Mas ao final de apenas três dias da partida de Melise ele se perguntou porque Victoria ainda não estava aperreando para que ele a levasse à casa dela? Não precisava cumprir tudo à risca, afinal de contas era apenas uma criança e não se cobraria tanto dela caso mudasse os planos traçados anteriormente.
Depois de uma semana, Andrew já estava a ponto de ele mesmo pegar Victoria e levá-la, mesmo que ela não quisesse ir à casa de Melise. Como se fosse possível sua filha não desejar isso! A pobre criança estava tentando a todo custo manter a palavra. Mas, graças a Deus, como toda criança, a razão às vezes falhava e ela se entregou. Na noite do oitavo dia, antes de dar boa noite, ela disse:
– Papai, e se a gente fizesse uma surpresa a Melise? Acho que ela iria gostar se fôssemos visitá-la antes do combinado. Até que enfim um anjo falou pela boca de Victoria. Já tinha demorado demais.
– Quando você quer ir? – perguntou Andrew, suspirando aliviado e abraçando-a delicadamente.
– Não pode ser hoje, então amanhã.
Andrew teve vontade de rir. Porque ele também gostaria de ir naquela noite mesmo. Sua filha, decididamente, era uma aprendiz de feiticeira. Era o cupido em pessoa. Só faltava a flecha. Assim mesmo, ele sabia que ela estava empunhada, invisivelmente, nas mãos dela, somente esperando o momento certo para ser lançada. Que sorte ter uma filha daquela! Com certeza Victoria não teria dificuldades em lutar pelo que queria na vida e isso, longe de irritar Andrew, deixava-o orgulhoso. Se com tão pouca idade se mostrava assim, imagine quando a consciência totalizasse?
– Amanhã, então – assentiu ele.
– Verdade? Logo de manhã, então!
Essa garota era muito esperta. Ela receava que algum imprevisto durante a manhã os impedisse de viajarem e por isso procurou garantir a viagem logo cedinho. Ela só não sabia que isso era tudo que Andrew queria. Será que a surpresa seria boa para Melise, já que não teria tempo de se preparar para esperá-los? Ficaria feliz em ser pega de surpresa? A maioria das mulheres não gostava de ser pegas desprevenidas. Mas Melise era diferente de todas as mulheres que conhecia. Muito provavelmente ela não ligaria para esse tipo de coisa. Se o que leu em seu olhar quando da sua partida fosse verdadeiro, ela ficaria bastante feliz quando ele e a filha chegassem. Aquele último olhar que ela lhe dirigiu antes de partir era de amor. Isso era incontestável. Dormiu contente, após chamar o coche para dar-lhe a instrução necessária para a viagem pela manhã.
~
Havia-se passado apenas oito dias de sua chegada e Melise tinha a sensação de que fazia um mês. Como ela gostaria de nunca precisar despedir-se de sua família! Quando pensava neles era com a certeza de que era a única família que lhe restara, já que a tinham acolhido no momento crucial de sua vida e o relacionamento patrão/empregada havia-se transformado numa amizade genuína. O que são amigos, senão família que nossos corações sabiamente escolhem? A exemplo da primeira vez que chegara ali, Melise jogou-se nas tarefas diárias, deixando a casa e toda a propriedade extremamente limpa, para evitar pensar em Andrew. Tarefa inútil à noite, uma vez que quando deitava a cabeça no travesseiro não conseguia dormir, pois não tinha como evitar lembrar dele. A tristeza que sentia pela saudade de sua família só foi ofuscada pela lembrança de que dentro de poucos dias faria aniversário da morte de seus pais e de seu querido irmão. Conforme os costumes, esse seria o marco para acabar seu luto.
No entanto, sabia que seria difícil, dadas as circunstâncias atuais de sua vida. Era extremamente solitária. Não tinha a que se agarrar para substituir ou amenizar, pelo menos em parte, essa dor. Muito embora nunca fosse esquecê-los e o luto interior nunca acabasse, se houvesse um rasgo qualquer de felicidade em sua vida as coisas seriam diferentes. Mas, conforme os dias iam passando, não via uma possibilidade qualquer de que algo acontecesse para minimizar aquela solidão a curto prazo.
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Amor Impossível
Любовные романыDISPONÍVEL NA AMAZON - Amor Impossível é um romance que tem como principais personagens Andrew Clark e Melise Evans. O ano é 1815 e Hamptonshire, cidade campestre da Inglaterra, é o cenário onde ocorre a fascinante narrativa. Andrew é um lindo viúvo...