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Despois da discussão com meu pai eu levantei voo até o quarto céu, onde morávamos com minha mãe, eu desejava ver a mulher uma última vez antes de ir embora.
Quando cheguei a casa, ela estava tocando a harpa e era lindo, observei minha mãe de longe com os olhos marejados, deixa-la seria uma das coisas mais difíceis que eu faria, pois fora ela que me ensinou a voar e foi com ela que eu passei todos os anos de minha existência e esses momentos iluminavam as melhores lembranlas da minha família.
Eu ainda lembro de quando abri as asas pela primeira vez e como aquilo doeu e pesou nas minhas costas e ela estava lá para me dizer que tudo ficaria bem, lembro o brilho azulado que cintilou de mim, assim como o brilho dela e como ela se emocionou por nossas cores serem iguais, eu estava preocupado com que tipo de anjo eu seria, como eu poderia honrar a mulher que me criou com tanto amor e carinho e o arcanjo mais forte dos sete reinos.
Quando descobri durante o treinamento que eu seria um guardião, minha mãe sorriu feliz e me abraçou, meu pai queria que eu fosse um guerreiro como ele, mas não aconteceu e senti como se o tivesse decepcionado.
Durante o treinamento para guardião machuquei uma das minhas asas e minha mãe estava lá, sempre cuidado de mim, admirando cada um de meus passos, me observando, mandando um vento suave quando eu precisava de ajuda, como anjos de sua classe eram acostumados a fazer.
- Hamiel, filho, esta tudo bem? - questionou a mulher ao notar minha presença, levantando-se da cadeira se desvencilhado da harpa.
- você sabia? - inquiri. - sabia tudo que ele fez e não me contou, me deixou acreditar na perfeição dele.
Pude ver surgir nos olhos da mulher algo que eu não compreendia, algo que eu não achava que os anjos podiam sentir e me perguntei a quanto tempo ela sentia coisas humanas como Gabriel também sentia.
- Quando eu descobri era tarde de mais e eu já não podia fazer nada a respeito. - suspirou e voltou a sentar na cadeira.
- porque continuou ao seu lado? porque não tentou fazer alguma coisa? Porque não me contou mãe? - questionei com os olhos marejados. - você sabe pelo que aquela criança pode estar passando agora?
- Eu fiquei por você Hamiel, eu tentei fazer Miguel revogar as ordens, tentei proteger as lembraças da mulher, mas você o conhece, ele é seu pai e... É mais forte que qualquer um de nós. Eu tive medo de perde-lo filho, eu sei o que se passa em seu coração, mas você também é uma criança, mesmo tendo recebido todo treinamento ainda é joven e eu amo você, não queria que se machuque e acima de qualquer coisa eu ainda amo o seu pai, anjos não amam como humanos, essa ligação é para sempre.
Caminhei até a mulher, me sentei no chão aos seus pés e a abracei apoiando minha cabeça em seu colo.
- eu entendo. - falei. - mas eu preciso fazer algo, não posso deixar aquela garota sozinha e sem proteção quando sei sobre tudo que virá contra a vida dela. - ela afagou meus cabelos e senti em minhas mãos algo humido, quando olhei estava brilhando prateado, minha mãe chorava e eu a segurei firme em meus braços. - não posso continuar aqui e ter tudo quando ela está sofrendo tão perto de mim. Ela como eu e eu vou lutar por ela, para protege-la como todo humano merece. - afirmei.
- Tenho orgulho do que meu anjinho tenha se tornado. - fungou. - você é bom Hamiel, você é bom como Rafael e fico feliz que ele o tenha ajudado a encontrar o anjo que você quer se tornar. Fico feliz por ter tomado uma decisão tão nobre, mas peço que tenha cuidado filho, as crias de Lúcifer estarão atrás dela e de você também por ser filho dele, você deverá ser mais forte que qualquer outro guardião, então volte vivo pra casa, é só o que peço.
- Mãe, - chamei levantando a cabeça e olhando em seus olhos. - eu não poderei voltar, se eu for embora o pai vai me banir e nunca mais poderei voltar.
A mulher segurou meu rosto com ambas as mãos e acariciou minha face enxugando lágrimas que não senti escorrer dos meus próprios olhos.
- Eu nunca vou permitir que ele faça isso com você, você vai voltar pra casa e eu vou proteger você, como toda a mãe faria pelo seu filho e sei que Miguel não seria capaz de banir o próprio filho, ele ama você mesmo que não concorde com suas decisões, mesmo ele não demonstrando ele se preocupa e por isso ele não quer que você se arrisque.
- vou honrar a senhora e deixa-la orgulhosa de mim, eu prometo. - afirmei me colocando de pé, a mulher levantou da cadeira e me abraçou. - eu preciso ir agora, tem uma pessoa precisando de ajuda lá embaixo e estou muito atrasado.
Nos sorrimos a piada, minha mãe beijou minha cabeça e enxugou as próprias lágrimas.
- Eu estarei observando então não faça besteira, vá, antes que eu o prenda sob minha asas. - disse Amitiel ao se afastar do nosso abraço.
- Obrigado por estar sempre do meu lado. - agradeci e virei as costas, eu sabia que olhar para trás me faria ficar ali, em casa, seguro, então abri as asas e voei encarando o horizonte, tendo em mente a menina nas visões, seja lá quem ela fosse se tornar e onde quer que estivesse, apartir daquele momento teria alguém para protege-la, alguém para estar ao seu lado.
Fui até um sentinela que me mostrou onde a garota estava, peguei minha armadura e espada, fiz as marcas do novo guardião com Lian e disse minhas últimas palavras a Gabriel que de tão emocionado não soube o quanto agradecer, apenas me entrego um objeto e disse que se eu precisasse de ajuda era só pedir e ele faria qualquer coisa a seu alcance para ajudar.
Voei para cima e para baixo, desviando de outros anjos e da cidadela, atravessando os véus de cada um dos sete reinos, fugindo dos guerreiros que meu pai enviou para me deter, então senti a pressão e comecei a cair, despencando no ar com as asas firmes e flexionadas me dando impulso pra baixo, o vento batia em meu rosto e jogava meu cabelo pra trás, eu sentia meu coração acelerado e vi a terra se aproximar cada vez mais, os guerreiros não me seguiriam ali, mapeei a cidade em minha mente e comecei a me direcionar a procura da menina, foquei em sua direção e passei a última barreira dos sete reinos.
Cair... É assustador, inesquecível e libertador...
Meu coração estava disparado, sentia minha pele arrepiar, meus olhos estavam embaçados e molhados.Mesmo eu não tendo me machucado na queda, eu sentia como se meus ossos tivessem se partido em milhões de pedaços, meu coração latejava em meu peito, o barulho e as luzes eram assustadores.
Respirar... respirar... respirar...
Eu era de carne e ossos, pele e cabelos, não conseguia parar de chorar, nem calar as vozes ao meu redor, era como sentir tudo de uma só vez e ao mesmo tempo nada.
Respirar... respirar...
Acalmar meu coração era o primeiro passo, limpar o rosto e as lágrimas, respirar, tentar calar as vozes de uma a uma até não haver mais nada, concentração, tentar ficar de pé na terra pela primeira vez, aquela pressão atmosférica era aterrorizante, mas eu precisava continuar, precisava encontra-la.
Eu estava perto, podia sentir.
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Anjo Meu
FantasyUm amor proibido, uma criança amaldiçoada e uma promessa. Quando um arcanjo se apaixona pela criação, algo extraordinário pode acontecer. Contando a história completa de Soffia.