A TEORIA DA ROTINA

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Bem, eu, particularmente, não sou chegado à essa palavra, excluído. Mas, eu irei usá-la. O motivo? Em filmes adolescentes americanos, os moleques que não fazem parte de nenhuma panela, usam óculos e aparelhos, tem espinhas e essas coisas, são chamados de "nerds". Pelo amor de Deus! Vamos mudar um pouquinho isso! Talvez, excluído seja uma palavra menos clichê, e talvez se encaixe mais com a história. Irei, então, contá-la assim...

Eu estava na escola. Era um dia de outono, mas isso não importa. Era hora do recreio, e como numa escola de ensino médio, é costume ver adolescentes excêntricos, rindo alto de piadas vulgares, naquele dia não foi diferente. Mas, espere aí... Quem é aquele ali sentado no banco, olhando para o nada, apenas mexendo os dedos das mãos de forma agonizante? Ah, aquele ali era eu... Sendo... Eu. E o lance do dedo das mãos é devido a um pequeno distúrbio chamado tricotilomania, um nome grande pra cacete que tem uma definição ridiculamente simples: é quando a pessoa faz movimentos repetitivos em apenas um ponto do corpo devido à ansiedade (sem trocadilhos, por favor). Mas, havia algum motivo para eu estar olhando para o nada? Havia sim, e era...

- Não é mesmo Abrahão? - disse Martins olhando para mim e interrompendo meu raciocínio.

- O que? - perguntei "voltando" para a realidade tentando entender o assunto.

- Nós precisamos arranjar garotas - disse Xê. - Que sejam gostosas. Estamos no ensino médio.

- Pode ser - disse Martins -, mas é melhor esperarmos um pouco antes de tomarmos qualquer decisão precipitada.

- É meu ovo! - disse Xê de forma agressiva.

- Por que? - se zangou Martins.

- Eu não sou gay! Preciso arrumar uma garota por isso! Não sei porque não consigo!

- O que ser gay tem a ver em arrumar uma garota agora e evitar tomar decisões precipitadas?

- Ah, Martins! Não dá para conversar contigo.

E então comecei a rir.

- Posso saber do porquê de você estar rindo? - perguntou Xê aparentemente furioso.

- Eu sei porque você não arruma ninguém.

- Me diga - ele ainda estava irritado.

- Nenhuma garota quer ficar com um garoto que seja conhecido como "xereca".

Martins começou a rir também e também começou a fazer trocadilhos com o apelido dele.

- Nenhuma garota ia querer ficar com um cara que... Se depila!

Eu não aguentei, comecei a gargalhar, e Xê começou a reclamar, saindo de perto de nós.

- Será que ele ficou irritado? - perguntei pouco me importando.

- Ele fica irritado a toa.

Martins sempre foi um grande fechamento. Essa breve história começa quando eu estava no Jardim 1 (isso mesmo, quando eu tinha por volta de uns 3 aninhos de idade), onde eu conheço um garoto chamado Khaleb. Com um nome difícil desses, deixa até uma dúvida se ele realmente é brasileiro. Mas sim, ele é, nasceu em Bangu. Khaleb sempre ia para as mesmas escolas que eu, e sempre foi um cara firmeza comigo, até quando eu tinha uns 8 anos, quando ele começou a tomar outros caminhos. Mesmo com a gente sendo tão ingênuo, ele já se envolvia com diversos pivetes que pertenciam ao lado obscuro da sala de aula, o submundo sem lei das salas de aula. E assim foi. O problema, é que ele foi perdendo sua ingenuidade, e eu continuei com a minha, o que me levou a acreditar que ele era a mesma pessoa, mas não era. Depois de um tempo, ele começou a me desprezar, e eu não notava isso, até que... Conheci o Martins. No 6º ano do ensino fundamental, quando eu estava com 10 anos, pronto para chegar aos 11. Nessa época, ele era o aluno mais jovem da sala, e até hoje é. Martins era um conhecido do Khaleb, quer dizer, era a mãe do Khaleb que levava o Martins para a escola.

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