Primeiro

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Por alguns anos eu esqueci aquela conversa estranha que ouvi por trás da porta.
Aos treze eu já estava com mais do que apenas um amigo na escola, Marcos que havia crescido e ganhado corpo, trabalhava com o pai nas construções e eu comecei a ajudar a minha mãe na venda das flores.

Em um desses dias a ajudando, descobri que minha mãe não podia ter mais filhos e prometi a mim mesma que cuidaria dela, como ela por tantos anos cuidou de mim, achava triste ter de ser filha única, mas estava tudo bem.

As coisas começaram a ficar mais difíceis de sustentar, meu pai saiu do emprego em que estava e não conseguia arrumar outro, então todos nos passamos a vender as flores e meu pai ajudava o pai de Marcos nas construções as vezes, nós não voltávamos pra casa até vender todas as flores que levávamos e elas viraram o nosso negócio.

Com as dificuldades nem sempre eu conseguia assistir todas as aulas, quase não conseguia mas ver meus amigos por falta de tempo, mas Marcos sempre ia em casa após o serviço que fazia e nós subíamos na árvore mais alta pra olhar o céu e conversar, as vezes ele contava o que aconteceu na aula dele, as vezes só ficávamos bem com a presença um do outro, as vezes dávamos formas as nuvens do céu e sorriamos das bobeira que estávamos pensando.

Algumas das minhas amigas passaram a ir a mesma escola que eu estava, quando seus pais perceberam o quão especial uma escola poderia ser. Algumas até frequentavam a mesma classe que eu, então voltávamos pra casa juntas conversando sobre tudo e sobre nada, mesmo quando Marcos se oferecia para ir comigo, acabavamos indo todos juntos.

Um dia no caminho de volta as meninas relembraram o lago no qual costumávamos nadar, quando menores e nossos pais se reuniam no verão, então assim que chegamos em casa avisámos a nossos pais que iríamos ao lago, deixámos nossas coisas e corremos na grama em meio as árvores, Marcos corria ao meu lado, com um dos mais lindos sorrisos que eu jamais tinha visto em seu rosto, e Luana corria e gritava empolgada em estarmos juntos novamente indo ao lago como nos velhos tempos.

Quando chegámos lá quase sem fôlego, admiramos a vista do lugar, o céu estava um azul claro magnífico, com pinceladas de nuvens brancas dispersas como se alguém tivesse pintado-as la em cima, o sol brilhava por trás das mesmas e trazia um conforto quando seus raios atingiam a nossa pele, o lago brilhava com sua luz e havia pontinhos prateados sob a água, também havia algumas grandes pedras cinzentas que enfeitavam ao redor do lugar, era magnífico.

Olhamos uns para os outros, não podíamos mais esperar, a água nos chamavam e eu não negaria seu pedido.

Removi o vestido, que era na verdade o uniforme escolar e fiquei com roupas íntimas, assim como as outras garotas e os meninos fizeram o mesmo com suas camisas e calças do fardamento. então todos corremos pra água.

Nadar ali era como relembrar a infância, de quando eu falava com os animais mesmo eles não me respondendo e corria pelos jardins caçando borboletas azuis, relaxei o corpo e me dexei boiar de olhos fechados, eu ouvia o som dos meus amigos agitando a água, sentia o sol aquecer minha pele enquanto a água me embalava, sabia que meus cabelos estavam espalhados em sua superfície, sabia que ali, eu era livre para amar o mundo como ele era e me sentia leve, flutuando nas águas daquele lago.

- Soffia, você cresceu bem. - ouvi uma voz sussurrar em meus ouvidos. - tenha cuidado e seja forte, as coisas vão começar a mudar, agora levante-se, saia do lago e corra pra casa. - levantei da água um pouco assustada, mas a voz me parecia famíliar.

Fiquei em pé no lago com água até os seios e olhei ao redor não havia ninguém por perto que falasse com aquele tom de voz, Marcos chegou perto e espirrou agua em mim, com os cabelos molhados e o lago refletindo em seus olhos ele parecia uma anjo.

Anjo MeuOnde histórias criam vida. Descubra agora