Andrew e Melise quase se entregam à paixão

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Ficaram calados durante alguns momentos e Andrew percebeu que os pelos de seus braços arrepiaram-se devido a uma friagem que se espalhou no ambiente. Imediatamente ele tirou a casaca e a colocou nos ombros de Melise. Ela não disse nada, agradeceu com um olhar. Andrew sempre a protegia.

Melise também estava no auge da felicidade. Haviam compartilhado sobre a vida pregressa de ambos e parecia que não havia assunto proibido entre os dois. Isso só acontece entre pessoas que confiam umas nas outras e que se amam. Ela o amava de todas as formas possíveis, mas como homem. Não obstante, sentia que ele a amava como uma pessoa querida que havia conquistado a amizade de sua filha e com a qual poderia compartilhar seus segredos e sentimentos. Sabia da atração que ele sentia por ela, porque isso foi demonstrado de forma bastante palpável todas as vezes em que esteve nos seus braços cada vez que se beijaram. E teve medo de que isso o confundisse a ponto de achar, mais uma vez, que seria conveniente casar-se com ela. Decididamente, apesar de amá-lo e saber que jamais o esqueceria, não era isso que queria.

– Acredito que as pessoas ao seu redor curvam-se à sua natureza, Melise, e mudam, tirando de dentro de si o que há de melhor.

– Falou Andrew, depois de muitos minutos calados.

– As pessoas possuem muito mais aspectos bons dentro de si do que imaginam, Andrew. Tenho a firme convicção de que a maioria das pessoas possui uma natureza boa e os seus defeitos são menores do que as qualidades. Se assim não o fosse, não suportaríamos a vida. Cabe-nos não darmos uma dimensão tão grande aos defeitos, que esses venham a acobertar as qualidades das pessoas.

– Então, devemos ficar cegos diante dos defeitos?

– Não. Mas não podemos permitir que esses defeitos impossibilitem de vermos as qualidades das pessoas.

– Partindo desse princípio, devemos perdoar sempre.

– Sempre devemos perdoar. Muito embora saibamos que o perdão, puramente, não apaga da memória o que nos fizeram de ruim – percebeu que se reportava ao caso dele e de sua esposa.

Andrew ponderou sobre o que Melise falou e, por fim, falou:

– Então, na sua opinião, perdoar sempre, mas as consequências permanecem conforme o tamanho da ofensa. Ou seja, posso perdoar uma pessoa que me magoou e continuar a convivência com ela, dependendo do grau da ofensa. No entanto, também posso perdoar e mesmo assim, excluir essa pessoa do meu rol de amigos ou parentescos. Mas perdoando sempre.

– Sim. É basicamente isso. Não temos o direito de não perdoar. Só temos o direito de escolher com quem conviver.

No fundo, ele sabia que ela tinha razão. Ele experimentara isso na prática ao se afastar de seus pais. Ele não os queria perto para que não influenciassem na educação de Victoria e por causa da conduta reprovável deles. Naquele momento, ele entendeu que não tinha mágoa dos pais. Deu-se conta do motivo pelo qual os afastara de si. E foi um alívio grande poder constatar isso. Foi como se um grande fardo saísse de suas costas.

Depois de alguns minutos calados, cada qual com suas considerações, começaram a falar de assuntos diversos. Até que caíram novamente num silêncio, que dizia muito mais do que qualquer palavra. Era o momento em que a busca do outro se faria presente, se não fugissem dali. Mas nenhum dos dois queria afastar-se. Andrew buscou os olhos de Melise nesse instante e não pôde resistir a ela. Seu corpo tinha vontade própria. Cada vez que descobria algo bom nela, seu coração se enchia de um sentimento grandioso e o reflexo extrapolava o âmbito do platônico. Ele, então, passou os mãos na sua face, e de olhos fechados, como não fosse capaz de enxergar, sentiu cada entrância e reentrância da sua face. Ela fechou os olhos e se entregou àquele toque. Quando seu dedo polegar passou sobre seus lábios, ambos de olhos fechados, apenas sentido as sensações do toque, ela os entreabriu. Foi o fim de Andrew. Ele se perdeu.

Amor ImpossívelOnde histórias criam vida. Descubra agora