Andrew na terra de Melise

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Muito cedo Andrew levantou-se, lavou-se, trocou de roupa e desceu. Percebeu que a casa apesar de simples era aconchegante. Quando deu por si, viu Melise, que já vinha da cozinha. Certamente foi dar instruções para o café da manhã.

– Já acordado?

– Acordo cedo, você sabe.

Ela sabia. Mas perdia a noção do que falar quando se encontravam. Ela mostrou a casa, cujo tamanho era satisfatório para uma família pequena, mas não se comparava ao conforto da dele. No andar de baixo ficava uma sala, com móveis simples, porém, na quantidade suficiente para boa acomodação das pessoas; um pequeno escritório, que deveria ter pertencido a seu pai; e uma segunda sala contígua onde ficavam um piano e algumas cadeiras. Certamente ela iria presenteá-los logo mais com um belo recital.

Melise estava extraordinariamente linda, num vestido que Andrew não lembrava de já ter visto. Os cabelos caíam livres sobre os ombros e uma parte sobre o seio esquerdo. As faces estavam rosadas e o olhar muito brilhante. Não sabiam que tipo de relação estavam tendo, porque não falavam sobre isso, mas sabiam que não conseguiam estar sozinhos sem se tocarem. Uma coisa, entretanto, havia mudado: saíram de uma situação de extrema paixão, onde seus corpos explodiam quando se tocavam, para outra, de sublime emoção e aquietação.

Melise mostrou a propriedade durante a manhã e à tarde tocou piano para eles. Depois deu o lugar para Victoria, enquanto a assessorava, como fazia algum tempo atrás quando era sua preceptora.

Andrew sentou numa cadeira que mostrava uma visão privilegiada de onde estavam e ficou observando-as. Ele a queria demais. Dentro de pouco tempo faria um ano da morte de seus familiares e depois disso ele a pediria em casamento. Respeitaria apenas seu luto. Se é que conseguiria. Após alguns momentos de puro encanto, um mensageiro chegou da vila trazendo um convite. Os moradores dariam uma festa e gostariam que Melise estivesse presente naquela noite. Ela sabia a importância dessas festas na redondeza e ponderou se seria sensato recusar, uma vez que estava com visitas em casa, ou se as levaria. Calculou que a segunda opção era a mais sábia.

Andrew percebeu que ela estava insegura em relação a qual resposta escolher e não queria atrapalhar a vida dela, afinal, chegara de surpresa e se não fosse esse imprevisto, com certeza ela compareceria à festa. Antes de ele intermediar a situação, porém, ela respondeu ao mensageiro.

– Irei, com a condição de levar um amigo comigo.

Inesperadamente o mensageiro saltou de alegria e beijou sua mão ao sair. Andrew viu a simplicidade daquele rapaz, que deveria ter uns quinze anos, e observou a admiração e o carinho que ele sentia por ela. Por que seria? Será que ela mantinha muitas amizades com pessoas simples? Será que, depois que os pais morreram, ela ficou sem conexões na região, por não ter a figura de um pai ou de uma mãe, ou mesmo de um irmão? Bem, ele descobriria logo mais.

– Espero que não se importe em me acompanhar – disse Melise assim que o mensageiro retirou-se.

– De forma nenhuma. Vou adorar – respondeu com sinceridade.

Era muito bom estar com ela em qualquer lugar. Só se preocupava com o que as pessoas pensariam em ele acompanhá-la sem que ela tivesse uma acompanhante. Mas parecia que Melise não se importava muito com isso. Tanto é que não tinha uma.

~

Uma hora antes do combinado, Melise subiu para se arrumar, e, quando ela desceu, Andrew quase entrou em colapso. Com a vista embaçada, teve de piscar várias vezes antes de voltar a olhar para ela.

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