Andrew admite para si mesmo que ama Melise e a pede em casamento

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Naquela noite, Melise desceu para pegar um livro. Como ocorria desde que chegara ali, novamente não havia conseguido dormir. Graças a Deus Andrew tinha uma grande estante abarrotada de livros. Certamente encontraria algo interessante para ler. Ao passar pela sala para subir a escada de volta para seu quarto se deparou com Andrew. Pensou que estava vendo uma miragem e piscou os olhos para ter certeza. Mas era ele. Refeita da surpresa, recompôs-se apressadamente, passando as mãos nervosa pela saia do vestido. Repetia este gesto sempre que estava nervosa ou envergonhada.

– Boa noite, Sr. Clark! Não sabia que o senhor viria – balbuciou nervosa, desviando o olhar.

– Eu também não. Mas foi necessário. Há alguns assuntos pendentes que preciso resolver em Londres. Minha filha está dormindo? – perguntou de forma despretensiosa.

– Sim – respondeu ela, sucintamente. Sabia que se falasse mais qualquer coisa começaria a chorar de alegria e de saudade contida.

Era muito bom ver Andrew. Não importava se ele estava estranho, muito sério, como se algo de ruim houvesse acontecido. Ele estava ali e isso era tudo. Melise ficou parada, com o livro na mão, olhando para baixo. Se tivesse levantado a vista teria dado com o olhar de deleite e de saudade dele.

– O senhor deseja alguma coisa? – perguntou, por fim, sem saber o que fazer ou dizer.

– Sim, mas por enquanto você não pode me dar – com essa frase enigmática Andrew começou a subir para seu quarto e Melise não compreendeu o que ele quis dizer.

Andrew chegou ao quarto e jogou o paletó na cadeira. Passou as mãos nos cabelos e sentou-se na poltrona com os cotovelos apoiados nos joelhos. Tinha cometido a loucura de viajar até Londres simplesmente porque não conseguia ficar longe de Melise. Menos de uma semana fora suficiente para entender que não podia mais viver sem ela. E não sabia por que diabo! Claro que sentia saudade da filha também, mas com Melise era algo emergencial. Ele sempre teria sua filha, mas não Melise. Precisava tirar da cabeça dela a ideia de partir de suas vidas.

Tinha medo de que, se esperasse duas semanas, ela fosse embora no dia seguinte à sua chegada, sem lhe dar a chance de apresentar a proposta que ele achava ser a solução para todos. Apesar de o corpo aceso por tê-la visto, Andrew estava bem melhor do que em Kinsley House. Pelo menos, ela estava no outro lado do corredor. É bem verdade que teria de se segurar muito para não invadir aquele quarto e fazê-la sua. Ele tinha de exercitar algo que nunca foi uma de suas qualidades nessa área: a paciência. Sempre correu atrás do que quis e não sabe se por sorte ou por mérito conseguiu tudo pelo que lutou.

Melise não sabia se conseguiria mais dormir depois da surpresa. Mas a verdade é que, se conseguisse, o sono seria recheado de sonhos com Andrew. Como ela sentira sua falta! E como era bom tê-lo ali do outro lado. Quando acordasse seria um dia muito feliz. Poderia estar nublado, chuvoso, lamacento, não importava. Seria um dia lindo.

~

Inacreditavelmente, a manhã seguinte trouxe tudo que ela pensou: muita chuva e céu cinza escuro, sem condições de ninguém sair de casa. Assim sendo, após o desjejum, Andrew se reuniu, primeiro com o secretário e, em seguida, com o mordomo no escritório, onde demorou cerca de três horas. Melise e Victoria ficaram um pouco no quarto, onde treinaram conversação em francês e em italiano. Depois de algum tempo, as duas foram à sala onde ficava o piano e Melise tocou um pouco. Aquele era um dia especial e tocar para ela sempre fora uma forma de comemorar algo. Hoje ela comemoraria a chegada de Andrew, mesmo que ele nunca pudesse vir a saber. Desse modo, entregou-se à música e nela se deleitou completamente satisfeita.

Ao ouvir o som melodioso dos acordes, Andrew, que já estava sozinho no escritório, não conseguiu mais concentrar-se em nada. Fechou os olhos e ficou escutando a música executada perfeitamente por ela. Mas era pouco. Era preciso ver de perto. Ele saiu e se aproximou sorrateiramente, para que ela não parasse. A cena era parecida com a primeira vez que a viu, quando, ao retornar da longa viagem à Kinsley House, ele ouvira a canção e nem imaginara a beleza que ficava por trás da dona dos dedos que dedilhavam as teclas do piano. Victoria a adorava visivelmente enquanto ela tocava.

Amor ImpossívelOnde histórias criam vida. Descubra agora