la fora

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...

Eu pensava muito no que Anne dizia, eu sentia uma ligação com a médica que me fazia confiar nela mesmo não a conhecendo intimamente, era quase como, sentir algo familiar com alguém que nunca foi proximo de verdade.

Ir lá fora, onde coisas horríveis aconteceram, por um lado eu não queria, mas as palvras martelavam em minha cabeça e, sempre que lembrava delas, também lembrava dos olhos verdes e isso era tão estranho, como se queles olhos conseguissem ver através de mim.

Eu imaginava o que poderia acontecer, se aqueles homens me encontrariam novamente, se estariam me procurando por conta da descrição que eu havia entregue a polícia e terminariam com o trabalho, dessa vez me matando, sem deixar nenhuma prova.

Sentei-me na cama, a dor ja não era tanta quanto um dia já fora, o tempo dentro da casa parecia estar parado, mas eu sabia que os dias continuavam seguindo lá fora.

Por dias meus amigos alternavam as visitas, as meninas traziam chocolates e conversas divertidas sobre as aulas e os meninos, livros pra que eu pudesse sair de casa sem precisar pisar do lado de fora, meu quarto estava cheio de flores, chocolates e livros, eu acompanhava as atividades escolares com cada um deles mas era mais fácil de estudar com Lua, ela era inteligente e divertida, vivia arrumando coisas pra fazer mesmo dentro do quarto, coisas de meninas.

Quando Marcos vinha tentava me tirar um pouco de casa, afirmava que os jardins não eram os mesmos sem mim.

O garoto sempre ficava numa distância segura quando vinha, trazia flores das mais diferentes espécies e conversávamos sobre o planejamento do jardim em sua casa e como ele queria que pudesse haver algumas daquelas flores plantadas lá.

Eu fiquei com algumas cicatrizes mas as marcas roxas ja haviam me deixado, algumas vezes eu olhava no espelho e ainda as via em minha pele e tentava lembrar a mim mesma que não estavam mais ali que não havia mais nada.

Naquela tarde em específico, Lua e Marcos vieram juntos me visitar, a garota era minha melhor amiga desde que eu havia me mudado, tinha os cabelos negros como a noite e olhos de um azul quase cinza de tão claros.

A menina sentou na ponta da minha cama e Marcos na poltrona perto da janela que ele havia virado na minha direção.

- Então Sof, você está pronta? - quis saber Lua que estava um pouco ansiosa pela minha resposta, Marcos que estava recostado na cadeira, mudou a posição encostando os cotovelos sobre os joelhos em expectativa.

Eu olhei pela janela e respirei fundo, o cheiro calmo e conhecido das flores me atingiram e passei as mãos pelos cabelos.

Tentei pensar nos momentos bons que vivemos do lado de fora, a caça as borboletas, os banhos no lago, em como era bom descansar em cima de uma árvore e por fim o beijo que recebi do Marcos no bosque, meus olhos ficaram presos em seu rosto por um tempo, tempo de mais e quando nossos olhares se encontraram eu não soube como reagir.

Aquele beijo que deveria me trazer boas lembranças, apenas me traziam lembranças ruins, tentei não pensar nisso e desviei meus olhos dos dele.

- Você vem Soffia? - insistiu Lua.

Minha mãe apareceu a porta do quarto perguntando se estava tudo bem e acenei que sim.
Uma voz me dizia pra ser forte e seguir em frente, que nada naquele lugar poderia me machucar e eu me apaguei aquela voz, respirei fundo e levantei da cama, abrindo meu armário e tirando um dos meus casacos de frio de dentro dele.

Olhei para meus amigos e ascenti, dizendo que estava pronta para me aventurar pelo lado de fora, se eles estivessem comigo.

Vi um sorriso brilhante nos lábios de Marcos e Lua saltitou, pulando da cama e segurando uma de minhas mãos.

Anjo MeuOnde histórias criam vida. Descubra agora