A TEORIA DA VERGONHA

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Giulia era uma garota que estudava em nossa antiga escola. Ela fez conosco o oitavo e o nono ano.

Naquele período, ela iria fazer aniversário, o de 15 anos, que para uma garota é como se fosse um dia sagrado, posso dizer assim, e ela havia convidado quase todos da nossa turma antiga... Menos eu. O Martins iria na casa dela para poder pegar o convite, e de lá, ele iria para nossa antiga escola, para fazer uns negócios e resolver algo com a coordenadora, sei lá. Eu só iria acompanha-lo, e a casa da Giulia ficava bem perto da instituição.

Eu me sentei em um banco quase no final da rua enquanto Martins ia na casa da garota. Fiquei bem longe do campo de visão dela porque seria uma situação bem chata, pelo fato de ela não ter me convidado... E por aí vai... Acho que vocês entenderam.

Mesmo sentado a uns cem metros da casa dela, deu para ver que logo após ela entregar o convite a ele, o abraçou forte, e logo depois, ele começou a descer a rua indo em minha direção.

- Nossa, hein - o provoquei. - Ganhou um abraço da Giulia.

Ele riu tímido e falou:

- Bom, vamos.

Enquanto nós andávamos em direção a escola, que não ficava muito longe, Martins disse:

- Cara... Você vai esperar até os dezoito anos para perder a virgindade?

Sorri e falei:

- Que pergunta é essa?

- Não, eu só quero saber mesmo.


O professor da matéria de Redes faltou. A matéria de Redes de Computadores é meio que uma disciplina que faz parte do curso de informática. E o professor era o Coutinho, conhecido como "Claytonho" (não pergunte). Ele nunca faltava, mas daquela vez ele faltou, e a sala de aula virou uma bagunça absurda, com alunos subindo sobre as mesas, gente batendo em outras pessoas, e muita gritaria. Geralmente, quando alguns professores faltam, entram substitutos para ficar em seu lugar, e dar a matéria chata que o professor iria nos passar, mas, naquele dia, já iria fazer uns vinte minutos que a aula havia começado, e nenhuma pessoa, aparentemente responsável, como um professor substituto, havia entrado na sala... Pelo menos nós achávamos isso.

Michael, o diretor do colégio entrou, e todos no exato momento voltaram para suas carteiras numa velocidade assustadora, e de repente se calaram. Ele chegou e ficou na frente de todo mundo.

- O que o Guilherme está passando para vocês? - perguntou Michael.

Guilherme era o professor doidão de biologia que amávamos, e que naquele período, estava passando matérias sobre os órgãos genitais.

- Órgãos genitais - um garoto respondeu.

- Certo.

E então um silêncio esquisito tomou a sala e ele ficou parado, olhando para baixo, parecendo até que estava pensando.

- Tudo bem - disse cortando o silêncio. - Vocês vão fazer o seguinte...

O que ele havia passado era quase inacreditável, e nenhum professor, ou muito menos diretor faria para nós fazermos algo daquela natureza... Pelo menos achávamos. A tarefa era escrever cinco nomes bizarros que damos ao pênis e cinco nomes bizarros que damos a vagina. Sim! Ele passou exatamente isso! E ainda pediu para nós nos reunirmos em 3 grupos. Em meu grupo, ficou várias pessoas, incluindo Matins, Xê, Luma e Alma. Alma se sentou perto de mim e disse:

- Isso aqui pode ser considerado um trabalho, certo?

Eu ri e falei:

- Mais ou menos.

- Podem começar! - disse Michael.

- Diretor Michael... - disse Vitor levantando a mão - Pode escrever palavras chulas?

- Tipo pau? Pode sim.

- Vamos nessa - disse Martins. - Pênis...

- Pau - disse Xê.

- Pinto - disse Alma.

- Passarinho - (passarinho para não escrever outra coisa... Reflitam).

- Abrahão - disse Martins -, falta você.

E todos do grupo começaram a olhar para mim. Meio sem jeito, respondi:

- Giromba!

E todos começaram a rir.

Martins começou a escrever cada nome que íamos citando, e assim, nós riamos da situação embaraçosa que o diretor nos colocou. De uma forma ou outra, aquilo tudo era hilário.

- Representante de todos os grupos aqui na frente com a folha.

Duas pessoas e Martins se levantaram, e ficaram na frente da turma toda.

- Leia em voz alta o que vocês escreveram.

E ali, o garoto que estava com o papel na mão travou. Perceptivelmente deu para perceber uma vergonha ali.

- Para escrever o negócio vocês riem, né? Agora fale - disse Michael.

Todos ficaram quietos e o garoto começou.

- Pênis: giromba, o grandioso, bilau, terceira perna e musculoso!

E todos riram loucamente. E ele continuou.

- Vagina: capô de fusca, queridinha da mamãe, pepeca, preciosa e lindinha.

Não deu para segurar, todos começaram a rir loucamente. E depois que esse terminou, outro foi lá na frente.

- Pênis: Grandioso, o forte, jeba... Vagina: perereca, túnel...

E todos riram. E depois foi o representante de outro grupo.

O porquê de eu estar contando essa história. Continue lendo que você vai entender.

Depois que acabou aquela apresentação de palavras vulgares o diretor falou:

- Bom, nós rimos, nos divertimos, agora é hora da parte séria. Vocês têm noção do que escreveram?

E todos retiraram o sorriso do rosto e ficaram quietos.

- Para pênis, houve "o grandioso", "o musculoso", "o forte"... Engrandecendo o órgão sexual masculino. O mais impressionante é que para vagina houve "capô de fusca", "túnel", "perereca"... Onde estou querendo chegar com isso? O que eu quero dizer é que os homens até em brincadeiras acabam rebaixando as mulheres. Apesar de não parecer, essas palavras são extremamente machistas, e é muito bom, vocês, alunos, entenderem isso.

Ninguém mais riu. Houve trocas sutis de olhares envergonhados, e o diretor fez uma simples pergunta:

- Vocês entenderam?

E de repente, depois de uns segundos de silêncio, houve uma salva de palmas, puxada por Alma.

A Teoria Da Cor VermelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora