Melise não tinha experiência, mas era inteligente e sempre gostou de crianças. Sabia que tinha condições de desempenhar essa tarefa e faria qualquer coisa para ser aceita. Afinal, não teria para onde voltar, caso isso não acontecesse. Seus dias na sua cidade tinham acabado.Alugou um coche e saiu, ainda escuro, de casa, lançando um derradeiro olhar para o seu lar. Dentro de mais ou menos nove horas chegaria à propriedade onde trabalharia.Durante a viagem, Melise procurou observar a paisagem. Porém, não conseguiu nada além de uma simples contemplação. Só não estava mais triste do que no dia em que seus familiares morreram. Apesar de tudo, procurava afastar esse sentimento, pois queria chegar ao seu destino da melhor forma possível. Ninguém tinha culpa de sua dor. Além do mais, não havia muito o que ver na estrada, posto que o clima estava bastante frio e a paisagem encontrava-se encoberta por uma densa neblina, mesmo na primavera.Após dez horas de viagem – atrasou um pouco, devido ao mau tempo e a algumas paradas obrigatórias –, chegou à Kinsley House, propriedade campestre em Hamptonshire. O cansaço já começava a agastá-la, a ponto de se sentir um pouco nauseada. Mas, mesmo assim, ficou encantada com a beleza do local. A mansão ficava localizada após a descida de uma colina totalmente verde e ao seu lado direito havia um extenso lago. Era rodeada com algumas árvores centenárias e um jardim enorme, perfeitamente cuidado, com a grama aparada meticulosamente. Do lado esquerdo da casa, outro jardim, com flores das mais variadas espécies, despontava de forma alegre e convidativa, como se houvesse sido criado, na lateral, apenas para enlevar os passeios românticos.À frente da mansão, que devia possuir incontáveis cômodos, a imaginar pela quantidade de janelas dispostas em todos os lados, existia um caminho oposto ao que ela havia chegado e, que levaria a algum lugar, certamente maravilhoso, a exemplo de tudo que cercava aquele local.Fazia tempo que Melise não admirava algo tão belo ou sentia-se tão bem, após meses de sofrimento. Quase sentiu culpa por essa alegria repentina. Foi como se, ali, tivesse a oportunidade de esquecer o passado, como se isso fosse possível. A bem da verdade, sabia que nunca mais seria totalmente feliz. Talvez o máximo que conseguisse fosse um pouco de alegria, infelizmente.Estava tão absorta em seus pensamentos que não observou as pessoas que a esperavam na porta da mansão.Ao levantar a cabeça, deu de cara com uma menina linda, com aparência angelical, de olhos verdes e curiosos; longos cabelos claros e lisos com cachinhos nas pontas emolduravam a face branca e perfeita. De imediato simpatizou com a garotinha. O olhar dela era um pouco triste e esperançoso. Esperançoso? Por quê? Bem, logo descobriria o motivo.Percebeu que a simpatia foi recíproca, graças a Deus.Após recepcionada foi levada aos seus aposentos, na ala dos empregados, mas no caminho percebeu a beleza interior da mansão, pois o trajeto que a governanta escolheu não foi o dos fundos da casa, como normalmente ocorria com os empregados.Os móveis eram clássicos e os quadros valiosos. A escada, que iniciava em frente à sala de estar, fazia uma curva à direita, onde certamente deveriam ficar os aposentos. Era de madeira boleada escura e finamente tratada.Se houvesse oportunidade, gostaria muito de conhecer melhor toda a propriedade.Seu quarto era simples e não chegava nem de longe ao próprio que tivera. Aquilo era passado; mas um quarto maior e melhor não diminuiria a dor que sentia. Quanto mais o tempo passava, entendia que coisas materiais jamais poderiam minimizar os males que a vida infligia às pessoas. Teve tudo e perdeu tudo. Restava-lhe apenas a vida. Vida essa que seria vivida de forma simples, humilde e solitária. Afinal, não teria com quem compartilhar seus anseios, desejos e conquistas. Que conquistas teria ela? Seria apenas uma preceptora e, quando a idade avançasse, seria, no máximo, uma acompanhante ou uma governanta. Não teria um pretendente. Nunca conheceu o amor e não teria essa chance. Até porque as pessoas de sua atual classe social passavam despercebidas por qualquer um.Não se achava linda, mas sabia que era bonita e que em condições normais poderia casar-se e ter seus próprios filhos. Para falar a verdade, já havia recusado três pedidos de casamento. Nunca quis casar sem amor. Os seus pais, por sua vez, nunca a obrigaram a isso. Talvez se soubessem o trágico fim que lhes aguardavam, tivessem encorajado um casamento, independente de sentimentos. Aliás, com exceção do casamento de seus pais e alguns poucos, todos os que conhecia eram desprovidos de amor. As pessoas casavam por motivos diversos, menos por amor genuíno.Após instalada, resolveu subir para iniciar seu trabalho, independente do cansaço. Não tinha conseguido local para guardar todas as suas roupas, por isso deixou grande parte delas nos baús. Agora entendia por que o cocheiro tinha reclamado tanto. Eram realmente muitos baús para uma única pessoa: cinco e ainda as bagagens de mão.
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Amor Impossível
RomanceDISPONÍVEL NA AMAZON - Amor Impossível é um romance que tem como principais personagens Andrew Clark e Melise Evans. O ano é 1815 e Hamptonshire, cidade campestre da Inglaterra, é o cenário onde ocorre a fascinante narrativa. Andrew é um lindo viúvo...