Capítulo 11

485 24 0
                                    

Percorria no meu corpo uma mistura de raiva e medo, raiva por saber que mesmo depois de tudo não sou aceite e valorizada, medo porque quem está mal sou eu e serei eu a ter de sair. Irei voltar às ruas do Porto e procurar uma nova casa. De certeza que não vai ser acolhedora como esta e não terei todo o carinho que tive até hoje.
Comecei por encher a mala com roupa toda enramulhada, mas uma fraqueza instalou se em mim, cai no chão. Não tinha força. Apenas deixei me ficar, haveria de passar.

Eram 8h30 da manhã, acordei no chão do meu quarto. Sim, lembro me perfeitamente de tudo o que aconteceu ontem. Se calhar exagerei, mas ninguém merece passar pelo que eu já passei e não quero voltar a passar. Mas eu sou mulher e sei encarar a realidade e se houver consequências eu vou de certeza arranjar uma solução.

Tomei um duche, vesti algo prático e desci. Estavam todos à mesa, assim que cheguei o Álvaro levantou se.

- Joana, precisamos falar.

- Já calculava. - disse sem emoção.

- Mas primeiro minha querida vamos comer, tas com um ar frágil.

- É só aparência Anabela. - disfarcei, sentei me à mesa e começamos a tomar o pequeno almoço. Troquei um olhar com o André e todo o meu corpo gelou. Como é que este rapaz tem tanto poder assim sobre o meu corpo? Desviei o olhar e olhei de seguida para o Afonso. Este encarou me e baixinho disse:

- Segunda tenho teste de economia...

- Eu ajudo-te a estudar no fim de semana. - disse.

- Obrigado, não to mesmo a perceber nada daquilo.

Apenas sorri.

Depois do pequeno almoço, o Afonso saio com a Anabela. Eu, o André e o Álvaro fomos até ao escritório.

- Já sei o que se passou ontem. - começou- de maneira alguma nós queremos que saias aqui de casa Joana. Já te disse isso.

- Tudo o que ela disse foi antes de eu vir para Portugal, eu não te conhecia e tive medo. Eu estava longe e não podia proteger a minha família. Fiquei de pé atrás. Mas eu mudei a minha opinião, gostava que acreditasses no que estou a dizer.

- E então minha linda... Diz alguma coisa por favor. - pediu o Álvaro agarrando as minhas mãos.

- Eu... - fiz uma pausa, tudo o que queria dizer ficou preso - podemos esquecer aquele episódio. - Foram as únicas palavras que consegui dizer.

Despedi me deles e fui para o meu quarto, agarrei na mala e fui para o carro. Havia um lugar onde eu queria muito ir hoje. À academia! Preciso de libertar este peso e nada melhor do que dançar.

Dancei a manhã toda!

Assim que cheguei, reparei que o André estava na sala com a Sara, entrei sem dizer uma única palavra. Mas para minha infelicidade o rapaz reparou na minha presença.

- Joana? - chamou me.

- Diz. - disse de uma maneira fria.

- Almoças connosco? Estou a pensar ir buscar umas pizzas, vou buscar o Afonso daqui a meia hora e depois passo na pizaria.

- Não, obrigada. - voltei as costas e subi.

Como ia ficar por casa hoje aproveitei para tratar da papelada da academia, tenho de preparar horários compatíveis com os recados que tenho sempre que fazer para o Álvaro. Cada vez temos mais alunos e para angariar algum dinheiro estou a pensar preparar um espectáculo.
Bateram à porta.

- Maninha, posso? - reconheci logo aquela voz, o meu menino.

- Sim, entra.

- A sério que não almoças connosco? 

- Afonso, não leves a mal. Mas também não tenho muita fome.

- Por favor, faz me companhia. - Como é que vou lhe dizer que não? Literalmente está a olhar com carinha de cachorrinho abandonado.

- Afonso...

- Os manos querem muito a tua companhia ao almoço... - fui interrompida pelo André. - vá, não aceitamos um não como resposta. - veio até mim e estendeu a mão de forma a que eu me levantasse. 

Apenas assenti com a cabeça, mas de cara trancada.

Marcas | ASOnde histórias criam vida. Descubra agora