A viagem de Andrew

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Andrew viajava calado e preocupado, pois gostaria de ter conhecido a preceptora antes da viagem. Não foi possível, devido a imprevistos ocorridos em suas outras propriedades que o obrigaram a partir antes do previsto, mas confiava na governanta da casa. A Sra. Smith já estava servindo à família há vinte anos, antes mesmo de ele se casar. Portanto, ele sabia que ficaria tudo bem.Quanto a Victoria, esperava que ela compreendesse os motivos que o levaram a partir antecipadamente. Sua filha era bastante inteligente e sempre se mostrou atenta aos problemas do pai. Ela tinha uma capacidade de percepção bastante apurada, chegando a ser um problema, às vezes.

Ainda que não demonstrasse, ele amava muito a filha e achava que ela era a única coisa boa que resultara do seu casamento.Havia casado sem amor, como era costume, apenas para satisfazer aos pais, que o jogaram para um casamento igual ao deles, com a desculpa de que amor era ilusão e o mais importante no relacionamento conjugal era respeito e admiração. Ele não tinha uma coisa nem outra pela falecida esposa. Casou sem amor, sem respeito, e, o pior, sem admiração. Achava que, a partir dessa última, pelo menos, algum sentimento bom poderia se desenvolver com o passar do tempo. Ledo engano. Durante dois anos a vida foi um inferno ao lado de Kaitlin. Ela era fútil e egoísta. Nem mesmo quando ficou grávida evitou exageros que a levariam a uma iminente desgraça. Principalmente o excesso de bebida e de cigarro.Era muito novo ao casar. Com apenas vinte e um anos subiu ao altar com Kaitlin e com vinte e três anos já era pai.

Experimentava um pouco de remorso toda vez que pensava com alívio na morte da esposa, que morrera ao dar à luz a Victoria. Sentia alegria pelo desenrolar do fato, pois o médico dissera que somente ela ou o bebê sobreviveria. Pela primeira vez ele rezou e Deus atendeu, e sua filha foi a sobrevivente.Mas era um remorso leve, uma vez que seria uma ou outra.

Sempre foi muito feliz por ter uma filha doce, compreensiva e inteligente. Mas, às vezes percebia que Victoria ficava um pouco triste e distante. Ele perguntava a si mesmo se porventura ela se culpava pela morte da mãe, uma vez que já havia entendido que a morte daquela ocorreu no exato momento do seu nascimento. Sabia que precisava conversar sobre o assunto com ela para explicar-lhe que ela não tinha culpa alguma. Mas nunca soube como abordar o tema. Os dias se transformaram em semanas, semanas em meses e meses em anos. Longos anos. E agora ele não via como fazer isso. Talvez fosse tarde demais.

Torcia para que a nova preceptora a acompanhasse adequadamente nos seus estudos e quando voltasse contrataria uma professora de francês e uma de piano, como reforço. Na sua opinião toda moça deveria falar pelo menos uma língua além da usual. Nunca achou que as moças deveriam ser fúteis, criadas e educadas apenas para o casamento. Afinal, queria que sua filha casasse por amor, já que ele mesmo não tivera esse prazer e sabia que nunca teria, pois não tinha a menor intenção de casar novamente. Se viesse a considerar essa possibilidade, seria apenas para dar uma mãe a Victoria.

Nunca amou ninguém, e seus desejos carnais eram satisfeitos com diferentes mulheres em relações sem afeto ou intenção de manter vínculo afetivo nem efetivo com nenhuma delas. E continuaria dessa forma. Amor era uma palavra que não faria parte de seu vocabulário algum dia. Mas não queria que a filha tivesse a ausência desse sentimento em sua própria vida. Certamente ela seria feliz se amasse e fosse amada por um homem de bem. Ele não precisaria necessariamente ser um homem rico, mas responsável e de bom caráter.

Ficaria fora por um mês, no mais tardar, dois. Quando retornasse procuraria ser mais companheiro de sua filha. Pelo fato de ela ser uma garota, Andrew não conseguia fazer programações a dois, como certamente faria, caso ela fosse do sexo masculino.

Sempre que se ausentava Andrew fazia promessas de melhoras em relação à filha. Era o efeito da distância e da saudade, pois, quando essas eram suprimidas, continuava o mesmo pai de sempre.

Amor ImpossívelOnde histórias criam vida. Descubra agora