Guardião

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...
Cair... É assustador, inesquecível e libertador...
Meu coração estava disparado, sentia minha pele arrepiar, meus olhos estavam embaçados e molhados.

Mesmo eu não tendo me machucado na queda, eu sentia como se meus ossos tivessem se partido em milhões de pedaços, meu coração latejava em meu peito, o barulho e as luzes eram assustadores.

Respirar... respirar... respirar...

Eu era de carne e ossos, pele e cabelos, não conseguia parar de chorar, nem calar as vozes ao meu redor, era como sentir tudo de uma só vez e ao mesmo tempo nada.

Respirar... respirar...

Acalmar meu coração era o primeiro passo, limpar o rosto e as lágrimas, respirar, tentar calar as vozes de uma a uma até não haver mais nada, concentração, tentar ficar de pé na terra pela primeira vez, aquela pressão atmosférica era aterrorizante, mas eu precisava continuar, precisava encontra-la.

....

Desde pequeno fui criado para seguir os caminhos de um guardião e proteger a criação. Meu pai e minha mãe sabiam que, em pouco tempo o meu protegido surgiria e eu não sairia mais de seu lado, até que seus dias na terra acabassem, pra minha mãe aquilo era assustador, ficar longe do filho por tanto tempo, pro meu pai era minha obrigação e somente assim eu aprenderia as responsabilidades de um anjo, assim como ele aprendeu em seus dias.

Meu pai, o arcanjo no comando dos sete reinos e conhecido como Miguel era muito rígido, seguia as regras que o foram deixadas a risca e por um tempo, ele não me deixava saber o que realmente acontecia nos 7 reinos.

Sempre dizia que eu era jovem de mais pra entender algumas coisas, ele era o mais forte dos arcanjos, tinha cabelos amarelos como grãos de trigo e olhos verdes como o caule de uma rosa, sua presença era intensa onde quer que ele fosse.

Minha mãe, Amitiel, havia passado a discutir com ele sobre algo que me deixava curioso, nem um dos dois me deixavam saber, algo que fez de Gabriel, um dos arcanjos mais infelizes que eu já pude conhecer.

Ela, era sempre gentil e se preocupava com a gente, (mesmo sendo anjos e estando seguros com os celestiais), tinha olhos azuis como diamantes e longos cabelos negros que dançavam com o vento, meu pai tinha sorte em ser amado por ela, era o que ele sempre dizia.

Com duvidas sobre minha criação e com tantos segredos entre minha família, decidi ir até o exílio, onde Gabriel estava a alguns anos, para conversarmos.

O arcanjo estava totalmente diferente de quando o conheci, seus olhos azuis já não possuiam o brilho do universo, eles pareciam cansados, os cabelos castanhos como grãos de cacau estavam espalhados, grudados por toda extensão de seu rosto e desciam até os ombros, sem aquela superioridade dos cabelos compridos e trançados dos arcanjos como meu pai, eu conseguia ver a fragilidade em seu corpo e ele ja não mantinhas as asas (que eram brancas como as nuvens) abertas ao redor de seu corpo, ele parecia um humano.

Por respeito a seu estado fechei as minhas asas e as manti fora de sua visão, o brilho do arcanjo estava fraco como se ele fosse um simples anjo da classe ajudante.

Ele estava encostado em um dos muitos pilares do salão das visões, com a cabeça baixa olhando para algo em suas mãos.

O lugar não era muito bem iluminado e acho que por escolha do próprio arcanjo, era um lugar vazio de paredes brancas e teto alto, ficava distante de tudo e de todos. As paredes brancas eram como telas e eu já tinha ouvido falar delas antes, ( aquele que tocasse a parede poderia mostrar coisas que ja viu, viveu ou presenciou aos outros com quem possui ligação.) quase como os espelhos dos sentinelas, mas os espelhos deles mostravam o mundo todo em tempo real, no futuro ou no presente e as paredes mostravam o passado, para que Gabriel visse algo e não pudesse fazer nada para o mudar. Junto com o espelho dos sentinelas você poderia ver de tudo.

Anjo MeuOnde histórias criam vida. Descubra agora