Andrew pensa que, pelo bem de Melise, é melhor se afastar

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No dia seguinte Andrew iria embora, porque não dava mais para adiar. Tinha negócios pendentes e seu administrador devia estar louco com sua ausência demorada. Afinal, havia coisas que somente ele poderia resolver. Aproveitaram o restante do piquenique conversando com o pessoal. Melise mais uma vez inventou algumas brincadeiras com as crianças, enquanto Andrew conversava com alguns homens, cujas mulheres tricotavam sem maldade alguma sobre a vida alheia. Era a primeira vez que bisbilhotar a vida de outras pessoas havia adquirido uma nuance suave, uma vez que Andrew não via maldade naquele povo.

– Andrew, quer dar um passeio para conhecer melhor a redondeza? – perguntou Melise.

– Claro. – Levantou-se e a seguiu, agradecido pela oportunidade de poder ficar a sós com ela. Ela estava bastante calada. Ele a acompanhou e aguardou que ela iniciasse uma conversa.

– Eu sempre visitava aquele casal com meus pais.

– Percebi que você os conhecia a fundo.

– Eles são muito amorosos. Pena que nunca tiveram filhos.

– Deve ter sido difícil para eles.

– Foi, mas o importante é que isso não abalou o amor deles.

– Deu para perceber.

– O casal começa a vida só e a termina só, não é mesmo? Os filhos estão de passagem. – Ponderou Melise sabiamente.

– Sim – Andrew nunca havia pensado por esse ângulo.

Continuaram andando até que deram numa parte do rio mais larga do que o restante e onde a correnteza formava um redemoinho agitado. Melise pegou algumas pedrinhas no chão e começou a jogá-las onde a água mostrava-se mais agitada. Evitava olhar para Andrew. Era muito difícil para Andrew estar junto dela e manter-se distante.

Quando Melise, finalmente, deixou de atirar as pedrinhas e colocou as mãos juntas sobre a parte da frente do vestido, ele a levou para sentar num banquinho de madeira que ficava próximo e segurou suas mãos. Ela não resistiu. Ficaram de mãos dadas sem dizer uma palavra, de dedos entrelaçados, emocionados por estarem tocando-se depois do episódio na casa daquele casal.

– Eles a fizeram recordar seus pais, não foi?

– Sim. Mas não tenho mais desgosto. Foi como Deus quis e como eles desejavam. Não deve ser fácil amar e ficar sem o outro para sempre. Pelo menos, não passaram por isso. – A voz dela soou resoluta. Depois de alguns minutos sem dizerem uma palavra, Andrew foi o primeiro a falar, quase num sussurro.

– Melise, amanhã iremos embora.

– Eu sei.

Não era somente a morte que poderia separar para sempre a pessoa amada. Os pais não passaram por aquilo, mas ela passaria. Andrew não disse o que ela gostaria de escutar. Amanhã seria o fim. Para sempre. Ela passaria por aquilo que acabara de falar. Não conseguiu segurar-se e começou a chorar.

– Sentirei muita falta da Victoria. Ela me faz muito bem. – Disse, tentando disfarçar o imenso amor que sentia por ele.

– Quem sabe a gente apareça antes do que você imagina, ou então você vai nos visitar.

– Quem sabe... Ficaram mais alguns minutos e seguiram ainda de mãos dadas até próximo dos demais. Depois soltaram as mãos e chegaram separados diante dos outros.

Andrew decidiu que daria um tempo a Melise. Não teria coragem de fazer nenhuma proposta ainda. Não depois de ver sua felicidade naquele paraíso e, por mais que doesse, de ver o quanto ela ficava bem com Clayton. Ele não tinha certeza de que ela seria feliz consigo. O que ele poderia oferecer, além do seu amor e de uma filha para cuidar? Ela era tão jovem, tão linda, e em vez de começar uma família, receberia dele um pacote completo: um marido com uma filha, que ela amava, é verdade, mas ele tinha dúvidas se casar-se com ele seria o melhor para ela.

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