Andrew beija Melise

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Cavalgaram mais algum tempo e voltaram a tempo de almoçar. Melise havia incorporado outra pessoa. Na verdade, voltara a ser o que era antes de cair em desgraça. Almoçaram rindo e conversando, a despeito dos olhares curiosos trocados entre os criados. Eles estavam contentes por verem o patrão tão feliz ao lado de uma mulher, mesmo que fosse uma empregada igual a eles. Outrora, a mulher de Andrew o tinha feito muito infeliz e depois disso nunca mais o viram com outra. Andrew imaginou que aquela era a verdadeira Melise antes de seus pais morrerem. Livre, alegre e expansiva, sem exageros. Ele se perguntou como seria se a tivesse conhecido em uma situação diferente. Muito provavelmente a equipararia a maioria das moças e talvez lhe chamasse atenção apenas a sua beleza. Não. Ela era inigualável.

Mais tarde, foram à sala de jogos, onde permaneceram durante a tarde toda: jogando, rindo e se divertindo. Ela era espetacular. Sempre que possível, Andrew a observava. O seu sorriso era aberto, sincero, acolhedor. Mas não era só isso, sua gargalhada era sensual e seu corpo parecia um ímã puxando-o. Ele tinha de ficar o tempo todo segurando-se em algum pensamento patético para não tocá-la, não abraçá-la, não apavorá-la.

– Foi seu pai quem lhe ensinou a jogar xadrez?

– Sim. Apesar de ser um jogo insuportavelmente masculino, ele me ensinou.

– E você aprendeu direitinho. Quase perdi.

– Você sabe que nem cheguei perto de ganhar. Mas, pelo menos, não perco feio e isso me ensina a perder.

– Somente uma pessoa como você encontra virtude em perder.

– Não existe virtude alguma em ganhar sempre. O que se aprende quando só se ganha? Perder nos faz compreender que não somos infalíveis e nos humaniza. Quando perdemos reavaliamos as nossas atitudes e nos aperfeiçoamos. Isso se chama crescimento. Ninguém nasce grande, vai se aprimorando através de experiências vividas.

Melise tinha uma percepção da vida mais elevada que a maioria das pessoas. Ele estava começando a arrepender-se daquele acordo ridículo. Como poderia ter feito isso? E se ele se apaixonasse? Ou se ela se apaixonasse? Isso não seria difícil. Da parte dele, bem que isso poderia acontecer, considerando a mulher incrível e linda que ela era. No entanto, ainda achava-se imune a esse sentimento, já que nunca o sentiu. Mas, da parte dela, a sua pouca idade poderia facilmente confundi-la. E ele seria totalmente culpado se isso ocorresse. Bem, agora era tarde e ele continuaria no jogo. Não teria como voltar atrás agora que havia iniciado essa brincadeira.

À noite jantaram e ele tomou uma taça de vinho antes de se retirarem para seus aposentos. Nenhum dos dois conseguiu dormir, pensando um no outro. Rolaram na cama durante longas horas e somente de madrugada adormeceram. Andrew a imaginava em seus braços, fazendo amor com ela. Nunca usara a expressão "fazer amor" antes. Sempre usou as mulheres para satisfazer a necessidade física natural de homem. Uma vez satisfeito, afastava-se e nunca se apegava a nenhuma. Além disso, gostava de demonstrar suas habilidades no conhecimento do corpo feminino. Com Melise era diferente. Ele a queria como nunca quis ninguém em toda sua vida. Nem nos tempos mais remotos, quando ainda era um garoto e os sentimentos à flor da pele, despertando para o sexo feminino, sentiu algo parecido. Era a primeira vez que pensava em satisfazer uma mulher apenas para fazê-la feliz e não em usá-la unicamente em seu próprio prazer.

Melise, por sua vez, sonhava de olhos abertos. Em seu sonho, Andrew a amava. Ela jamais tivera sonhos sensuais. Até hoje. Nunca fora beijada e nem sentia essa necessidade, até agora... seria aquilo amor? Desejo? Não sabia como sair dessa brincadeira que a lançaria fatalmente para um amor impossível. Ela nunca o teria. Mas agora era tarde. Desempenharia esse papel até o fim. Faltavam ainda seis dias. Depois voltaria a ser a gata borralheira. Então, aproveitaria ao máximo a vida nesses dias. Desfrutaria de todos os momentos que pudesse estar junto a ele e, se Deus a ajudasse, depois disso.

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