto tomava refrigerante e via Luan em uma queda de braço com um moleque lá que soava.

─ Desiste, mano ─ Luan sorriu e o moleque negou.

Já estava com seis meses, e muito animada em saber que próximo mês era natal e que passaria realmente em família.

Hoje era sábado e Neguinho estava patrocinando um churrasco na casa dele que era bem simples, mas era aconchegante e todos ali curtiam a festa do mesmo.

Viver na Rocinha realmente era algo intenso, agora só se via sorrisos por todo o local, depois da saída do Douglas todos deixaram a aflição de lado e aproveitaram, agora era só alegria pelos becos e vielas, eu também havia deixado a aflição de lado e estava aproveitando tudo. Meu irmão havia dito que viria passar o natal e ano novo conosco, Luan claro que aceitou, vocês nem acreditam o quanto Rafael ficou feliz em saber que estava namorando com Luan e que finalmente havia abandonado a antiga Maria Júlia, eu realmente digo, eu renasci, a favela me mudou, Luan me mudou.

Já havíamos começado a pintar o quarto pra chegada da nossa filha, escolhemos a cor lilás com rosa, já havíamos comprado o berço, o guarda-roupa, prateleiras brancas e mais algumas coisinhas pra montar, estávamos deixando o enxoval mais pra frente. Luan estava adorando tudo aquilo, conversava com minha barriga todo dia, contava como havia sido seu dia, contava sobre as regras que colocaria nela, e eu só sabia sorrir.

Ela ainda não havia chutado, ela só mexia quando Luan ficava acariciando minha barriga, mas ela não mexia pra mim e isso me deixava muito chateada.

Resumindo os meses que passaram: só felicidade, graças à Deus.

Eu quase não via Lívia, mas pra minha má sorte hoje ela estava aqui, mas não em nossa mesa. De vez em quando ela me olhava feio e ficava admirando Luan, o mesmo nem percebia, mas eu sim.

Luan havia ganhado a queda de braço e o moleque se levantou batendo o pé emburrado, eu sorri bebericando o refrigerante e senti as mãos de Luan me puxarem, ele beijou meu rosto pela lateral enquanto me abraçava. Luan ficava mais em casa, só saia as vezes, dizendo ele que precisava resolver algumas coisas antes de deixar o tráfico, mas eu estava feliz, muito feliz, nós iriamos criar nossa filha como pais exemplares, e já arquitetava nosso futuro, criava cenas de Luan brincando com nossa filha que seria exatamente igual ele, criava cenas do primeiro aniversário, criava cenas de felicidade e sonhava com meus planos pro futuro.

Olhei pro lado e vi que Lívia olhava pra nós dois séria, disfarcei o olhar e me soltei dos braços de Luan me acomodando na cadeira novamente, Neguinho dançava o pagode lá no meio da rua, Carol sorria do namorado, todos sorriam de ver Neguinho completamente bêbado e sorridente.

O mesmo parou e veio em nossa direção.

─ E aí, meu casal mais lindo de bonito ─ ele sorriu arrumando o boné na cabeça.

─ Esse corre foi poderoso né ─ Luan comentou segurando firme minha mão.

─ Rapaz, tô bonado.

─ Esse é o meu maninho, foi aonde?

─ Uma fita aí com os parceiros, dez mil conto e um Honda Civic, aproveita aí é a feijoada porque não é todo dia ─ ele disse e saiu dançando com sua cerveja.

Apenas um TraficanteOnde histórias criam vida. Descubra agora