Casamento

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...

Eu me perguntei o que era um casamento para os humanos, esperava que aquilo fosse algo bom, algo que faria Soffia se sentir mais segura após todas as perdas que sofreu.

Andei de um lado para o outro enquanto ela abraçava os joelhos e tentava controlar a respiração, meu coração estava inquieto, eu não compreendia o que estava acontecendo.

- vai ficar tudo bem, tudo vai melhorar. - eu ficava repetindo pra mim mesmo, mas uma coisa teimava em martelar na minha cabeça.

Alguém estava vindo por Soffia, quando tudo esta quieto de mais nunca é um bom sinal.

Sabia que aquela familia não era real, que Soffia fora criada por eles mas não compartilhavam o mesmo sangue, nem as características. Se os seus criadores tinham conhecimento de sua linhagem, a ponto de a mãe de Soffia a alertar sobre o perigo que corre apenas ao respirar, então... Tinham ciência...

Algo me dizia pra tirar Soffia daquele lugar naquele exato momento, fugir com ela pra qualquer que fosse o lugar, contanto que estivesse segura; contar os segredos de sua familia, abrir os seus olhos sobre o caos futuro, porém, isso seria interferir e anjos são proibidos de interferir na vida e na escolha dos humanos.

Eu já havia errado de mais, sabia que meu pai poderia remover minha áurea a qualquer momento e me deixar para sempre na terra como um desgarrado ou como um que caiu por amor ou qualquer outra coisa.

E eu nem mesmo sei o que é esse tal de amor que faz familias brigarem e anjos serem expulsos dos seus lares.

No meu entender o amor fazia os humanos se protegerem, Marcus ama Soffia, por isso não a abandonou e lutava para ve-la melhor, ele deixava Soffia fazer as próprias escolhas e não a forçava a nem um mal.

Pra mim isso era amor, proteger, cuidar, estar presente e ainda assim deixar livre, como ele fazia, se esse tal de casamento fosse algo parecido com isso, então eu estaria feliz por Soffia e protegeria os dois da melhor forma que pudesse.

Algumas semanas depois de Soffia ter aceitado a proposta de Marcus as coisas ficaram diferentes, sempre que ele ia visitar levava um parente com ele, quando ele não estava lá, uma das amigas de Soffia ficava cuidando dela e conversando sobre roupas e como as coisas estavam indo.

Anie apareceu uma ou duas vezes e as duas mulheres choravam juntas e tomavam chá, falando sobre infância e o que aquilo representava para cada uma.

Percebi então que Soffia seria parte da familia de Marcus e eles seriam como os meus pais, aquilo me fez sentir algo estranho por um tempo, algo que nunca senti, algo que um dia aprenderia mais sobre.

...

Soffia usava um vestido branco azulado, seus cabelos foram penteados e amarrados em um coque alto com alguns dos fios encaradolados desprendidos do todo, sua boca estava pintada assim como seus olhos, estava linda e sorria mesmo que o sorriso não chegasse aos olhos.

Por um momento a encherguei brilhar como anjos o fazem, encherguei suas asas se abrindo e conbinando com o vestido, algo deixou meus olhos enquanto ela caminhava na direção do rapaz, era difícil respirar, doía em algum lugar dentro de mim, mas eu nao conseguia encontrar a causa da dor e ainda assim eu não conseguia entender que era aquele sentimento.

Enxuguei os olhos me concentrando em andar ao seu lado, a protegendo de qualquer uma daquelas pessoas que tentassem a fazer mal.

Marcus foi a seu encontro e tomou seu braço, andando ao seu lado ate um pequeno altar onde um homem ja velho os esperava, ele sorria magnífico nas novas roupas que usava, seus olhos brilhavam com uma luz diferente de qualquer um dos dias anteriores.

Fiquei ao lado de Soffia o tempo inteiro enquanto o homem falava sobre Deus do seu próprio modo e sobre tantas outras coisas, um garotinho de branco veio até eles e lhes entregou um pequeno travesseiro o que não fazia nenhim sentido pra mim, todas aquelas pessoas reunidas, eles esperavam por algo e aplaudiram o garotinho por entregar algo sem nenhum valor.

Então percebi que preso ao objeto haviam dois círculos dourados, uma maior e outro menor, Marcos tomou o menor deles e repetiu as palavras do homem mais velho enquanto colocava o círculo em um dos dedos de Soffia.

- Eu, Marcus Martins, aceito você, Soffia D'Angelu como minha legítima esposa, Prometo amar-te e respeitar-te na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, na saude e na doença por todos os dias de minha vida.

E logo depois Soffia fez o mesmo com círculo e as palavras, o mais velho disse então mais algumas coisas e finalizou com: e com o poder investido a mim, eu agora os declaro Marido e Mulher, pode beijar a noiva.

Não tive tempo de me perguntar o que seria um beijo, quando gentilmente Marcus abraçou uma Soffia receosa e tomou seus lábios para si.

Desaprendi a respirar e talvez até mesmo a voar, esqueci o meu nome e minha visão embasou, seja lá qual era aquele sentimento eu não o queria, eu o rejeitaria com todas as minhas forças, então andei para longe, não me afastei muito, apenas o suficiente para protege-la sem precisar olhar para eles, pois aquilo machucava, machucava de um modo que eu não entendia, machucava como se minhas asas estivessem sendo arrancadas de mim pena por pena, eu não controlava aquela dor e aprenderia que haveriam muitas coisas na terra a qual eu não seria capaz de controlar.

Sentir, era a pior parte de estar sozinho.

...

Anjo MeuOnde histórias criam vida. Descubra agora