Apesar de eu ter tido uma rara oportunidade de estar junto a Alma, na noite anterior, eu acabei dormindo pensando no que eu havia visto. Tipo, pense comigo, a namorada do Xê era na verdade uma pessoa imprestável e apenas eu sabia, a mesma coisa poderia estar acontecendo comigo. E se Alma estivesse apenas fingindo ser minha amiga, falando mal de mim pelas costas, ou talvez espalhando por aí de como me iludi por ela. Ao invés de pensar só nisso, pensei numa maneira de contar tudo ao Xê, mas também pensei na possibilidade de que isso não poderia dar muito certo.
♦️
Vamos jogar vôlei hoje? Havia uma quadra perto da casa do Martins, mas ele nunca me chamou para jogar algo lá, já que nunca gostou de esportes. Eu achei aquilo meio estranho, mas como nas férias eu não o vejo muito, eu fui.
Ao chegar lá, ele estava segurando uma bola de vôlei, jogando de uma mão para outra.
- E aí, mano, beleza?
- Beleza - respondi.
Ele ficou ali, parado, jogando a bola de um lado para o outro, então comecei a estranhar.
- Está tudo bem?
- Sim - respondeu ainda na mesma posição.
- Tem certeza? - insisti.
- Tudo bem - respondeu.
- Tudo bem. Vamos jogar.
Entramos naquela quadra de concreto com o chão bem fresco, devido ao clima agradável do inverno tropical.
- Mas aqui não tem rede de vôlei.
- Verdade - respondeu como alguém desavisado - Então vamos só jogar a bola de um lado para o outro mesmo.
Achei meio estranho, mas concordei. Começamos a jogar a bola um para o outro, e depois de um minuto, ele puxou um assunto.
- Mano, você é meu amigo, certo?
Não hesitei e respondi:
- Sou sim.
- E posso contar tudo para você, não é?
- Claro que sim.
- Então lhe dou uma dica de amigo - disse segurando a bola -, Alma não é uma pessoa para você.
- Como assim? - falei sorrindo, não levando aquilo muito a sério.
- Sei lá, ela não é o tipo de pessoas que gostamos.
Retirei o sorriso no rosto, e minha expressão de descontração deu espaço à dúvida cruel.
- Como assim?
- Tipo... Gente como os playboys... Danilo, as pessoas que andam com ele... - deu uma pequena interrupção, até que terminou o que queria falar -... Alma.
Pensei um pouquinho até que me liguei no que estava "rolando".
- Você me chamou aqui para poder falar isso?
- Não! - respondeu firmemente - Sim - respondeu logo em seguida.
- Cara, por que você está fazendo isso?
- Porque eu estou sentindo que estou perdendo você! - respondeu.
- Deixe de ser estranho! Alma é uma garota! Você é meu amigo!
- Sério? Mas não é que parece! Ela não serve para você, cara! Esqueça-a!
Achei aquilo meio estranho, mas foi então que minha mente conseguiu assimilar tudo e consegui encaixar todas as peças e chegar num ponto.
- Mas que merda, cara... - respondi -... Você está com inveja!
Ele abaixou a cabeça e não respondeu nada.
- Não é, Martins? Você disse que perdeu o Xê, agora você está dizendo que está me perdendo. Você está com inveja de nós!
- Estou sim! - gritou irritado - Estou sim, por que?! É culpa minha de que minha vida é uma merda?! É culpa minha que ninguém gosta de mim?! - colocou uma pequena pausa no discurso, mas logo em seguidad continuou - É culpa minha que eu não tenho ninguém? - falou de forma mais desolada.
Não respondi nada e fiquei encarando-o, por um momento, pensei em dizer a ele o que vi a respeito da Luma na noite anterior, mas isso poderia não dar muito certo, já que por coincidência - ou não -, a Luma morava bem próximo a casa dele, ou poderia acontecer algo que sairia do controle.
Não respondi mais nada. Apenas respondi:
- A vida é vivida da forma que cada um quer viver.
Ele passou a mão no rosto e disse:
- Sério? Você não falou isso... Isso é a mais pobre das filosofias.
- Não vou mais discutir com você! - falei virando as costas para ele.
- Vai lá! - gritou - Vai! Vai correndo para sua amiguinha raparinga!
E então parei de andar. Uma raiva começou a me tomar de maneira que eu nunca senti antes! "Raparinga"? Isso é sério? Ele falou isso mesmo? Aquela inveja dele já estava chegando em seus limites. Ou melhor, chegou em seus limites, e eu precisava acabar com aquilo. Impedir com que ela ultrapassasse os limites e causasse um grande estrago, maior do que já estava causando. Me virei, olhei para ele e disse:
- Retire agora o que você falou!
Ele sorriu de forma diabólica e disse:
- Ela deve ser igual dinheiro... Passou na mão de várias pessoas!
Com aquelas palavras, não consegui me segurar e parti para cima dele. O empurrei e acabei levando-o ao chão, e quando ele estava ali, caído, levantei um punho para dar um soco nele e falei:
- Não... Não vou fazer isso! Você é meu amigo, só está com a cabeça cheia de mais e está confuso.
Estendi a mão, e ele se segurou e se levantou.
- Nos vemos outro dia, cara! - falei dando uns tapas em suas costas.
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A Teoria Da Cor Vermelha
Ficção AdolescenteA ficção mais real do Wattpad! Utilizando a linguagem "padrão" do tema de ficção adolescente e romance adolescente, A Teoria Da Cor Vermelha usa isso de forma irônica para contar a história de Abrahão, um jovem, que sofre bullying na escola, e possu...