Vilarejo.

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A escola não era muito diferente das casas onde morávamos, o vilarejo não era tão grande quanto as cidades e isso tornava tudo muito diferente, as coisas como, mercados, escolas e trabalhos eram longes uns dos outros, mas a escola parecia ser um lugar agradável para alguém como eu, que nunca tinha ido a uma escola antes.

Não havia pátios ou coisa do tipo como hoje em dia, mas haviam algumas salas muito espaçosas cheias de cadeiras, alguns corredores e banheiros espalhados pelo lugar e muitas crianças e jovens do vilarejo estudavam lá, a maioria deles estudavam juntos a muito tempo, o que me tornava a criança nova, ao menos eu conhecia Marcos, mesmo ele não sendo da mesma turma que eu.

Então as coisas começaram a ficar um pouco diferentes, Marcos me buscava em casa e me levava a escola por conta da distância e no fim da aula, me levava de voltra para casa, ele dizia que meu pai o pedia para cuidar de mim e duas pessoas andando juntas era melhor que uma, eu também não conhecia o lugar muito bem.

Acontece que Marcos desde pequeno era um bom cavalheiro e um protetor nato, então eu permitia que ele me levasse para casa, sem arrumar confusão, mesmo que ele demorasse um pouco mais pra chegar a casa dele por isso, o que me preocupava bastante.

Todos os dias quando chegava em casa era como fazer um ritual, tirar as sandálias sujas, tomar banho e comer a mesa com minha mãe, depois a ajudava a colher as flores e esperava meu pai, enquanto lia mais um dos livros que agora não estavam mais empoeirados.

Naquele dia em especifico meu pai chegou em casa assustado, ele chamava pelo meu nome em desespero como se eu tivesse desaparecido, ido para londe, onde ele nunca mais poderia me alcançar.

Meu pai era um homem de trinta e poucos anos, tinha cabelos negros como a noite e pele pálida como a lua, seus olhos eram escuros quase como os seus cabelos e ele usava uma barba que cobria quase toda superfície inferior de sua face, era alto e forte "como um touro" como minha mãe costumava dizer.

Quando o homem me viu, lágrimas deixaram seus olhos e ele me abraçou como se não tivesse me visto a semanas, ou melhor dizendo, anos.
Eu não conseguia entender o que estava acontecendo ali, então apenas o abracei tentando conforta-lo, dizendo que estava aqui e estava tudo bem, quando minha mãe entrou na sala meu pai foi até ela e também a abraçou, ele parecia um pouco mais calmo.

- o que esta havendo papai? - perguntei.

O homem se ajoelhou ao meu lado, fazendo que ele ficasse um pouco mais baixo do que eu.

- Não foi nada meu anjo. - ele disse afagando meus cabelos. - eu só senti saudades de vocês.

- mas a gente se viu hoje de manha papai e eu não fui a lugar algum além da escola. - comentei, como toda criança e mesmo sem entender, o abracei forte novamente.

Mamãe mandou que eu me arrumasse para dormi e assim o fiz, mas naquela noite, ao sair do quarto para tomar um pouco de água, ouvi uma conversa, que provavelmente não deveria ter escutado.

- O que aconteceu Joaquim você estava palido quando chegou, parecia em desespero. - minha mãe quis saber. Ouvi a porta do quarto ser encostada, mas isso não impediu que eu ouvisse os sussurros de trás da porta do meu quarto.

- Um homem apareceu no trabalho hoje, disse que tinha um recado pra mim de um homem chamado Samael. Ele disse: "não importa aonde a escondam, nos iremos acha-la e quando a acharmos, nunca mais a encontrará."

- Então nos acharam? Teremos que nos mudar de novo? Mas é tao cedo. O que fazemos agora? A menina acabou de se acostumar com a escola, a pobrezinha não merece isso, ficar se mudando o tempo todo na idade que está. - minha mãe parecia aterrorizada.

- Não dessa vez Maria. - afirmou papai. - fiz com que parecesse que nossa família havia acabado de se mudar para outra cidade e voltei correndo pra casa, não podemos deixar Soffia sozinha, prometemos cuidar dela e faremos isso.

Eu não entendia porque meus pais prometeriam cuidar de mim, ainda mais quando eu era filha deles, a quem eles poderiam prometer alem de um ao outro? Aquela foi a conversa mais estranha que já ouvi entre os dois.

Na época eu não sabia, não tinha ideia.

- Lembra Maria, - ouvi o desabafo de meu pai. - quando ela era apenas um bebe... do olhar de desespero que aquelas pessoas carregavam no rosto?

- Mas é claro Joaquim, eles nos entregaram o meu bem mais precioso, eu nunca poderia esquecer.

Minha mãe era uma mulher simples, tinha cabelos negros lisos e olhos verdes como as folhas das árvores, era pequena pra sua idade, mas era muito inteligente.

- não consigo esquecer o que eles disseram amor, aqueles dois, como algo tão ruim poderia ser lançado contra alguém tão pequeno?

- eu não sei. - disse a mulher afagando os cabelos do homem. - mas veja, isso foi a oito anos, talvez não vá acontecer mais, talvez a maldição já tenha sido revogada, não é? Nós vamos ficar bem, você vai ver!

Eu queria voltar no tempo e dizer que eles estavam errados, manda-los me deixarem sozinha no mundo e fugir para as colinas, eu queria poder dizer que minha mãe estava certa e foi isso o que aconteceu, tudo ficou bem...

Eu queria...

Mas não há como mudar o destino...

Anjo MeuOnde histórias criam vida. Descubra agora