Melise viu que não se enganara, Victoria era uma menina deslumbrante e inteligente e se deram bem imediatamente, de forma natural e sem esforço. Isso trouxe uma paz muito grande ao seu coração.
Victoria, por sua vez, adorou ter uma preceptora tão jovem e simpática e por causa disso viu em Melise alguém que poderia ser uma amiga. Ela não tinha irmãos e possuía apenas as primas distantes, filhas de uma tia, irmã de sua mãe. Mas raramente as via, pois, apesar de gostar bastante delas, só podia visitá-las duas vezes ao ano.
Mas, de tudo que Melise observou naquela casa, nada a deixou mais perplexa do que a forma como o pai de Victoria agia, totalmente contrário aos costumes de quase toda uma sociedade. Naquela casa havia a ala infantil, mas era inutilizada. Parece que Victoria sempre fizera parte da vida normal da casa, dormindo no andar dos adultos e visitando livremente todos os ambientes. Além do mais, fazia as refeições em companhia do pai. Essa constatação a deixou estupefata. Ele deveria ser um homem muito bondoso.Melise sabia como funcionavam as coisas na alta sociedade. As crianças pareciam peças colocadas num lado posto ao dos adultos, como se elas nada tivessem a ensinar ou nada pudessem agregar. Dessa forma, não atrapalhavam e nem participavam da vida dos adultos, uma vez que a educação delas era relegada a terceiros. Tinha conhecimento de pais que viam os filhos apenas uma vez ao dia e alguns os deixavam nas casas de campo enquanto passavam temporadas inteiras em Londres. Ela nunca concordaria em criar seus filhos daquela forma, se um dia pudesse ser mãe.
Com o passar dos dias, Melise verificou que Victoria era um pouco dispersa nos estudos e procurou uma forma de mudar esse quadro. Fez algumas alterações na sua rotina, a fim de que o seu objetivo fosse alcançado. Ou seja, de que ela absorvesse os ensinamentos de uma forma leve, alegre e produtiva.
Assim, Melise inverteu a ordem das coisas: em vez de estudar para depois fazer atividades agradáveis de entretenimento, elas primeiro faziam isso, e somente depois estudavam. As brincadeiras eram desenvolvidas de diversas formas e, assim, ela conseguia que Victoria relaxasse e estudasse, aprendendo os assuntos de uma forma inexplicável. Ela nunca entenderia o porquê disso. Mas na sua pouca sabedoria entendia que as pessoas são singulares e deveriam ser respeitadas e tratadas de acordo com suas personalidades. O método estava dando resultado e isso era o que importava.
Elas brincavam, jogavam, faziam piqueniques, estudavam e se divertiam com tudo. Melise começava a achar que poderia ser feliz novamente, mesmo sentindo que a felicidade jamais seria completa. Victoria tinha se tornado sua pequena melhor amiga e havia-lhe devolvido a capacidade de sorrir novamente.
De manhã ela a ajudava no asseio corporal, escolhia sua roupa e arrumava seus cabelos e, durante o restante do dia, desempenhava inúmeras tarefas. Em dias alternados ensinava--lhe francês e italiano e também a tocar piano. Gostava disso. Apesar de acumular muitas tarefas ficava contente porque não sobrava tempo para sofrer. Mas em algumas noites, a tristeza voltava e ela chorava muito.
Com o tempo, Victoria começou a ter pesadelos durante as noites e a governanta decidiu que era melhor Melise dormir próximo a ela. Desse modo, o seu quarto passou a ser o vizinho ao de Victoria. Melise sentiu-se mal por ocupar um quarto na ala familiar, quando não se enquadrava nem mesmo como hóspede, mas não conseguiu remover a ideia da cabeça da Sra. Smith, que se manteve irredutível. Ela, aliás, tinha um carinho enorme pela filha do patrão e fazia de tudo para que a menina ficasse bem.
Mas não foi apenas isso que ocorreu. A despeito de toda e qualquer tentativa de Melise, a Sra. Smith também decidiu que ela acompanharia Victoria sentada à mesa, durante as refeições, alegando que a menina se sentia solitária sem a presença do pai. Então, ela esperou a volta do seu desconhecido patrão, que já estava prestes a chegar, quando com certeza, faria suas refeições junto aos demais empregados.
Nunca tivera coragem de perguntar como era seu patrão. Não vira nenhum quadro com o seu rosto e, por vezes, perguntava-se como seria sua aparência ou sua personalidade. À medida que o seu retorno se tornava iminente, a apreensão aumentava. E se ele não gostasse dela? O que faria se tivesse de recomeçar em outro lugar? Sentia-se muito bem ali. O lugar era lindo, Victoria era maravilhosa e os empregados eram gentis e contentes. Tudo isso fazia transparecer que o patrão não seria má pessoa.
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Amor Impossível
RomanceDISPONÍVEL NA AMAZON - Amor Impossível é um romance que tem como principais personagens Andrew Clark e Melise Evans. O ano é 1815 e Hamptonshire, cidade campestre da Inglaterra, é o cenário onde ocorre a fascinante narrativa. Andrew é um lindo viúvo...