...Nos dias que se passaram Soffia aprendeu a cuidar de tudo na casa sozinha, continuou com a venda das flores com a ajuda de Marcos e alguns amigos da escola.
Maria parecia estar melhorando, mas a tosse não parava e isso deixava Soffia assustada.
Eu achava que por Israel ter dado sua vida a Maria, ela ficaria bem e saudável, mas pelo que eu via a mulher aos poucos se despedia da filha sem que a menina percebesse.
Talvez o veneno tivesse sido muito forte, ou as forças de Israel já não eram as mesmas por estarem no fim, eu tinha medo do que poderia acontecer caso Soffia ficasse sozinha no mundo e ter tomado a decisão de me mostrar a ela e seus amigos aquele dia pode não ter sido a melhor que eu já tomei.
Eu sabia que só não fui condenado como os que cairam por amor, por conta de minha mãe, ela me protegia das decisões do arcanjo. Eu sentia falta da mulher que me criou todos os dias, sentia falta até mesmo de meu pai, mas eu tinha uma missão e um guardião nunca volta atrás com suas escolhas
Fiquei ao seu lado todos os dias sem me mostrar novamente pelo o que os humanos chamam de alguns meses, vi a garotinha assustada de treze anos se levantar da cama todos os dias como uma mulher que daria o sangue pra cuidar e proteger a mãe e a casa em que morava.
Notei a aproximação do menino Marcos e seu interese em Soffia, eu esperava que ele fosse um bom homem caso ela o aceitasse como parecia que ele a queria.
Marcos vinha quase todos os dias, pegava as flores que Soffia colhia nos jardins e levava a venda, retornava com o dinheiro e o entregava a garota, ele fazia a feira da casa e cuidava dos remedios de Maria, era um bom rapaz e Soffia sabia disso.
Ele veio com um bolo um dia e cantou uma musica meio animada de mais a Soffia, ela agradeceu o gesto e dividiu o presente entre os três, só então entendi que a menina de treze agora tinha quatorze, o tempo humano as vezes me confundia.
Maria tinha dias bons e ruins, nos dias bons ela quase não tussia e ajudava Soffia, ensinando o que a mais nova precisava saber sobre a vida e os negócio, ficavam juntas e conversavam sobre como tudo havia mudado de repente, depois Soffia lia para a mãe e dormia a seu lado.
Nos dias ruins, Maria não levantava e tossia sangue a cada cinco minutos, deixando Soffia apreensiva andando de um lado pro outro e tentando esconder as lágrimas.
Eu contei cada um dos seiscentos e sententa e oito passos que a garota dava enquanto andava de um lado a outro no quarto de sua mãe esperando que algo milagroso acontecesse, ou que Marcos chegasse com a medicação.
Enquanto ela contava as horas em desespero pelo garoto de cabelos amarelos, eu contava os seus passos me perguntando se seu coração aguentaria se quebrar mais uma vez.
Quando enfim a porta se abriu e o menino molhado de chuva entrou na casa tirando o casaco, entregando a Soffia o dinheiro das flores e o medicamento a menina o agradeceu e respirou aliviada, deixando um beijo na bochecha do garoto e saiu correndo para o quarto com os remédios em mãos.
Eu me perguntava porque o garoto cuidava dela, aquele era meu trabalho e não dele e porque ele ganhava beijinhos?
As vezes eu queria dizer a Soffia pra se proteger, se afastar, mas algo me dizia que aquilo era errado.
Eu não tinha noção da confusão que se instalava na mente e no coração de um guardião, não poderia dar nome a sentimentos, nem conseguiria entende-los.
As vezes eu queria levar Soffia a um lugar seguro, ao meu lar, a apresentar a sua real família, mas sempre me lembro o quanto seria devastador para ela saber a verdade, sabe que não poderia ser feliz até que se completa-se as provações.
As vezes eu também andava de um lado para o outro, mas andar não me ajudava a pensar, só me deixava mais inquieto.
Tudo estava calmo demais, os ofuscantes não apareceram mais, outros anjos não nos atacavam nem mesmo a cria de Lúcifer e eu sentia que algo ruim estava para acontecer.
Estava calmo demais e tempestades sempre surgem em dias calmos.
Marcos sentou ao lado de Soffia enquanto a mãe da menina descansava.
Ele segurou suas mãos e olhou fundo nos seus olhos, parecia estar nervoso.
- Sof. Eu gostaria de falar algo e quero que pense bem no que eu disser tudo bem? - perguntou e a menina assentiu.
- eu não consigo esquecer aquele beijo depois do lago, antes de tudo acontecer, você é alguém muito especial pra mim, eu queria dizer que eu sempre estarei com você não importa a situação, que no meu mundo se você não existisse eu não conseguiria ser feliz. - fez uma pausa e beijou as mãos da menina.
- Eu a amo Soffia, eu não sei porque ou quando aconteceu, mas eu amo e disse isso a meus pais, eles tem dinheiro e condições e um dia eu também terei as mesmas condições, estou estudando me preparandopara isso, eu posso cuidar de você se me permitir, eu nunca a machucaria ou faria algo para lhe ferir.
- Marcos o que queres dizer com tudo isso? - Soffia questionou um pouco confusa.
- vivemos quase como um casal você e eu e se algo acontecer a Maria eu queria que ela soubesse que você está segura, comigo, então... Sof... Sei que ainda somos muito jovens, mas... Você quer se casar comigo? - perguntou o garoto, tirando do bolso da calça uma caixinha azul escura com um formato esquisito e então a abriu.
Seja la o que havia na caixinha assustou Soffia, seus olhos marejaram e a respiração ficou diferente, então me aproximei do objeto pronto para defende-la se ele atacasse.
Mas Soffia apenas segurou a caixinha e a fechou, enxugando uma das lágrimas que deixavam seus olhos.
- Marcos, não quero que se case comigo por pena ou por obrigação, você é meu melhor amigo e eu também o amo, agradeço por tudo o que tem feito por nós duas, mas não sou a mulher certa para você e quero que você seja feliz.
- mas eu sou feliz, com você, não estou sendo obrigado e não tenho pena Soffia, eu apenas a amo completa e incondicionalmente, eu posso lhe dar o mundo se quiseres, tudo que eu peço é que também me ame e fique ao meu lado em todos os momentos que se seguirem de hoje em diante, mas se não me quiser eu entendo, vou continuar do seu lado não importa o que aconteça Sof. Você tem meu coração.
- eu.. Eu não sei o que dizer. - Soffia gaguejou e levantou indo em direção a sala, com Marcos em seu encalço, mexendo nas mechas encaracoladas dos próprios cabelos, começando novamente a andar de um lado para outro.
Marcos levantou e a girou de frente para ele, olhando no fundo de seus olhos, com as mãos tremulantes e olhos reluzentes.
- Apenas diga que sim e eu seria o homem mais feliz do mundo, sei que somos jovens, não precisamos nos casar hoje e nem esse ano, mas assim você sempre teria alguém por você, eu realmente a amo e quero ser esse alguém, o que me diz?
....
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Anjo Meu
FantasyUm amor proibido, uma criança amaldiçoada e uma promessa. Quando um arcanjo se apaixona pela criação, algo extraordinário pode acontecer. Contando a história completa de Soffia.